segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Editoriais FolhaSP

FOLHA DE SÃO PAULO

Oposição na muda
Era inevitável, com os altos índices de popularidade da presidente Dilma Rousseff (PT), que se afigurassem pouco animadores os prognósticos de eventuais candidatos de oposição, caso ocorressem agora eleições para a Presidência.
Os modestos resultados do tucano Aécio Neves na última pesquisa do Datafolha podem ser entendidos como nada mais do que a consequência disso. Mas também refletem, provavelmente, impasses mais profundos na oposição.
O pré-candidato do PSDB oscila entre 14% e 9% dos votos, nas diferentes situações da pesquisa. Fica atrás de Marina Silva, que, tendo alcançado 19,3% no pleito de 2010, pelo Partido Verde, não vê diminuída sua popularidade.
No contexto especulativo de uma pesquisa feita com tanta antecedência, desponta em boa posição o nome do atual presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, num dos cenários propostos. Seu papel na condenação dos responsáveis pelo mensalão se traduz na marca de 9% das intenções de voto.
Não é descabido dizer, com base no desempenho de Marina Silva e Joaquim Barbosa, que o espaço para a oposição ao lulismo parece alargar-se, ao mesmo tempo em que ganha contornos mais indefinidos que os tradicionalmente preenchidos pelo PSDB.
Na vertente ambientalista, com tradição de esquerda, ou na esteira do rigor normativo e do combate à corrupção, correntes distantes do status quo petista abrem cunhas nas percepções do eleitorado.
Haveria ainda lugar, sem dúvida, para uma agremiação capaz de agregar interesses de produtores rurais e pequenos empreendedores urbanos, que tendem a abraçar causas de cunho mais conservador.
Em meio a tais possibilidades, o PSDB parece hesitar. Subsiste, por certo, a defesa de mais eficiência e modernidade nos métodos de gestão, de políticas redistributivas moderadas, alheias ao populismo, e da privatização que marcou o governo Fernando Henrique.
O fraco desempenho econômico e administrativo de Dilma Rousseff pode vir a aguçar a crítica técnica a seu modelo de gestão. Nada disso parece suficiente, por ora, para constituir um ideário oposicionista robusto e consistente.
Os desacertos do lulismo, expostos como nunca no processo do mensalão, e o muito que se adia, no Brasil, em matéria de reformas estruturais e políticas indicam que -para inverter um conhecido chavão- nem todo governo tem a oposição que merece. Falta ver de que modo, e por quem, será enfim constituída.

    EDITORIAIS
    editoriais@uol.com.br
    Atraso comercial
    Maiores economias criam redes multinacionais e acordos bilaterais para apoiar cadeias de produção, mas Brasil se isola e fica para trás
    O Brasil corre risco de ficar à margem do comércio mundial. Letárgico e conservador, prende-se à ilusão de defender seus interesses ao fincar pé em políticas de proteção comercial anacrônicas desde os anos 1990 e que se tornarão obsoletas na nova geografia econômica mundial que se desenha.
    A sonolência do comércio global após a crise de 2008, suspiros protecionistas e o fracasso das negociações de abertura na Organização Mundial do Comércio (OMC) podem ter passado a impressão de que as relações econômicas internacionais haviam sido congeladas no padrão do final dos anos 1990.
    Desde então ficou travada a tentativa de promover um acordo planetário, a nova carta do comércio. Resultaram em impasse os 11 anos da chamada Rodada Doha da OMC.
    As forças e os interesses dos centros relevantes da economia mundial, países ricos do Atlântico Norte e Japão, mais os superexportadores do Sudeste Asiático, continuaram a transformar as relações econômicas internacionais.
    A produção de mercadorias, e em alguns casos até de serviços, é mais e mais multinacional. Cada país se torna parte de uma extensa cadeia de produção que não pode funcionar com barreiras ao comércio, regulação equivocada da circulação de capitais e desproteção dos direitos de propriedade.
    O proprietário americano ou japonês de uma patente pode desenhar produtos na Europa, comprar componentes em países menores da Ásia e montá-los em parte na China, no México ou na Turquia. Precisa de fronteiras livres e seguras. A fim de tornar mais eficiente e dar segurança econômica e jurídica a essas cadeias, os países envolvidos criam redes de comércio.
    A Parceria Transpacífica é negociada desde 2010 por EUA, Canadá, México, Austrália, Nova Zelândia, Brunei, Malásia, Cingapura, Vietnã, Chile e Peru -Japão, Coreia do Sul e Tailândia podem aderir. Os EUA e a União Europeia vão firmando acordos bilaterais com nações asiáticas e latino-americanas (Chile, Peru e Colômbia).
    Em resumo, as economias dinâmicas e ricas se integram. A China começa a se movimentar. Procura ainda timidamente se acoplar a essas redes multinacionais por meio de conexões regionais.
    Tais cadeias de acordos vão redundar em redução de custos e uniformização de normas. As nações participantes tenderão a atrair mais investimentos.
    Ensimesmado, o Brasil está à margem dos debates. Enterra a cabeça na areia de ilusões autárquicas e nacionalistas velhas de mais de 50 anos. Não parece capaz de pensar e defender seus interesses na nova ordem que rapidamente se configura. Corteja, assim, o atraso.

    Nenhum comentário:

    Postar um comentário