domingo, 23 de dezembro de 2012

Marina pode lançar partido em janeiro

FOLHA DE SÃO PAULO

Marina pode lançar partido em janeiro
Terceira colocada na disputa presidencial de 2010, ex-ministra estuda criar sigla para nova candidatura em 2014
Ela tem de 13% a 18% das intenções de votos para a Presidência, mostra a pesquisa mais recente do Datafolha
PAULO GAMADE SÃO PAULOTerceira colocada na disputa presidencial de 2010 com 19,6 milhões de votos, Marina Silva baterá o martelo sobre a criação de um novo partido até o final de janeiro. A fundação de uma legenda é a única hipótese aventada por ela no momento para voltar a concorrer ao Planalto na disputa de 2014, segundo aliados que acompanham o processo.
O movimento pela criação da sigla ganhou força com a publicação da última pesquisa Datafolha, no início de dezembro, que coloca Marina em segundo lugar na disputa. No levantamento, ela tem de 13% a 18% das intenções de voto, a depender dos adversários, e só perderia para a presidente Dilma Rousseff e para seu antecessor, Lula.
A criação de uma nova sigla é cogitada por Marina desde julho de 2011, quando ela deixou seu antigo partido, o PV, por desentendimentos com a direção da legenda.
Na disputa municipal de outubro, Marina apoiou candidatos de 11 siglas diferentes, com base no discurso da sustentabilidade global e da formação de uma terceira via política no país.
Recentemente, a ex-ministra do Meio Ambiente intensificou a agenda de encontros e reuniões com o "núcleo duro" de sua campanha de 2010 e com novos apoiadores para discutir a possibilidade de criação de uma legenda.
Ainda em dezembro, procurou congressistas interessados na troca de partido.
Segundo participantes desses encontros, o grupo tenta formular algo que represente uma nova forma de fazer política e não seja encarado como apenas mais um partido político.
CANDIDATURA
Interlocutores afirmam que Marina pretende ter novas conversas antes de decidir se quer concorrer em 2014 e, para isso, iniciar o processo de criação da legenda.
Ela tem dito que ainda quer conversar com sua família sobre encarar mais uma campanha e que ainda precisa avaliar o comprometimento das pessoas que considera essenciais para o novo projeto.
"A partir do que aconteceu em 2010, eu não vejo muita possibilidade de ela não ter participação em 2014. Ninguém entenderia", disse à Folha um dos apoiadores
que têm participado dos encontros pela criação do nova legenda.
Segundo os apoiadores de Marina, a decisão final sobre o assunto teria de ser ser tomada até o fim de janeiro -prazo considerado como o limite para que a sigla consiga sair do papel até outubro de 2013.
O prazo de registro da sigla pelo menos um ano antes das eleições é exigido pela Lei Eleitoral para que o partido possa concorrer.
Um dos principais desafios é a exigência da apresentação de uma lista de apoiadores assinada por cerca 500 mil eleitores em todo o país.

    ANÁLISE
    Adesão a princípios é o forte de Marina, mas também a limita
    CLÁUDIO GONÇALVES COUTOESPECIAL PARA A FOLHA
    FOSSE ELA MAIS PRAGMÁTICA, TERIA BUSCADO ACOMODAÇÃO COM PENNA, O "DONO" DO PV, AO MESMO TEMPO QUE APROVEITARIA O IMENSO CAPITAL QUE ACUMULOU EM 2010, REPOSICIONANDO-SE NAS ÚLTIMAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS
    Marina Silva saiu da disputa presidencial de 2010 como a melhor terceira colocada da história, amealhando quase 20% dos votos. Com tal desempenho, era muito maior do que seu partido, o PV, que teve nesse ano um desempenho pífio na eleição para o Congresso, conquistando apenas 15 cadeiras -uma a mais do que já tinha.
    Lideranças partidárias mais apressadas -que avaliam o resultado de uma eleição como dirigentes de futebol que demitem um bom técnico após a primeira derrota importante- logo imputaram a Marina a responsabilidade por não ter alavancado a eleição de parlamentares. Como se o eleitor não distinguisse o voto que dá em cada pleito.
    Mas Marina também cometeu erros, subestimando o peso que têm as oligarquias partidárias -logo ela, dissidente do PT, de Dirceus e Falcões.
    Embora a máquina do PT seja maior e mais poderosa do que a do PV, as oligarquias partidárias funcionam de forma similar: capturam postos-chave e embotam a competição interna, dificultando o crescimento de recém-chegados e minoritários.
    Aquilo que torna Marina referência na cena política nacional -sua adesão férrea a princípios- é o que também lhe limita as ações. A política eleitoral e partidária exige certa dose de pragmatismo e ardil. Na falta de ambos, em vez de atuar como uma força com real capacidade competitiva, uma liderança pode, quando muito, converter-se em ícone de alguma bandeira.
    Alguns, como Lula, conseguem combinar os dois papéis. Outros, como Marina, parecem não conseguir manter um sem sacrificar o outro.
    Fosse ela mais pragmática, teria buscado acomodação com Penna, o "dono" do PV, ao mesmo tempo que aproveitaria para usufruir do imenso capital político que acumulou em 2010, reposicionando-se nas últimas eleições municipais (a Prefeitura de São Paulo, por exemplo, estava aberta a novidades, como se viu).
    Contudo, o que Serra tem em excesso, Marina tem pouco demais -e abdica de trampolins que estão logo ali.
    Ela se vê agora com líder de grupo sem partido, tentando construir um partido que não funcione como partido. Dificilmente dará certo. Mas, talvez, a chama continue acesa.

      Nenhum comentário:

      Postar um comentário