domingo, 23 de dezembro de 2012

Agulhada universal - Luciane Evans‏

Cresce em 76% o número de atendimentos de acupuntura feitos pelo SUS no Brasil. Implantada em 1988 na rede pública, técnica tem ampla procura e fila de espera 

Luciane Evans
Estado de Minas: 23/12/2012 
A dor muscular sempre foi a queixa constante da aposentada Maria da Conceição Aparecida Silva, de 67 anos. Durante muitos anos, ela só conseguia dormir sob efeito de remédios. “Isso foi a vida inteira. Era terrível. Até as roupas me causavam dor”, lembra. Os incômodos só melhoraram este ano, por meio das “agulhadas do bem”, como ela mesma diz, referindo-se à acupuntura, tratamento que a aposentada faz de graça uma vez por semana, desde fevereiro, no Centro de Saúde Francisco Gomes Barbosa/Tirol, na Região do Barreiro, em Belo Horizonte. “Ter essa alternativa no Sistema Único de Saúde (SUS) é um benefício imenso para todos nós”, diz Conceição. O alívio dela confirma uma realidade apontada em estudo inédito no país do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura (CMBA): o método alternativo, antes visto como privilégio apenas de uma classe, tem oferta e demanda na rede pública brasileira. 

Prova disso é que o total desses atendimentos feitos pelo SUS este ano no Brasil representou crescimento de 76,4% em relação aos dados do ano anterior. Segundo o levantamento, em um ano os atendimentos feitos no SUS passaram de 680 mil em 2011, para 1,2 milhão em 2012, números que foram tabulados pelo CMBA por meio do Ministério da Saúde. O aumento é sentido em todo o país, onde a técnica foi implantada no sistema público desde 1988 e está nas unidades básicas, nos núcleos de apoio à família e também nos hospitais. 

Em São Paulo, por exemplo, quatro hospitais contam com residência médica em acupuntura. Em muitas cidades, como no Distrito Federal, o método é aplicado dentro das unidades de terapia intensiva (UTIs) em pacientes com traumas no corpo, como os acidentados de trânsito. A experiência tem como finalidade, além de dar qualidade de vida aos enfermos, a redução do tempo de internação, uma vez que as agulhas ajudam a melhorar a função respiratória, podendo acelerar a retirada dos aparelhos para respiração tão usados nessas unidades.
Apesar da experiência do Hospital do Distrito Federal, a maior parte do uso das agulhas como tratamento no SUS são feitas em ambulatórios. Para ter acesso, o paciente precisa ser encaminhado por um médico do serviço público. É nesse contexto que as unidades acabam acumulando casos de pacientes cujas dores não têm solução, enquanto a procura só aumenta. Em Belo Horizonte, onde o método está disponível em 10 unidades de saúde, em 2009, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde,  foram feitos 7,8 mil atendimentos e, este ano, até outubro, foram 9.532. “O crescimento se deve a dois fatores: maior divulgação do tratamento e o boca a boca dos pacientes”, comenta o presidente do CMBA, Hildebrando Sábato. De acordo com ele, além disso, o meio científico está cada vez mais comprovando a eficácia das agulhas. 

LONGA ESPERA Na capital mineira, a técnica chegou ao SUS em 1994, por meio da mobilização de alguns doutores. “Eles se organizaram e trouxeram a prática para dentro do sistema, assim como a homeopatia e a medicina antroposófica”, comenta a coordenadora do Programa de Homeopatia, Acupuntura e Medicina Antroposófica da SMSA, Nina Brina. Ela diz que, naquela época, BH foi a primeira a fazer um concurso público para acupunturistas no Brasil. Mas, apesar do incentivo do passado, a capital ainda está aquém do desejado e reflete uma deficiência da área sentida em todo o Brasil. Há na cidade somente 13 médicos capacitados na rede, número considerado até por Nina como baixo. Em todo o Brasil são apenas 500. O resultado são as filas de espera.

