segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Folhateen


Acerto de contas
Jovens endividados são maioria entre os inadimplentes; veja dicas de como escapar das dívidas
JULIANA CUNHACOLABORAÇÃO PARA A FOLHA de São PauloNo primeiro dia de aula na faculdade de geografia, uma menina bonita usando um boné com o logo de um banco se aproximou de André Carvalho, 18, e ofereceu um cartão de crédito.
O limite, de R$ 800, equivalia a quatro meses de sua mesada. "Meu plano era usar quando fosse necessário, mas comecei a pagar o cinema no crédito e comprei alguns jogos de videogame", conta ele, que excedeu os gastos muito além do que podia arcar.
Resultado: após cinco meses de dureza a conta sobrou para o pai. "Ele está descontando a dívida da minha mesada, em suaves prestações de R$ 50."
Para a estudante de letras Larissa Moreira, 21, o inocente cartão foi uma passagem só de ida para o endividamento.
"Eu pretendia era usar o crédito numa eventualidade, mas a máquina de lavar da república onde eu morava quebrou. Resolvi comprar uma nova e ir pagando as prestações", diz.
Na época, Larissa tinha 18. Sem renda própria, vivia com os R$ 900 que a mãe mandava de Lorena, a 190 km de São Paulo. Não conseguiu conciliar as contas do mês com as prestações e ficou com o "nome sujo", ou seja, impedida de tomar mais crédito.
"Hoje tenho um emprego que me paga R$ 800. Espero sair dessa situação até março de 2013 e, daqui para frente, só cartão de débito", diz.
NINJAS
A situação dos dois endividados não é incomum e tem até termos próprios dentro da economia.
"Essas transações se chamam 'empréstimo para NINJAS (No Income, No Job, No Assets)'", conta Samy Dana, colunista da Folha e professor de economia da Fundação Getulio Vargas.
A sigla é um eufemismo para definir pessoas como André e Larissa: gente que não tem emprego, não tem renda, muito menos ativos que possam gerar dinheiro.
De acordo com Dana, a inadimplência entre jovens de até 25 anos é a maior entre todas as faixas etárias.
Isso acontece, geralmente, por falta de educação financeira e consumismo desenfreado: "Adolescentes sempre foram impulsivos, mas a grande diferença é que agora há uma associação muito forte entre consumo e identidade. A pessoa acha que vai assegurar seu lugar em um grupo comprando coisas".
Até quem estuda administração acaba caindo na cilada das dívidas. Esse foi o caso de Elisandra Peck, 19.
Ela era estagiária do setor financeiro de um órgão público, mas as suas próprias contas eram uma bagunça.
"Ganhava R$ 500 por mês quando o banco me deu um crédito de R$ 1.000. Não sei onde eles estavam com a cabeça", diz.
Depois de meses pagando apenas a taxa mínima do cartão, Elisandra foi obrigada a abrir conta em outro banco para fugir da dívida que tragava todo seu salário.
FORA DA CURVA
Na outra ponta dos devedores, há quem seja previdente. É o caso de Diego Leão, 22, que já investe na Bolsa de Valores e em títulos do governo.
Junto com outros cinco amigos dos cursos de contabilidade e economia, lançou a Escola do Dinheiro, uma página no Facebook onde dá conselhos a jovens endividados ou que querem investir a mesada.
Para ele, a falta de educação financeira nas escolas prejudica os adolescentes.
"As escolas podiam ajudar com palestras e cartilhas que fizessem o jovem entender que ou você manda no seu dinheiro ou é o dinheiro quem vai mandar em você", opina o expert em dinheiro.

    FRASE
    "As escolas podiam usar palestras e cartilhas que fizessem o jovem entender que ou você manda no seu dinheiro ou é o dinheiro quem vai mandar em você"

    PARA SAIR DO VERMELHO
    • Se o montante da dívida é duas vezes maior do que a sua renda mensal, é hora de pedir ajuda aos pais. Peça que eles limpem sua barra no banco e devolva o dinheiro a eles aos poucos, sem juros
    • Procure ajuda profissional. Escolas de economia e de contabilidade costumam dar assessoria financeira gratuita para quem está com problemas financeiros
    • Invente estratégias para aumentar a sua renda. Vale, por exemplo, passear com o cachorro dos vizinhos, vender bijuteria, ficar fera no Photoshop e cobrar por edição de fotos

    COMO EVITAR O ENDIVIDAMENTO
    • Poupe no mínimo 10% de tudo que você ganha para eventualidades e para ter um dinheiro extra nas férias
    • Manter as economias na poupança é melhor do que deixar em casa, pois evita a tentação e ainda faz o dinheiro render
    • Com R$ 30 já dá para investir em títulos do Tesouro Nacional, um dos investimentos mais rentáveis que existem. Há sites, como http://tinyurl.com/y9hxvn8 em que você pode fazer um curso virtual de investimento financeiro
    • Evite ter um cartão de crédito antes de começar a trabalhar e não aceite que o banco lhe dê um limite superior ao seu ganho mensal

      INTERNETS
      RONALDO LEMOS - @lemos_ronaldo
      Abre alas para o funk ostentação
      Os chatos têm bons motivos para comemorar. Vão poder reclamar muito do "funk ostentação", cada vez mais popular. Quem mora em São Paulo, e ainda não conhece, faz parte de uma minoria. Só o MC Guimê tem mais de 40 milhões de visualizações
      no YouTube.
      O nome é autoexplicativo. O funk carioca conquistou a Baixada Santista e a periferia da capital. Só que, em São Paulo, sofreu uma mutação. Misturou-se ao hip-hop, nacional e gringo, e passou a falar de dinheiro e de consumo.
      As letras tratam de pessoas da periferia usando bens de luxo e tirando onda.
      O hit "Plaquê de 100" é um bom exemplo. Repete: "contando os plaquê de cem, dentro de um Citroën, de transporte nós tá bem, de Hornet ou 1.100" (veja aqui:bit.ly/N7ol0M). Faz festa com a capacidade de consumo recém-adquirida pela periferia.
      E a cena é "profissa". Os vídeos são bem feitos e há até uma produtora especializada na estética da ostentação. Ela fez os principais clipes e também um documentário sobre a história da cena.
      Em outras palavras, sabem exatamente o que estão fazendo. Usam a internet para chegar aos vários públicos: dos fãs aos intelectuais.
      Por falar neles, o funk ostentação concretiza no Brasil o que a pesquisadora Tricia Rose já falava sobre o hip-hop nos anos 90: "É um teatro contemporâneo para os desprivilegiados, que interpretam inversões de status e hierarquias, invertendo e subvertendo o script dominante".
      Em síntese, é para dançar, pensar e, acima de tudo, tirar onda.
      READER
      JÁ ERA Exibir o mesmo comercial para todos os públicos
      JÁ É Exibir comerciais diferentes para cada pessoa na internet, de acordo com seu perfil
      JÁ VEM Exibir comerciais diferentes na TV a cabo, de acordo com o perfil do assinante

        BRUNO MARON

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