sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Oscar Niemeyer [Editorial FSP]


Oscar Niemeyer
Com as curvas características de seu estilo, maior arquiteto do país criou obras em diversas cidades e ajudou a definir a paisagem do Brasil
Contam-se nos dedos os brasileiros que tiveram fama internacional comparável à do arquiteto Oscar Niemeyer. Criador de Brasília, ao lado de Lucio Costa, e autor de obras em várias partes do mundo, Niemeyer marcou sua presença na arquitetura do século 20 graças a um estilo próprio, feito de elegância e aerodinâmica leveza.
Já não seria pouco, dada a circunstância de que o modernismo arquitetônico, pelo menos na primeira metade do século passado, corria o risco de cair na impessoalidade e na rigidez. A preferência quase dogmática pela linha reta, pela extrema economia de recursos, pela austeridade antiornamental, foi questionada por Niemeyer.
Como é sabido, o brasileiro considerou que novas técnicas de edificação em concreto armado permitiam uma abertura maior para a fantasia do arquiteto. Flexibilizou, como nunca, as linhas do edifício.
Nesse sentido, o próprio Oscar Niemeyer não se esquivou de relacionar seu estilo com a natureza de seu país -as montanhas do Rio de Janeiro e "as curvas da mulher amada" estariam entre as principais fontes de inspiração.
Seja como for, a obra de Niemeyer não tanto retirou elementos da paisagem brasileira quanto serviu para reconfigurá-la, já nas construções mineiras da Pampulha, nos anos 1940.
Tratava-se, ao lado do então governador Juscelino Kubitschek, e mais ainda em Brasília, de dar forma a um sonho de modernidade, ao mesmo tempo informal e inovador, que seria a marca das principais aspirações nacionais, ao menos até a ruptura de 1964.
O gesto aéreo e largo de quem domina o horizonte e o liberta, sem esforço, para o advento do futuro, estava por assim dizer no inconsciente de atitudes que orientava o projeto desenvolvimentista. Viu-se depois, de forma traumática, o quanto de conflito, de desigualdade, de autoritarismo e de turbulência se escondiam sob as promessas de meados do século.
Com inabalada serenidade, a mesma com que enunciava convicções em muito alheias ao amável populismo juscelinista e ao duro centralismo militar, Niemeyer sobreviveu aos percalços da política, sempre igual a si mesmo.
A beleza palaciana de suas obras, contrastando com os fins igualitários de sua crença comunista, persiste, pairando, decorativa talvez, mas inspiradora ainda, num país e num mundo bem menos simples e transparentes.
Inscrito na audácia do desenho, no branco do mármore, na curva do concreto e na limpidez do vidro, o nome de Niemeyer parece refletir esta esperança: a de que a matéria, rígida e muda, possa dobrar-se, fácil, aos desígnios do homem.

    EDITORIAIS
    editoriais@uol.com.br
    Acordo possível
    Democratas e republicanos nos EUA ainda parecem distantes de um acordo para evitar o chamado abismo fiscal -cerca de US$ 600 bilhões em aumentos tributários e cortes de despesas que ocorrerão automaticamente a partir da virada do ano se não houver um entendimento para limitar o crescimento da dívida federal, que atingiu US$ 16 trilhões e superou o PIB do país.
    O desafio do governo americano é encontrar o ponto de equilíbrio nesse processo. Austeridade excessiva pode desencadear uma recessão em 2013, mas leniência demais pode gerar uma crise fiscal por excesso de débitos. Estima-se que sejam necessários cortes de pelo menos US$ 2 trilhões, em dez anos, para reverter o crescimento da relação dívida/PIB e preservar a nota de crédito dos Estados Unidos.
    A proposta do presidente Barack Obama prevê US$ 1,6 trilhão em aumento de receitas, a ser alcançado especialmente pela elevação do Imposto de Renda dos mais ricos. Em troca, o democrata aceita discutir cortes de despesas, inclusive em saúde e aposentadoria, e uma reforma tributária.
    Os republicanos se opõem a subir o Imposto de Renda, mas concordam em elevar as receitas com a eliminação de deduções, sobretudo de empresas. Além disso, buscam reduções maiores nas despesas, com o foco principal voltado para o sistema de saúde.
    Revigorado pela reeleição, Obama tem neste ano maior respaldo da opinião pública do que teve em negociação semelhante de 2011. Um eventual fracasso nas tratativas recairia com mais peso nas costas dos republicanos.
    Ainda assim, ambos os partidos parecem dispostos a levar o impasse até o último minuto, na expectativa de que o outro ceda primeiro. O mais provável, pois, é um acordo parcial: algum aumento nos impostos e algum corte nas receitas, com o compromisso de retomar as negociações posteriormente.
    Com isso, seria possível manter os impostos mais baixos para a classe média, limitar cortes imediatos e evitar a recessão. Um acordo desse tipo poderia resultar em economia de pelo menos US$ 1 trilhão em dez anos, a metade do mínimo necessário. O restante ficaria para os debates que o Congresso travará em 2013.
    Será surpreendente se democratas e republicanos conseguirem chegar a um plano completo ainda neste ano, capaz de, no longo prazo, superar o desafio da dívida americana. Se a solução de ocasião não faz mais que jogar o problema para a frente, ela ainda é melhor que cair no abismo.

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