sexta-feira, 8 de agosto de 2014

O gigante de Uberaba

Batizado como Uberabatitan ribeiroi, o maior dinossauro brasileiro da espécie será apresentado hoje em Peirópolis, no Triângulo Mineiro


Zulmira Furbino
Estado de Minas: 08/08/2014



O Uberabatitan ribeiroi em tamanho natural. Dos 20 grupos de dinossauros já descritos no país, sete foram descobertos em Uberaba, entre os quais, três espécies únicas ( L. Adolfo/Esp. EM/D.A Press)
O Uberabatitan ribeiroi em tamanho natural. Dos 20 grupos de dinossauros já descritos no país, sete foram descobertos em Uberaba, entre os quais, três espécies únicas

Um dinossauro de 18 metros de comprimento e seu filhote, de quatro metros, representantes do maior animal terrestre que habitou o Brasil, acabam de ganhar corpo e forma, em Uberaba, no Triângulo Mineiro. O gigante do período Cretáceo, batizado como Uberabatitan ribeiroi, está sendo apresentado hoje ao país, numa reconstrução em vida como os cientistas imaginam que ele era em carne e osso. As primeiras réplicas “vivas” desse Titanossauro estão inseridas numa paisagem que simula o ambiente em Uberaba há 70 milhões de anos.

A iniciativa é do Complexo Cultural e Científico de Peirópolis (CCCP), da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), que mostra também pela primeira vez uma vértebra do pescoço do animal, encontrada em meados de junho. O fóssil mede 63 centímetros de comprimento e dá respaldo científico à tese que diz que a espécie poderia medir até 22 metros da cauda à cabeça, e quase sete metros de altura, garantindo a ela o posto de maior dinossauro brasileiro.

De acordo com Luiz Carlos Borges Ribeiro, geólogo da UFTM e um dos responsáveis pela descoberta, o exemplar está preservado, apesar de uma das extremidades apresentar-se fragmentada. Até onde se sabia, o maior dos três indivíduos poderia alcançar cerca de 18 a 20 metros de comprimento, por cinco a seis metros de altura. “Considerando o tamanho dessa nova vértebra, pode-se inferir que o animal teria alcançado até cerca de 22 metros de comprimento, por quase sete metros de altura, o que confirma que se trata do maior dinossauro do país. O novo fóssil está em fase de preparação. Concluída a etapa, deverá ser catalogado e depositado na coleção científica do CCCP/UFTM com os outros fósseis da espécie.

A reconstrução (de como seriam em vida) dos dois dinossauros começou em janeiro e levou 170 dias até ser concluída, neste mês. Junto das duas réplicas vivas apresentadas hoje, um Abelissauro (carnívoro) tenta atacar o filhote de Uberabatitan, que se protege debaixo da cauda da mãe. Os animais mostrados hoje representam seres que viveram em condições ambientais extremas, marcadas pela pronunciada aridez climática e pelo estresse. Nesse contexto, conviveram com inúmeros outros animais encontrados na região de Uberaba, como outros titanossauros de menor porte, crocodilos, anfíbios, lagartos, peixes, tartarugas, invertebrados e até mesmo dinossauros carnívoros de pequeno e grande portes, como o Abelissauro.


PROJETO MAIOR As réplicas da mãe Uberabatitan e seu filhote custaram cerca de R$ 120 mil e foram feitas pelo paleoartista Norton Fenerich e sua equipe. Até agora, só existem réplicas desses animais em esqueleto, uma delas no museu da PUC Minas, em Belo Horizonte. A apresentação feita hoje é parte de um projeto maior, capitaneado pela UFTM e coordenado por Vicente de Paula Antunes Teixeira, responsável pelo CCCP. Uma das propostas é dotar o Geossítio Peirópolis de atrativos que potencializem o turismo paleontológico no bairro e também em Uberaba. Com outros seis geossítios, o de Peirópolis integra o Patrimônio Geológico já inventariado e descrito dentro do contexto do Geoparque Uberaba – Terra dos Dinossauros do Brasil.

O geoturismo é responsável pela geração de 100 empregos diretos em Peirópolis, onde vivem 350 moradores. O lugar, segundo Ribeiro, “é um exemplo nacional da aplicação da ciência dos fósseis como ferramenta de desenvolvimento socioeconômico, mecanismo de desenvolvimento regional sustentável”. A ideia é atrelar essa característica a outras vocações do município, como a histórica presença do zebu e a religiosidade, que tem como ícone a imagem de Chico Xavier. Dos 20 grupos de dinossauros já descritos no país, sete foram descobertos em Uberaba, entre os quais, três espécies únicas, o que projeta o município como a terra dos dinossauros no Brasil.

A ideia é transformar Uberaba em um geoparque. Até o momento, só existem três parques desse tipo nas Américas com a chancela da Unesco, um no Ceará (Geopark Araripe), um no Canadá (Stonehammer Geopark) e outro no Uruguai (Grutas del Palacio), aprovado no ano passado. “As ações postas em prática em Peirópolis desde 1991 estão em total consonância com o que propõe o Serviço Geológico do Brasil e a Unesco para a consolidação de Uberaba como geoparque. Os dinossauros são os mais importantes elementos da geodiversidade local, protagonistas na atração e popularização da ciência dos fósseis. A apresentação de duas novas réplicas vivas não é um fato isolado. Depois disso, virão outras réplicas, que estão sendo programadas. Já temos os recursos alocados”, diz Ribeiro, cujo sobrenome batizou o Uberabatitan ribeiroi.

Origem da  nova espécie

A escavação que possibilitou a descoberta da vértebra cervical do Uberabatitan foi financiada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Ela foi realizada no nível geológico, escavado entre 2004 e 2006, onde foram descobertos cerca de 210 elementos ósseos, que deram origem à descrição dessa nova espécie de dinossauros pertencentes ao grupo dos Titanossauros, no qual se inserem os maiores dinossauros do planeta. Os diversos fósseis foram encontrados desarticulados, porque estão associados a um ambiente de rios e depósitos sedimentares, formados por enxurradas e avalanches, reinantes na região no fim do período Cretáceo. 

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