quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Eduardo Almeida Reis - Bichos‏

Bichos

Dá para imaginar a cena doméstica. Dois mamíferos pouco inteligentes, o bípede triste fumando charutos, o quadrúpede deitado no chão da casa

Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 13/08/2014


Nunca morri de amores pelos bichos domésticos; isso não obstante, todos parecem gostar de mim. Talvez seja o cheiro dos charutos ou do leite de rosas, que frequentou meus sovacos durante séculos. À noite, a explicação é o ribombar do meu ronco. Nos acampamentos pantaneiros de caça, a matilha inteira dormia em volta da minha rede.

Anos atrás, forçado a ornejar diariamente sobre futebol, andei numa tristeza que o leitor nem pode imaginar. Preocupada, minha bela companheira, que precisava sair de casa para trabalhar, recomendou a compra de um cachorro que me fizesse companhia. Pensei num bulldog, mas fui procurar no ranking de inteligência canina e a raça está em 77º lugar entre as 79 avaliadas por Stanley Coren no livro The Intelligence of Dogs. A lista abrange cento e muitas raças, mas há diversas empatadas num mesmo patamar, como no 46º lugar: tibetan spaniel, foxhoud inglês, otterhound, american foxhound, greyhound e a griffon de aponte de pelo duro. A american foxhound era a preferida nas
caçadas pantaneiras.

Dá para imaginar a cena doméstica. Dois mamíferos pouco inteligentes, o bípede triste sentado numa poltrona fumando charutos, o quadrúpede deitado no chão da casa belo-horizontina babando no piso de ipê-tabaco. De acordo com o psicólogo veterinário Stanley Coren, as raças de cachorros mais inteligentes são, pela ordem: border collie, poodle, pastor alemão, golden retriever, dobermann, pastor de shetland, labrador, papillon, rottweiler e australian cattle dog.

Outro animal está entrando em moda nesta República Federativa. Não é barato: custa de 25 mil a 60 mil reais. Emerson Sheik, jogador de futebol, Ricardo Almeida, alfaiate do Lula, e Renata Scarpa, irmã do Chiquinho, já compraram os seus. Inspirados nessas celebridades, presumo que muitos brasileiros estejam na fila das encomendas dos macacos-prego vendidos pelo criador Vilson Zarembski. Como é possível viver sem um macaco-prego? Ricardo dorme com o dele na cama, Emerson tem uma babá só por conta do mico-de-topete e Renata, irmã do notório Chiquinho, tem um quarto para o seu amado macaquinho. Pensando bem, o bulldog babão seria maluquice menos grave.


Pátria amada

Mastigar um dos últimos biscoitos do atual estoque belgo-mineiro, recheado com jabuticaba, é bela ocasião para philosophar sobre a Copa das Copas, assunto que já conseguiu encher o saco da brasilidade. Não sei se o leitor atentou nos cabelos e nas tatuagens dos jogadores da Alemanha. Não havia um que não tivesse os cabelos cortados feito gente, sem as jubas indecorosas, inestéticas, presumivelmente pouco limpas de muitos atletas de outras seleções.

Dois atletas alemães exibiam tatuagens pequenas; ainda assim, condenáveis como toda e qualquer tatuagem. Só um tem tatuagem grande, mas é alemão de primeira geração, filho de turcos e se recusa a cantar o hino do país onde nasceu, foi criado e ficou rico: chama-se Mesut Özil. Mesut nunca foi nome alemão. Outrossim, não me lembro de ter visto um só atleta germânico usando brincos.

Mas o saldo, o legado turístico da Copa foi extraordinário. Depois de trabalhar com um número da ordem de 600 mil turistas com suas barracas e raros tostões nos bolsos, o governo concluiu que o número exato foi de 1.015.035, retificando logo depois para 846.699 vindos de 202 países. A ONU tem 193 países membros e os outros nove correm por conta da Fifa e da imaginação do nosso ministério do Turismo.

Admitamos que uns 15 mil fossem caixas-altas, como o ex-namorado de Luciana Gimenez, ou aquele sheik árabe, que aportou seu iate no Rio, além dos donos das centenas de jatinhos que andaram avoando por aqui. Os restantes são do padrão da dupla vista neste caderno Gerais, pág. 16, edição de 14 de julho: o engenheiro mecânico Ernesto Veintimilla, de 31 anos, e o biólogo Andrés Verdezoto, de 30, ambos equatorianos, que passaram por BH depois de pedalar 7.300 quilômetros vindos do seu país. Pedalaram em média 100 km/dia. Pois é: vieram de bicicleta. Dá para imaginar a fortuna que um turista transporta nos bolsos quando faz turismo pedalando 100 km/dia, o que gasta nos hotéis em que se hospeda e nos restaurantes em que se alimenta, as compras que faz para entupir aquelas sacolas penduradas nas bicicletas. Está salva a pátria!


O mundo é uma bola

13 de agosto de 1382: Tokhtamish invade e incendeia Moscou. O problema é que não faço a menor ideia de quem foi Tokhmish, o que me obriga a recorrer ao Google para descobrir que foi guerreiro mongol da linhagem de Gengis Khan por via de Jochi. Na condição de Khan, promoveu a unificação da Horda de Ouro com a Horda Branca em 1380 e fez as guerras contra os principados russos e Tamerlão, cavalheiro sobre o qual nunca ouvi falar. Em BH, conheci o Igor Tameirão, bom sujeito hoje radicado em Paris.

A partir da unificação das Hordas, a confusão foi tremenda e tomaria toda esta página do Estado de Minas, sem proveito para o leitor e para mim, que nos lixamos para as guerras dos mongóis contra os príncipes russos.

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