segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Vaidade, ostentação, soberba e queda - Carlos Eduardo Guilherme (Pacome)

Estado de Minas: 18/08/2014 



Mascarado é a palavra usada na gíria esportiva para identificar o atleta que não tem a exata noção de seu justo valor. Além de se ver como celebridade, ele se julga também o mais eficiente, o mais destacado, o único insubstituível e, às vezes, o mais bonito. A figura do mascarado não é privilégio desse ou daquele esporte. A fera é figurinha carimbada no meio esportivo. O termo é também usado fora do ambiente esportivo, com o mesmo sentido genérico, para identificar qualquer indivíduo soberbo.

Esse atleta, quando consegue fama e dinheiro, compra carros possantes, dá entrevista na TV, se exibe com mulheres bonitas – geralmente loiras –, usa joias caras, enfim, muda radicalmente seu comportamento, tornando-se excessivamente vaidoso, antipático e arrogante. Muda a maneira de falar, de se vestir, de se pentear, de andar e de se relacionar com as pessoas. E se sente o máximo. Para aparecer na mídia, faz de tudo, mesmo que isso o torne ridículo. Deslumbra-se facilmente com os flashes e com as luzes das câmeras. E assim torna-se antipatizado pela opinião pública e, paradoxalmente, até por seus admiradores.

Normalmente, esse tipo de atleta exerce liderança negativa sobre os colegas e, para conquistar a simpatia e a confiança de seus companheiros, mostra-se sempre agradável e prestativo com eles, mas aguardando uma oportunidade para influenciá-los a cometer atos de indisciplina. Mal sabe ele que o que desperta simpatia e admiração é justamente a modéstia, a educação e o cavalheirismo. Valores que o mascarado desconhece.

Curiosamente, no início de carreira, ele costuma ser educado, simples e humilde. Entretanto, ao se tornar famoso, transforma todas essas preciosas qualidades em ostentação. É impressionante como se torna exigente. Reclama de tudo: do hotel, da alimentação, dos horários de treinos e de jogos, do sistema tático e coletivo, da arbitragem, dos colegas de equipe, etc. Depois da fama, muitas vezes, acometido pela amnésia esportiva, se esquece dos amigos e das pessoas que o ajudaram na vida. Inacreditavelmente, muitos deles, quando chegam ao estrelato, acham que são Deus, enquanto os outros têm certeza disso. O ambiente esportivo, no qual o dinheiro, a fama e a vaidade acirram a competição, alguns atletas perdem a ética, o escrúpulo e a vergonha e se deixam cair na armadilha da mesquinharia, do egoísmo e da inveja. A competitividade revela o melhor dos produtos e o pior das pessoas. Essa é uma triste constatação: a maioria dos atletas, depois do sucesso, torna-se mal-agradecida.

Embora os técnicos e os dirigentes não visem a nenhuma retribuição dos atletas, sentem-se recompensados quando alguns alcançam o estrelato. Sua maior decepção, no entanto, ocorre quando percebem que naquele período nem sempre os atletas têm gratidão por seu técnico nem pelo clube. As cenas de jogadores que mudam de time, beijando a camisa da nova equipe, são um ato mais de marketing do que de sinceridade. Não nos iludamos: hoje o dinheiro fala mais alto. O amor à camisa inexiste. O esporte, a música e as artes quebram todas as barreiras sociais, possibilitando que pessoas dos mais variados níveis socioeconômicos se destaquem social e financeiramente, sem, contudo, estarem preparados para o sucesso.

No final da carreira, ironicamente, as mesmas pessoas que inflaram seus egos, por interesse e oportunismo, ou a mídia que construiu o mito para fins promocionais, são as primeiras a abandoná-los ao menor sinal de declínio. Não é raro vermos ex-atletas despreparados encerrem suas carreiras e se enveredarem no alcoolismo ou nas drogas, quando não morrem prematuramente na miséria. Todavia, é oportuno registrar que existe um seleto grupo de atletas que atravessa toda a trajetória esportiva, da iniciação ao encerramento da carreira, com classe digna de louvor.

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