segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Tom Wolfe ataca 'vermes' da arte em novo romance


Folha de São Paulo
DO ENVIADO A MIAMI
Um colecionador brasileiro, olhos arregalados diante de um estande na Art Basel Miami Beach, comparou o passeio na feira a uma visita à Disneylândia. Jason Rubell, um dos maiores colecionadores e patronos da arte em Miami, descreveu como "mágico" o mundo da arte em entrevista ao "New York Times".
Mas, na visão de Tom Wolfe, autor de "A Fogueira das Vaidades", esse é um mundo de "vermes" bilionários que saem no tapa por obras de arte pornográficas. Obcecados por status, colecionadores se misturam à beira da praia em brigas pelos trabalhos mais caros ou mesmo bizarros.
Em "Back to Blood", seu romance lançado pouco antes da feira que reúne o "jet-set" em Miami, ele transpõe esse universo para a ficção, com direito a uma performance em que uma artista nua extrai linguiças da vagina -excesso visual que constrangeu alguns dos megacolecionadores que costumam fazer compras na Art Basel.
Há ainda bacanais de endinheirados depravados -um personagem é um psiquiatra que trata viciados em pornografia- e a história do fictício oligarca russo que doou falsos quadros abstratos a um museu de Miami.
Russos, cubanos e americanos de todas as cores, aliás, parecem disputar um lugar ao sol nessa sua Miami, tanto que o título do livro é uma expressão frequente do autor quando se refere aos embates raciais na América.
Reações ao romance, de indignadas a indiferentes, dominaram rodinhas de conversa na feira -Marc Spiegler, diretor do evento, não quis comentar o livro quando perguntado pelo jornal britânico "The Art Newspaper".
Mas uma série de críticos aproveitou para descer a lenha no tipo de ostentação que Wolfe desclassifica com seus exageros e estereótipos.
"Dinheiro fala alto demais e afoga os significados", escreveu Sarah Thornton, da "The Economist", num artigo. Dave Hickey, importante crítico norte-americano, anunciou há pouco sua aposentadoria alegando "desgosto" pelo mercado de arte e dizendo que críticos hoje são "garçons intelectuais" para os "super-ricos" do meio.
Em defesa desses "super-ricos", Jason Rubell, aquele que vê "mágica" no mundo da arte, rebateu as críticas dizendo que "sem comércio, essa indústria não existe".
Outro artigo no "The Art Newspaper" sustenta que a nova classe endinheirada emergente, fenômeno do mundo globalizado pós-crise econômica dos últimos anos, destronou colecionadores americanos e europeus e vulgarizou o consumo de arte como um sinal de riqueza.

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