domingo, 13 de julho de 2014

Novos caminhos sonoros - Eduardo Tristão Girão

Novos caminhos sonoros 
 
O vibrafonista Antonio Loureiro e o violinista Ricardo Herz lançam disco que valoriza o diálogo entre os instrumentos, com obras autorais e temas de Gismonti e Guinga 

Eduardo Tristão Girão
Estado de Minas: 13/07/2014


 (Cario Palazzo/Divulgação )


“Se você digitar vibrafone e violino no Google, vai achar praticamente nada. Só tem a gente tocando”, conta o vibrafonista Antonio Loureiro, sem qualquer pretensão em sua fala. Ao lado do violinista Ricardo Herz, gravou um dos discos mais inquietantes do ano, Herz e Loureiro. Sem banda acompanhando, apostaram nesse duo incomum para apresentar temas próprios e visitar compositores como Egberto Gismonti e Guinga.

Não é um disco para aquela audição distraída. Ainda que não seja um trabalho difícil, Herz e Loureiro requer do ouvinte atenção para captar as melodias, dinâmicas e soluções pensadas para violino e vibrafone. Naturalmente, Loureiro se encarrega das harmonias e Herz, em alguns momentos, assume a função de percussionista pela forma como toca – há vários outro pontos interessantes no trabalho. Alguma similaridade com a música de câmara não é mera coincidência: ambos tiveram essa formação.

Loureiro contribui com quatro peças e Herz com duas. Juntos, escreveram apenas uma, Por cima da barra, que é um dos pontos altos do trabalho não apenas pela qualidade da composição em si, mas também pelo esmero na execução. De Gismonti, pinçaram Cego Aderaldo, cuja gravação original tem o indiano L. Shankar, virtuose do violino. A dupla recriou também Sambito, de Lea Freire, e Baião de Lacan, de Guinga e Aldir Blanc.

As gravações duraram quatro dias e foram realizadas em São Paulo, no estúdio do pianista André Mehmari, produtor musical do disco. “André ajudou a gente a encontrar a sonoridade do disco. Ele trabalha muito no meio erudito e produz muitos discos. Foi essencial”, conta Loureiro. Houve pouca intervenção na sonoridade do registro original, conta ele, que tocou na mesma sala que Herz, isolado apenas por biombos.

Limpeza
“Foi simples, pois trabalhamos juntos há muito tempo. Conheci o Herz numa viagem a Paris e lá pensei em formarmos um duo, sem pensar nessa coisa de que não existem duos de vibrafone e violino. Pouco depois de ter me mudado de Belo Horizonte para São Paulo, começamos a tocar juntos. Fazemos muitas apresentações e, com ou sem data na agenda, ensaiamos muito. Hoje me parece natural fazer esse som. Temos liberdade, nos ouvimos muito e nem precisamos estar plugados para tocar”, lembra Loureiro.

As trajetórias distintas se encontram na formação erudita. “A gente, quando fala em sonoridade, toca em questões particulares dos universos erudito e popular, temos bagagem nessas duas áreas. Um exemplo é a limpeza dos fraseados. Fora isso, muitas vezes tocamos sem improvisação, como se fosse uma peça camerística. Aliás, algumas faixas realmente são assim. É algo bem livre mesmo”, diz o vibrafonista.

Sampa e NY

Ricardo Herz e Antonio Loureiro pretendem continuar tocando juntos e não descartam a ideia de gravar outro álbum. Por enquanto, os shows de Herz e Loureiro estão restritos a São Paulo, mas a intenção é rodar pelas capitais. Coincidentemente, eles estarão em Nova York, nos Estados Unidos, em setembro – Loureiro com a cantora Tatiana Parra e Herz com seu trio – e deverão aproveitar a oportunidade para agendar uma apresentação por lá. “Gravação alimenta show e vice-versa”, diz o vibrafonista.

Todas as faixas

» Baião de Lacan, de Guinga e Aldir Blanc
» Mosquito, de Antonio Loureiro
» Por cima da barra, de Ricardo Herz e Antonio Loureiro
» Sambito, de Lea Freire
» Saci, de Ricardo Herz
» Cego Aderaldo, de Egberto Gismonti
» Hipnose, de Ricardo Herz
» Quinem quiabo, de Antonio Loureiro
» Lamento, de Antonio Loureiro

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