Maria da Conceição, por exemplo, só conseguiu atendimento depois de dois anos aguardando por uma vaga. “Enquanto isso, tomava os meus remédios, as dores eram insuportáveis”, lamenta, acrescentando que ao se submeter à técnica abandonou os comprimidos. A secretaria não informou quantas pessoas estão à espera atualmente, mas Nina Brina diz que há perspectivas de ampliação das equipes para 2013. Ela diz que por causa  da fila de espera pelo o serviço a SMSA adotou prioridades para o atendimento e limitou o número de sessões para 16. Antes, o paciente só recebia alta quando não sentia mais dores. “A procura é grande. A sessão dura em média 20 minutos. Atendo sete pacientes por dia”, comenta o médico acupunturista Antônio Claret de Almeida, que faz o trabalho desde 2007.  

DORES musculares Segundo Claret, cerca de 90% dos pacientes indicados para o tratamento são por causa de dores musculares, na lombar, joelhos e outras. Sobre os benefícios, Antônio diz que os encaminhados têm melhoras significativas, como sentiu na pele a agente comunitária de Saúde Márcia da Costa, de 50. Depois de esperar por três anos para receber as agulhadas pelo SUS, ela diz que sua vida mudou. “Sempre sofri com problemas nas articulações, dores na coluna e insônia, hoje tudo isso melhorou demais. Com a acupuntura, passei a dormir melhor e a não sentir mais dor. É uma pena a limitação das sessões, mas precisamos pensar naqueles que estão esperando uma oportunidade.”

O QUE É? 
A acupuntura é um conjunto de práticas terapêuticas inspirado nas tradições médicas orientais. Criada há mais de dois mil anos, é um dos tratamentos médicos mais antigos do mundo. Consiste na estimulação de locais anatômicos sobre ou na pele – os chamados pontos de acupuntura.
 
COMO É FEITA?
O procedimento mais adotado atualmente é a penetração da pele por agulhas  metálicas muito finas e sólidas, manipuladas manualmente ou por meio de estímulos elétricos. De acordo com a tradição chinesa, a técnica é capaz de ajustar canais energéticos do corpo, chamados na acupuntura de meridianos, de acordo com equilíbrio de yin e yang. A medicina ocidental e moderna, contudo, sugere que 
o método estimule a liberação 
de substâncias químicas que alteram o sistema nervoso e podem ter efeitos em todo o corpo, promovendo o 
equilíbrio do organismo. 
 
PARA QUE SERVE?
Busca a recuperação do organismo como um todo pela indução de processos regenerativos, normalização das funções alteradas, reforço do sistema imunológico e controle da dor. A  técnica sobrevive há milênios, mostrando benefícios a indivíduos com problemas gastrointestinais, respiratórios, musculares, entre outros. É indicada para a redução da dor em casos de fibromialgia e dores localizadas nas costas, tratamento de náuseas e vômitos em pacientes que se submetem a quimioterapias ou cirurgias, e diminuição da tensão emocional.
TRATA QUAIS PROBLEMAS?

Conheça  a lista de doenças e distúrbios para os quais o tratamento por acupuntura é indicado, com base em trabalhos científicos e evidências clínicas. 
 
Doenças do trato respiratório
Sinusite aguda, rinite aguda, resfriado comum,  amigdalite aguda, afecções broncopulmonares, bronquite aguda, asma brônquica
 
Doenças oftalmológicas
Conjuntivite aguda, retinite central, miopia (em crianças), catarata (sem complicações) 
 
Odontolgia
Dor pós-extração dental,  gengivites, faringites agudas  e crônicas, e distúrbios 
da cavidade bucal
 
Distúrbios gastrointestinais
Espasmos do esôfago e cárdia, soluços, gastroptose, gastrite aguda e crônica, úlcera duodenal crônica, colites agudas e crônicas, disenteria bacteriana aguda, constipação, diarreia
 
Distúrbios ortopédicos e neurológicos
Cefaleias, enxaqueca, 
paralisia facial,  paralisia 
pós- acidente vascular cerebral (AVC), paralisia causada por poliomielite, vertigem,  disfunção neurogênica da bexiga urinária, enurese noturna, neuralgia intercostal, dor  na coluna lombar e  artrite reumatoide

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