terça-feira, 6 de novembro de 2012

Alzheimer descoberto aos 20 anos - Bruna Sensêve‏

Pesquisadores diagnosticaram a doença em voluntários com idade entre 18 e 26 anos que não tinham sintomas nem complicações cerebrais característicos do distúrbio. Teste deverá estar disponível até 2015 

Bruna Sensêve
Estado de Minas: 06/11/2012 
Saber aos 20 anos que você terá uma doença degenerativa e sem cura ao envelhecer. Mais uma vez, o dilema surge na comunidade médica. Por meio de exames de ressonância magnética e de análise sanguínea, pesquisadores do Instituto Banner de Alzheimer, nos Estados Unidos, encontraram indicadores precoces do mal de Alzheimer em indivíduos com idade entre 18 e 26 anos. Os participantes não haviam manifestado sintoma do mal, nem mesmo apresentavam lesões cerebrais durante o estudo. Ainda assim, sofrerão com a doença, garantem os cientistas. Os resultados foram publicados na revista The Lancet Neurology desta semana e podem levar a uma detecção precoce do Alzheimer, até agora confirmado apenas com exames feitos depois da morte do paciente.
 

Para descobrir quais seriam os primeiros sinais detectáveis do problema, os cientistas identificaram 20 indivíduos com uma mutação no gene PSEN1 que caracteriza uma forma rara e hereditária da doença. Eles foram comparados a 24 pessoas da mesma faixa etária e sem a alteração. As diferenças entre os grupos quanto à função e à estrutura cerebral foram significativas. Os pacientes que tinham a mutação apresentaram uma quantidade de proteína beta-amiloide no líquido cérebro-espinhal (fluido que ocupa o espaço entre o crânio e o córtex cerebral) expressivamente alta.

A proteína beta-amiloide está envolvida na deposição de placas amiloides no cérebro, até então, o principal biomarcador precoce para o Alzheimer. Elas podem ser detectadas por imagens do órgão e pela análise do líquido cérebro-espinhal. Os resultados encontrados pelos pesquisadores mostram que a proteína está no fluido cérebro-espinhal de pessoas que desenvolverão a doença degenerativa antes mesmo da deposição das placas, o que ocorre, em geral, entre 10 e 15 anos antes da manifestação dos primeiros sintomas. A forma da doença hereditária é rara, mas oferece aos pesquisadores uma oportunidade de compreender os sinais pré-clínicos da doença.

Biomarcadores A idade média para que pacientes com essa mutação genética comecem a mostrar o comprometimento cognitivo derivado da doença é de 45 anos. Com os novos dados, fica comprovado que os biomarcadores de Alzheimer são evidentes pelo menos 20 anos antes do início dos sintomas, muito mais cedo que o identificado em qualquer outro estudo anterior. “Esses resultados levantam novas questões sobre as primeiras mudanças cerebrais envolvidas na predisposição à doença de Alzheimer e de que forma elas podem ser alvo de futuras terapias de prevenção”, acredita Eric Reiman, líder do estudo.

Segundo o professor da Faculdade de Ciências da Saúde do Distrito Federal, o geriatra Renato Maia, o principal fator a ser considerado no estudo não é a comprovação de que as alterações cerebrais da doença ocorrem muito antes que os sintomas, mas o tamanho dessa antecedência. “É claro que os dados abrem uma oportunidade de atuar na prevenção de maneira mais eficiente, mas também trazem um campo de grande discussão. Vamos solicitar o exame a todos os adultos sem que tenhamos uma estratégia de prevenção reconhecida, tampouco medicamentos realmente efetivos?”, questiona o geriatra. Os testes feitos pelos pesquisadores americanos ainda não estão disponíveis clinicamente, somente para pesquisas científicas. Porém, Maia acredita que isso pode ocorrer nos próximos três anos.

