segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Tendência/Debates


O ASSUNTO DE HOJE: RAZÕES PARA VOTAR NO MEU CANDIDATO

Haddad e o laboratório do doutor Lula

Dr. Frankenstein Lula inventou Haddad? Sim, mas criou Dilma também, e ela tem ido bem. Já o PSDB e seu aliado pós-arenista Kassab precisam virar passado

O padre Antônio Vieira (1608-1697), gênio da oratória sacra, chamado por Fernando Pessoa de "imperador da língua portuguesa", saiu-se com esta num de seus sermões, o do Santíssimo Sacramento, de 1645: "Tempo houve em que os demônios falavam, e o mundo os ouvia; mas depois que ouviu os políticos, ainda é pior mundo".
Não é difícil encontrar quem concorde com o Vieira nesse mesmo mundo de Deus e dos demônios. Também eu tendo a fechar as narinas diante do enxofre exalado pela grande maioria dessas figurinhas carimbadas, os políticos.
Sou forçado, porém, a reconhecer que é deles que a gente depende se quiser ver os grandes antagonismos sociais, econômicos, culturais e religiosos de um país, região ou cidade acomodados numa arena política civilizada, ainda que mal e porcamente (e não a ferro, fogo e sangue nas ruas, como hoje na Síria, por exemplo).
Vai daí que fica difícil defender a opção pela neutralidade quando chega a hora da onça beber voto num país, como a nosso, que tenta a muito custo se ver como democrático.
Agora, em São Paulo, a onça está a postos, radicalmente polarizada entre dois contendores de peso.
De um lado, José Serra, o velho político do já encarquilhado PSDB. Um partido que, de tanto se aliar aos remanescentes da velha Arena, criada pelos milicos da ditadura para lamber-lhes regularmente os coturnos, já vai se encaminhando para o seu irremediável ocaso.
Espero que o atual prefeito, o Kassab, cria do ex-arenista Maluf e desmioladamente ungido por Serra, escoe rapidinho pelo mesmo ralo da história, junto com o partido oportunista que tirou da cartola, o PSD, última eflorescência da famigerada Arena, via PFL e DEM. Vita brevis, é o que eu e o padre Vieira latinoriamente lhe desejamos.
Do outro lado, temos Fernando Haddad, a mais recente criação do doctor Frankenstein da política nacional, Lula, que está ficando deveras craque nisso.
Farol supremo do ávido e inescrupuloso PT (que está ameaçando deixar o PMDB para trás neste quesito), Lula enche a pança de justificado orgulho com seu primeiro monstrengo de laboratório, a Dilma, que até agora vem dando conta do recado de manter a aura de seu criador, sem grandes vexames.
Pelo contrário, até procurou varrer alguns vexames para fora de seu governo, na modestíssima medida do possível.
Acho que o Haddad vai por aí também. Ela leva no bolso, portanto, o meu voto.
Será um prefeito razoável, tentará com sucesso mediano acomodar os apetites da máquina partidária que o controla, sofrerá com alguns escândalos protagonizados por seus aliados à direita e à esquerda, mas não há de ser nenhum Celso "Maluf" Pitta pilhado pulando o muro do tesouro municipal com os bolsos cheios de precatório sujos.
Se não inventar nenhuma excrescência tributária, como a taxa do lixo de sua colega Marta Suplicy, e tiver o bom-senso de não dar continuidade a esse escândalo que é a inspeção veicular do seu Kassab, que não poupa nem veículos recém-saídos da linha de produção, sabe-se lá com que escusos propósitos (alguns promotores até sabem e estão se movendo para denunciá-los), vai sair bem na foto.
O risco que o Haddad corre, aliás, é justamente esse: ser bem avaliado à frente da prefeitura e se ver lançado pelo PT ao governo paulista em 2014, por falta de opções, cumprindo o mesmo vergonhoso roteiro de renúncias a cargos majoritários do seu oponente Serra.
Se isso acontecer, não é nada improvável que algum demônio midiático sustentado por dízimos subtraídos ao bolso do povão se apodere da cadeira do alcaide em 2016, como ameaçou conseguir no primeiro turno desta eleição. Vade retro, digo eu, ecoando Vieira.

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.debates@uol.com.br

MARCELO MADUREIRA

A cidade e o Serra
Serra não é simpático? E daí, se é competente? A eleição de SP é nacional. Não se pode fortalecer o PT, que se alia ao que há de pior por seu projeto caudilhesco

O Brasil é um país complicado. Por um lado, a democracia dá um salto de qualidade, impulsionada pela ação do Supremo Tribunal Federal no julgamento do mensalão. Do outro lado, assistimos nestas eleições de 2012, mais uma vez, articulações de forças intestinas na direção do atraso, do patrimonialismo autoritário e obscurantista.
A cidade de São Paulo é a principal arena deste MMA político brasileiro. Queira ou não queira, o segundo turno paulistano, como sempre, alcança dimensão nacional. São Paulo não é só a nossa maior metrópole, mas também, por sua multiplicidade, uma síntese do Brasil. Além da gestão da cidade, o que esta em jogo são dois projetos políticos distintos e antípodas.
Coerente com o perfil autoritário do ex-presidente Lula, o candidato Fernando Haddad, enfiado goela a dentro do PT, dá continuidade ao projeto lulista.
Esse lulismo traz dentro de si tudo aquilo que a civilização brasileira quer transformar em página virada. O projeto caudilhesco de Lula usa o aparelhamento do Estado, a demagogia populista e não contempla uma transformação virtuosa da sociedade brasileira.
Fernando Haddad é mais uma peça desse projeto. Projeto que tem como único arcabouço "ideológico" o poder pelo poder, a qualquer preço, e com as alianças com aquilo de pior que existe na política brasileira. E a lista é grande: são Malufes, Sarneys, Barbalhos, Calheiros, Collors e Valdemares Costa Neto. Está nos autos.
O mensalão foi um atentado à democracia brasileira. Uma traição explícita à Constituição, pedra fundamental do Estado de Direito que, no ato de posse, o presidente jura manter, proteger e cumprir.
Mas palavra de honra não me parece que seja coisa para se levar em conta no lulismo. Para Lula e os seus áulicos, a democracia é um valor burguês, uma figura de retórica a ser utilizada segundo a conveniência do momento.
O povo de São Paulo, guardião intransigente da Constituição brasileira, honrando o movimento constitucionalista de 1932, tem o dever de derrotar esse projeto político.
José Serra pode não ser um candidato simpático. Muito pelo contrário. O ex-governador de São Paulo Mário Covas também não era. Mas, como o saudoso Covas, Serra já provou mais de uma vez retidão e competência na gestão da coisa pública, e isso é o mais importante. O eleito, afinal, não vai ganhar um programa de humor, mas uma prefeitura para administrar.
A única lembrança que Haddad deixou do seu período à frente do Ministério da Educação, por outro lado, foi a sua desastrosa gestão do Enem, com fraudes e erros de organização que prejudicaram milhões de alunos em um momento crucial das suas vidas.
Desnecessário dizer que, se votasse em São Paulo, votaria no Serra. Subtraindo seus defeitos e somando as suas virtudes, José Serra é a melhor alternativa.
Inclusive acredito que o compromisso que o candidato tucano propõe aos paulistanos não será interrompido por uma eventual candidatura à presidência, como tanto se comenta. Serra sabe que o seu sonho com o Planalto já passou e que a oposição brasileira, em nível nacional, pede novos protagonistas.
Caramba! Nunca escrevi tão sério! Deve ser a influência do Serra...

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