terça-feira, 25 de dezembro de 2012

A festa das 'novas' famílias - Juliana Cunha

FOLHA DE SÃO PAULO

JULIANA CUNHA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHAEmbora quase toda publicidade desta época seja estrelada pela família margarina, a real é que 50,6% das famílias brasileiras comemoram o Natal de um jeito mais bagunçado. Para quem vive em novos arranjos como a família mosaico, a estendida e a monoparental, papai, mamãe e filho só existem no presépio.
A socióloga Adriana Franco, 45, mora com o marido e os dois filhos. A família parece tradicional, mas não é. Os filhos dela são de outro casamento -está no quinto. O atual marido, Celso Calheiros, 50, também tem um filho de um relacionamento anterior que fica com o pai ao menos dois dias por semana.
Juntos, Adriana e Celso formam a chamada família mosaico, que mistura frutos de diferentes uniões e corresponde a 16,2% dos casais com filhos no Brasil. No Natal, a casa fica cheia. Já o Ano-Novo é solitário: as "crianças" ficam com seus "outros" pais.
Quando entrou na vida do viúvo Sérgio Rico, 46, a professora de educação física Marines Azzi Rico, 46, comprou um pacote completo que incluía dois garotos de nove e 12 anos. "Eu morava só, namorava para caramba. Nunca pensei que ia me meter em algo assim", conta.
Eles estão juntos há dez anos e tiveram Beatriz, 5. No Natal, vão todos para a casa de dona Rita, mãe da primeira mulher de Sérgio. "Os garotos adoram passar com a avó, não vi razão para quebrar a tradição", diz Marines.
Já a advogada Jacqueline, 42, e o funcionário público Carlos Hochberg, 54, não querem saber de tradição. Estão casados há 19 anos e não tiveram filhos. São o típico DINK ("Double Income No Kids"), sigla para casais com renda dupla e sem dependentes -representam 2,9% da população no Brasil.
Os Hochberg passam o Natal na casa da mãe de Jacqueline, onde moram também sua irmã, o cunhado e o sobrinho de seis anos. Lares assim, compartilhados por casal com filhos e outros parentes, são 5,45% das famílias do país, segundo o IBGE, e são chamados de família estendida.
"Minha irmã faz Natal com pacote completo: Papai Noel, peru, agora tem até um tal 'calendário do advento'. Damos uma passada para eles não ficarem com pena da nossa falta de ceia, mas não é minha praia", diz Jacqueline.
DIVÓRCIO PERFEITO
A publicitária Paula Araújo, 45, e o empresário Luis Antônio Speda, 50, estão separados há cinco anos e têm os trigêmeos Maria Eduarda, Ana Luiza e João Pedro, de dez anos. São um caso raro de ex-casal que passa o Natal unido. "Temos guarda compartilhada e somos melhores amigos. Não deu para ter o casamento perfeito, mas temos o divórcio ideal", diz ela.
Divorciados que optam pela guarda compartilhada são minoria: foram 5,4% em 2011. Mas o percentual dobrou na última década. "Acho o ideal para quem é mais maduro", diz a publicitária. Eles se definem como uma família unida, só que de pais separados.
O bancário Fernando Soares, 37, mora sozinho com o filho Marcelo, 6. O arranjo conhecido como família monoparental é quando o pai ou a mãe vive só com os filhos. Mulheres sozinhas com crianças representam 15,3% dos lares brasileiros. E pais sozinhos com filhos são apenas 2,2%, segundo o IBGE.
"A vinda do Marcelo não foi planejada. Nunca fui casado com a mãe dele. Há dois anos, propus que ele ficasse comigo e ela viesse visitar.".
No Natal, Fernando leva Marcelo para a casa dos avós, onde moram ainda sua irmã e o sobrinho de 12 anos.
"Ninguém sonha em ter uma família como a minha, mas a vida caminhou desse jeito e não lamento. Meu filho e eu somos uma família pequena e perfeita ao seu modo", diz Fernando.

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