A preocupação dele está em desencadear uma epidemia de Alzheimer baseada no diagnóstico precoce, sem que seja possível tomar qualquer providência a respeito do problema. Os tratamentos disponíveis conseguem apenas retardar um pouco a progressão inicial da doença, que, em alguns anos, retoma seu curso degenerativo natural e devastador. “O paciente vai ficar 20 anos de sua vida afetado pela notícia sem poder fazer nada. Isso demonstra o descompasso existente entre o avanço no diagnóstico e uma longa espera terapêutica”, avalia. Ele faz um paralelo com um exame existente para a detecção precoce do câncer de próstata que mede os níveis de PSA no sangue – uma proteína produzida exclusivamente pela próstata. “Nos 20 anos que ele está disponível, aumentou a detecção e não alterou a mortalidade. Nos Estados Unidos, ele já deixou de ser recomendado.”

Avanços Para o professor Benito Pereira Damasceno, da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o maior impacto dos resultados encontrados pelos pesquisadores está justamente no diagnóstico precoce da doença. Isso porque uma das principais razões para os decepcionantes resultados em recentes testes com drogas para o tratamento de Alzheimer está no avanço da doença. Os testes clínicos são feitos em pacientes diagnosticados, que, para tal, precisam ter os sintomas aparentes.

Quando isso ocorre, normalmente, os danos ao sistema nervoso podem ser grandes demais para que a terapia consiga reverter ou estacionar a evolução da doença. “Por isso existe a chance de que novos tratamentos que bloqueiam o processo possam ter uma eficácia maior. São vários medicamentos, inclusive pesquisas internacionais de que participei, que tinham tudo para dar certo. Mas grande parte não vingou porque foi testada em uma fase clínica da doença muita avançada”, afirma. Damasceno acredita que, ao diagnosticar o paciente precocemente a partir dos marcadores identificados pela pesquisa, seja possível desenvolver e utilizar drogas com eficácia maior.

O médico se prepara para começar um teste clínico com uma substância que inibe a ação da enzima beta-secretase, responsável pela produção da beta-amiloide. “Se ela tem a função de inibir a ação dessa enzima, provavelmente será produzida menos proteína. Ainda vamos testar essa substância em pacientes com manifestação clínica bem inicial. Mas ela é um exemplo de droga que poderia ser usada quando ainda não foram apresentados os sintomas.”

PALAVRA DE ESPECIALISTA » Angústia antecipada 
Rita Cecília Reis Ferreira - psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do Hospital das
Clínicas da Faculdade de Medicina da usp e membro da Associação Brasileira de Alzheimer

“Há um sério problema ao fazer um diagnóstico pré-clínico e não ter nada para oferecer ao paciente. Só aumentaria a angústia dele frente a uma realidade futura. Precisamos de mais pesquisas ou de alguma possibilidade de compreensão desse processo que possa ao menos pará-lo. O que temos com certeza é o tratamento que reduz o ritmo de evolução da doença. São drogas que, combinadas, podem melhorar alguns sintomas e, em boa parte dos casos, retardam a evolução do Alzheimer. O paciente consegue ficar por algum tempo estável, em média de dois a três anos. Depois disso, os sintomas voltam a se manifestar e retomam o curso natural. Ou seja, é uma medicação que protela, mas não cura. Nem sequer freia a doença. Essa é a única opção com peso científico. Também é possível fazer tratamentos em neuropsicologia e psicoterapia que podem auxiliar no problema.”
 

5 comentários:

  1. o triste mesmo e ver a pessoa q você ama definhando e não poder fazer nada

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  2. o triste mesmo e ver a pessoa q você ama definhando e não poder fazer nada

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  3. É possível diagnosticar a doença com algum exame clínico, sem ser uma ressonância magnética?
    Me preocupo muito com o alzhemer precoce...

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  4. É possível diagnosticar a doença com algum exame clínico, sem ser uma ressonância magnética?
    Me preocupo muito com o alzhemer precoce...

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  5. Não é fácil ter alguém que amamos com Alzheimer. Mas o amor supera tudo. Minha mãe tem Alzheimer. Ela é minha joia preciosa. Minha criança amo incondicionalmente

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