domingo, 22 de março de 2015

O legado de Anita

Camila Molina
Estado de Minas: 21/03/2015 



Tropical, quadro de Anita Malfatti (Pinacoteca de São Paulo/divulgação)
Tropical, quadro de Anita Malfatti

O livro De Anita ao museu, do escritor, crítico e advogado Paulo Mendes de Almeida (1905-1986), lançado originalmente em 1961 pelo Conselho Estadual de Cultura de São Paulo, estava, há tempos, esquecido. Era lembrado apenas por especialistas. “Refere-se exclusivamente à evolução da arte moderna em São Paulo”, definiu o autor no prefácio da primeira edição da obra, realizada pela reunião de artigos publicados por ele entre 1958 e 1959 no jornal O Estado de S.Paulo. “É o testemunho vivo de um tempo”, diz a historiadora e crítica Aracy Amaral sobre o mérito maior dos escritos, considerados, desde então, parte de uma historiografia “não acadêmica” do modernismo e que agora saem em novo volume pela Editora Terceiro Nome.

Recorrendo à memória, Paulo Mendes de Almeida repassa episódios fundamentais de um período e destaca importantes interlocutores da cena artística paulista desde o impacto da exposição de Anita Malfatti em dezembro de 1917 até os desdobramentos da realização da 1ª Bienal de São Paulo de 1951. De algumas passagens, o crítico e escritor foi o observador; de outras, o participante ativo, como dos bailes da Sociedade Pró-Arte Moderna (Spam), das reuniões do Clube de Artistas Modernos (CAM) e da história do Museu de Arte Moderna (MAM).

“Sempre usei muito o livro do Paulo como referência, mas ninguém mais o conhece, o que é muito triste”, afirma Ana Luisa Martins, que conheceu o crítico. “Ele era engraçado, rápido, irônico, grande imitador, pessoa extremamente afetiva”, rememora a filha do jornalista Luís Martins e coordenadora editorial da nova publicação. O lançamento está marcado para hoje, na Pinacoteca do Estado, na capital paulista.

IANELLI Na verdade, trata-se da terceira edição do livro. Em 1976, a Editora Perspectiva, por sugestão de Aracy Amaral, havia relançado De Anita ao museu em versão ampliada, acrescida de textos dos anos 1960. A diagramação do volume foi feita pelo pintor Arcangelo Ianelli, grande amigo do autor, e por João Kon. Entretanto, há anos a obra estava restrita aos sebos.

A atual edição vem possibilitar que estudiosos e interessados tenham acesso a um título referencial. Fruto de minucioso trabalho, De Anita ao museu traz a reprodução ampliada de imagens de obras e exposições citadas nos textos (todas elas em cor), além de apresentar novos retratos e documentos históricos.

O livro tem estreita relação com a cidade de São Paulo e privilegia acervos públicos para que os leitores possam visitá-los. A apresentação de cuidadosas notas se destaca, assim como legendas que contextualizam os artigos. Idealizada em parceria com a Fundação Dorina Nowill, a versão em audiolivro também será disponibilizada.

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