quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Biblioteca celebra legado intelectual de 'Dona' Gilda


Marido da ensaísta morta em 2005, crítico Antonio Candido inaugura hoje coleção com palestra 'informal'
Centro Maria Antonia recebe os cerca de 900 livros com temas pesquisados por ela, como artes e moda
Folha de Sãso PauloCASSIANO ELEK MACHADODE SÃO PAULODurante mais de duas décadas, entre os finais dos anos 1940 e 1960, o prédio de número 294 da rua Maria Antônia foi parte importante da geografia sentimental de um dos casais mais admiráveis da intelectualidade brasileira. A dupla Antonio Candido e Gilda de Mello e Souza vivia sempre por lá.
No endereço, funcionava à época a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, onde os dois jovens humanistas davam aulas.
Na noite de hoje, Antonio Candido, 94, volta ao edifício para homenagear a mulher com quem foi casado por 60 anos. Em cerimônia informal, ele inaugura no local a Biblioteca Gilda de Mello e Souza.
A coleção reúne cerca de 900 exemplares usados pela ensaísta, crítica e professora (1919-2005) em suas aulas.
"Ao longo da vida, juntamos um conjunto razoável de livros de artes. Decidi deixá-los à disposição dos estudantes", diz Candido à Folha.
Os livros selecionados ajudam a iluminar o perfil intelectual de "Dona" Gilda, como era carinhosamente chamada. Estão na biblioteca, por exemplo, todos os seus livros de moda.
Foi com a tese "A Moda no Século 19" que ela recebeu o grau de doutora em Ciências Sociais, em 1950, num estudo pioneiro sobre o tema, depois publicado com o título "O Espírito das Roupas" (ed. Companhia das Letras).
"Ela teve coragem de abordar um assunto à época considerado frívolo", diz Candido. "Só quando Roland Barthes publicou 'O Sistema da Moda' deram crédito a ela."
A biblioteca, que passa a integrar o Centro Universitário Maria Antonia (Ceuma), instituição cultural da USP criada em 1993, também terá volumes de história e de crítica da arte, estética e de fotografia, que, acentua Candido, "cada vez mais é considerada uma arte importante".
Parte dos volumes está em outras línguas, sobretudo italiano e francês, idioma do qual ela era tradutora.
Maria Augusta Fonseca, professora de teoria literária da USP e coordenadora da biblioteca, diz que em torno da coleção serão feitas mostras, debates e cursos sobre temas estudados por Mello e Souza.

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