segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

SAÚDE » Renove suas promessas! - Luciane Evans

Na lista para os próximos 12 meses, muitos vão começar 2013 em busca por qualidade de vida. Metas não devem ficar no discurso, dizem especialistas. O primeiro passo é fazer um checape 


Luciane Evans
Estado de Minas: 31/12/2012 

 
Como se os ponteiros voltassem à estaca zero e dessem a todos uma nova chance de fazer diferente, hoje, no último dia de 2012, muitos vão acordar com a sensação que sempre surge nesse período: a de que é possível fazer mudanças. Em uma lista do que se espera para os próximos 12 meses, especialistas garantem que mais de 90% das  promessas feitas são referentes à qualidade de vida, mas 99% delas ficam no discurso. Mudar hábitos de alimentação, dedicar-se a um esporte, enfrentar uma dieta, largar vícios, estreitar os laços afetivos, mudar de profissão, ter mais fé ou fazer o que gosta são atitudes que, segundo os médicos, se levadas a sério e colocadas em prática por um longo tempo podem representar ganhos e uma saúde de ferro.

“Existe esse fascínio pelo recomeço. Todo final de alguma coisa traz a ideia de um novo ciclo”, comenta o clínico, nutrólogo e professor de clínica médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) João Gabriel Marques Fonseca. Ele explica que recomeçar dá uma perspectiva de que vai ser mais fácil. “Se a pessoa encara essa data como um marco é saudável. O problema é que em 99% dos casos as promessas ficam só no discurso e no desejo”, alerta. Essa resistência, de acordo com o especialista, ocorre porque toda mudança exige um esforço. “Só existem duas coisas que geram mudanças para valer: um grande amor ou uma grande decepção.”
O nutrólogo aponta quatro pontos para o ser humano investir para ter um aprimoramento da vida. Um deles é se autocuidar, se preocupar com você mesmo. Comer melhor, fazer uma atividade física, parar de fumar ou regularizar o sono são exemplos citados pelo médico. O outro seria, segundo ele, investir na qualidade das relações interpessoais. “Uma relação acusatória, em que você diz ao outro o que ele deveria ter feito mas não fez, não é saudável”, exemplifica. Investir na gerência do tempo do cotidiano, fazendo com que suas tarefas sejam mais produtivas, é outra meta. “Temos a mania de fazer milhares de coisas ao mesmo tempo. Se você faz mais de duas coisas, acaba não fazendo nenhuma delas direito.” Investir em conhecimento é o último ponto. “A prática de esporte, por exemplo, tem esse viés, uma vez que ensina o praticante a trabalhar em equipe, a ganhar e a perder.”

FORÇA DE VONTADE Foi pensando em se cuidar para ver crescer sua filha Mariana, de 6 anos, que o servidor público Wilson de Sales Lana, de 42, motivado pelo sonho da longevidade, tem mudado seus hábitos e, neste novo ano, quer chegar aos 98 quilos. Em novembro de 2012, ao tirar férias-prêmio, Wilson, que pesava 147 quilos, resolveu dar uma guinada. “Comecei a perceber que tinha colegas acima do peso que estavam adoecendo. Não quero isso para mim. Quero ver a minha filha crescer, poder brincar com ela e curti-la o máximo possível. Quem sabe até ver meus netos e bisnetos”, diverte-se. Decidido a buscar esse ideal, Wilson passou a comer menos, a ter uma alimentação mais saudável, à base de frutas, e se dedicou aos exercícios físicos. Emagreceu 25 quilos em 50 dias, o que ele atribui também à fé em Deus. 

Ele confessa que poderia muito bem ter esperado a virada do ano para fazer esse recomeço. “Mas teria pela frente a temporada de festas. Se eu fosse começar o regime só em janeiro, teria um peso ainda maior a perder”, diz, certo de que para que haja mudanças não é preciso datas marcadas. “Comecei antes a ir em busca das minhas metas. 
Normalmente, quando a pessoa diz que vai começar em tal dia, não dá certo.” O servidor público comenta ainda que neste novo ano quer se manter disciplinado com os novos hábitos. “Quero chegar aos 98 quilos. Tem muitas coisas no dia a dia que incomodam um gordo, quero me ver livre disso”, revela. A atitude de Wilson de começar algo já antes da virada do ano é vista como positiva pelo nutrólogo. “Essa ideia de que a partir do ano que vem vou fazer tal coisa não adianta se já não tenha feito algo por isso”, pontua João.

 Para o presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – Regional Minas Gerais, Paulo Augusto Miranda, para se adquirirem hábitos saudáveis não tem hora. “Se o novo ano for usado como uma reflexão para a adoção de hábitos de vida é positivo. Mas é preciso evitar tomar atitudes drásticas, como a exclusão de alguns alimentos ou iniciar atividades intensas”, alerta. Ele diz que as mudanças de menor custo são aquelas que têm mais impactos na prevenção de doenças. Ter uma alimentação saudável e não fumar são exemplos disso.

O endocrinologista afirma ainda que o réveillon serve, sim, como um marco. “O grande problema é que essas propostas de boa saúde entram para a lista daquelas coisas que começamos todos os anos e não completamos”, critica. Por isso, Paulo Miranda aconselha a quem deixou a busca pela qualidade de vida para 2013 a ter  metas que consiga cumprir. “Em vez de o sedentário começar o ano dizendo que vai participar de uma meia-maratona, de 21 quilômetros, comece a falar que fará exercícios físicos aos poucos”, diz. Segundo ele, o que gera benefícios para a saúde são as medidas duradouras, não as pontuais. “Dedicar-se a hábitos saudáveis para o carnaval, por exemplo, não vai ajudar a pessoa a ganhar saúde.”

CONTINUIDADE 
Querendo ou não, a preocupação em começar o ano mais saudável é algo que bate à porta de muitos. De acordo com o clínico geral, professor da Faculdade de Medicina das Ciências Médicas e presidente da Associação Brasileira de Medicina de Urgência e Emergência de Minas Gerais, Oswaldo Fortini Levindo Coelho, essa deveria ser uma preocupação permanente. “Claro que nunca é tarde para recomeçar, o problema é dar continuidade”, diz. Por isso, ele indica que o primeiro passo para quem quer levar a sério a busca por uma vida com mais atrativos seria a avaliação médica. “O clínico geral faz um checape desse paciente, olhando-o como um todo, solicitando uma série de exames. Ele vai saber orientá-lo e encaminhá-lo para profissionais responsáveis.” Fortini alerta, no entanto, que mudanças sem orientações médicas podem ser perigosas.

Um exemplo do risco é, segundo o clínico geral, alguém que tem problemas de coração e começa a fazer exercícios físicos rigorosos, acima de sua capacidade. “Isso pode desencadear um infarto.” Com o checape, o profissional avalia coração, pulmão, sistema metabólico, sangue, urina e outros pontos importantes. “Uma vida saudável pode melhorar sua condição física, o raciocínio, a capacidade de concentração e tantas outras coisas”, defende. O médico acredita que uma vez que se muda a forma de viver, “você melhora sua disposição e capacidade no dia seguinte”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário