sábado, 23 de agosto de 2014

Eduardo Almeida Reis - Muzambinho‏

Muzambinho
Ilustre país este em que uma prefeitura proíbe os munícipes de ter galinhas em seus terreiros

Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 23/08/2014






Município sul-mineiro, altitude 1.100 metros, Muzambinho se orgulha do seu Código Municipal de Vigilância e Saúde, que emprega operosos fiscais sanitários e vem de proibir que os muzambinhenses tenham galinhas, patos, marrecos e demais penosas nos terreiros urbanos, argumentando que as aves contribuem para a proliferação das moscas. Ilustre país este em que uma prefeitura proíbe os munícipes de ter galinhas em seus terreiros. Um dos muzambinhenses entrevistados pela TV, risonho e barbado, coveiro profissional, não parecia irritado com a ordem para acabar com os seus patos criados em domicílio.

Quando vi a notícia numa antemanhã gélida, confundi Muzambinho com Curralinho e me lembrei do PhD em gnose biocinética que obtive na Universidade Federal de Curralinho, doutorado muito mais sério e pertinente do que os 27 honoris causa do analfaboquirroto. Como sabe o leitor, gnose biocinética é o conhecimento, a ciência, a sabedoria do movimento da vida, e o fato de a Universidade Federal de Curralinho não existir é irrelevante: o doutorado é obtido na escola da vida. Antenor Edmundo Horta, o Antenorzinho, que começou a trabalhar aos 7 anos numa farmácia diamantinense, quando calçou pela primeira vez um par de sapatos de terceira mão (ou pé?), passou dos 90, visitou o mundo inteiro, falava diversos idiomas, andava de Mercedes no tempo em que isso era importante, aprendeu a montar a cavalo aos 72 anos quando comprou fazenda em Esmeraldas (MG) e só frequentou a escola da vida. Honrou-me durante anos mandando seu motorista à cidade, todos os dias, para comprar o jornal em que escrevi. Claro que o chofer fazia outras compras nos supermercados, mas tinha ordem para viajar até outras cidades, quando não encontrava o jornal na banca da cidade próxima da fazenda.

Que diabo de estudo deve ter sido feito em Muzambinho para que o seu Código Municipal de Vigilância e Saúde descobrisse que as penosas contribuem para a proliferação das moscas urbanas? É possível que a titica das galinhas alimente as moscas, mas galinhas, patos, marrecos e aparentados devem comer bichinhos chatos, eventualmente perigosos, percevejos, barbeiros, escorpiões & Cia. Junte-se o fato de que as penosas produzem proteína animal da melhor qualidade e a iniciativa muzambinhense vai de encontro à tendência mundial de produzir alimentos em todos os espaços disponíveis.

George Gordon Byron (1788-1824) nasceu em Londres e bateu o pacau na Grécia. O sexto barão Byron, mais conhecido como lorde Byron, não poderia ter nascido em Muzambinho. Por quê? Ora, porque poetou: “O galo é o clarim das madrugadas” e o galo muzambinhense foi proibido de clarinar.

Tempos modernos

O locutor da GloboNews impostou a voz e avisou: “Ainda hoje, Fernando Gabeira visita o sul da Bahia para conhecer o legado deixado pelos alemães”. De admirar seria viajar para conhecer o legado levado pelos alemães. Fernando Gabeira é o mais rápido e um dos melhores textos de sua geração. Todos os que trabalharam com ele dizem do seu talento e da velocidade com que escreve. Contudo, vem acontecendo com os seus programas de TV um fenômeno que não sei explicar. As pautas são interessantes, mas os programas resultam confusos, têm uma porção de tomadas sem pé nem cabeça, talvez por culpa da edição ou da direção. O resultado embaralhado não faz jus ao talento do jornalista.

Mudando de assunto sem sair da TV, o negócio está ficando difícil. Ouvi perfeitamente na TV aberta a nova mocinha do tempo pronunciar reconcavo, sem o chapeuzinho no primeiro o. Falava do clima previsto para o dia seguinte na região geográfica localizada em torno da Baía de Todos os Santos e deve ter recorrido ao verbo concavar (datação 1817), tornar-se côncavo, do latim concàvo,as,ávi, átum,áre, de concàvus, de cavus. No caso, reconcavar.

O mundo é uma bola

23 de agosto de 1793: na Revolução Francesa, uma levée en masse foi decretada pela Convenção Nacional. Não faço a mais mínima ideia do que seja uma levée en masse, o que não é de espantar diante desta minha notória ignorância, mas boa coisa não deve ter sido. A Revolução Francesa guilhotinou uma porção de gente para tudo continuar na mesma ou piorar, como se vê no “governo” François Hollande, transcorridos 221 anos da tal levée. Que se pode esperar de um sujeito que abandona a mãe dos seus quatro filhos para mais tarde nomeá-la ministra? De um sujeito que pula na garupa de bela moto para namorar escondido num apê próximo do palácio em que reside? Homens sérios morrem agarrados à mãe dos filhinhos, mesmo que mantenham, como todos mantêm, namoradinhas espalhadas por aí.

Em 1893 é instalado o primeiro de uma séria de cabos submarinos ligando a Horta, nos Açores, a Carcavelos em Lisboa, notícia que não teria importância se o autor destas bem traçadas não tivesse excelente amigo nascido na Horta, hoje advogando no Sul de Minas.

Em 1969 começa o Jornal Nacional, primeiro programa de TV transmitido em cadeia nacional. Em 1754 nascia Luís XVI, rei da França, morto em 1973 pelos revolucionários da já citada levée. Hoje é o Dia do Artista, do Internauta e do Aviador Naval.

Ruminanças

“Quem me dera ter sido meu neto!” (Napoleão Bonaparte, 1769-1821).

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