domingo, 22 de março de 2015

EM DIA COM A PSICANáLISE » A reforma começa dentro de cada um Como disse Freud, onde há fumaça há fogo

EM DIA COM A PSICANáLISE » A reforma começa dentro de cada um Como disse Freud, onde há fumaça há fogo


Regina Teixeira da Costa
Estado de Minas : 22/03/2015 



Manifestantes exigem faxina na política (Douglas Magno/AFP
)
Manifestantes exigem faxina na política
Os brasileiros estão cansados. Não aguentam mais encarar o sistema político, ficar impotentes diante de tanto desrespeito. Não podem mais lidar com a falta de representatividade. Deputados e senadores não representam o cidadão. Na verdade, a grande maioria deles está a milhares de quilômetros dos eleitores, cuidando de seus interesses particulares ou numa espécie de limbo inalcançável, enquanto tantos sofrem com a realidade pouco ou nada confortável.

As últimas manifestações reforçaram a impressão de que o Brasil pode estar, de fato, aprendendo o que é democracia, pois ela se faz com mobilização. Mesmo que ainda seja movimento nascido nas redes sociais e, como questionam alguns, com certo ar de superficialidade, pode dar início ao saudável hábito da participação.
Estaríamos nós, brasileiros, dispostos a abrir mão de alguma coisa pelo outro? Estaríamos dispostos a fazer um Brasil melhor submetendo-nos à lei? A lei é reguladora. Eleva a cria humana à dignidade de imortal, funda o desejo e sua aceitação e deve ser um ato de amor, como já disse minha querida mestra, a saudosa Nilza Féres.

E mais: a lei tem duas faces, uma pacificante, que acalma e protege, e outra cruel e obscena, que pune por punir, como a lei de Talião: olho por olho, dente por dente. Todos precisam de uma lei que funcione para regular o gozo e o abuso de um sobre o outro. Ser protegido é bom. Abrir mão de regalias e privilégios em favor do outro não é tão simples...

A crise nos alcançou. Há certo alarmismo e manipulação da mídia, mas certamente as coisas não andam nada bem. Como disse Freud, onde há fumaça há fogo. Estamos cansados de bandidos à solta enquanto os tememos. De bancar presídios lotados de homens confinados e improdutivos, sustentados por nossos esforços. Da má administração dos recursos naturais demonstrada pela crise hídrica neste país, dono de uma das maiores bacias hidrográficas do mundo.

Vivíamos uma espécie de bonança, enquanto o resto do mundo sofria. Brincamos com fogo, fizemos a Copa do Mundo, as eleições, o carnaval e a evasão de dinheiro público via corrupção. Agora, deparamo-nos com desestabilização econômica, que assusta a todos, com o medo da volta da alta inflação. E com razão.

Entretanto, no que concerne à corrupção, Ricardo Semler revelou, em um artigo, que sua empresa deixou de vender equipamentos para a Petrobras nos anos 1970. Naquela época, não se vendia nada sem propina, cujo valor caiu de lá pra cá. Ninguém desconhece esse fato no mundo dos negócios, nem os funcionários da estatal. Ele questiona onde estariam os envergonhados do país, que não saíam às ruas para protestar. E ainda aponta a hipocrisia daqueles que atualmente se fazem de inocentes, embora sempre soubessem como as coisas funcionavam.

Semler diz: “Não sendo petista, e sim tucano, com ficha orgulhosamente assinada por Franco Montoro, Mário Covas, José Serra e FHC, sinto-me à vontade para constatar que essa onda de prisões de executivos é um passo histórico para este país”. Verdade. Para fazer um país melhor de fato, a reforma política é pouco. É preciso uma reforma interna. Aceitar perder e dividir, praticar a ética do bem comum, pois há no homem o germe da corrupção. Somos seres dotados de pulsão de vida e morte. É preciso enfrentar o fato de que a corrupção pode alcançar qualquer um de nós.

O problema não está no outro, mas dentro de cada um. É difícil olhar para dentro. Faremos a coisa certa quando ninguém estiver olhando, quando isso não for conveniente ou difícil? Ou faremos porque é preciso fazer? A escolha é do sujeito e ele está sozinho, embora a consequência de seus atos atinja todos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário