quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

"A Batalha pela Alma dos Beatles"

FOLHA DE SÃO PAULO

Hello, goodbye
Longo e doloroso processo de separação dos Beatles ganha retrato minucioso em livro de jornalista inglês
Mike Mitchell/Reuters
Os Beatles durante primeira turnê pelos Estados Unidos, em 1964
Os Beatles durante primeira turnê pelos Estados Unidos, em 1964
ANDRÉ BARCINSKICRÍTICO DA FOLHAOs Beatles criaram a trilha sonora dos anos 1960 e representaram, mais que qualquer outro artista, a ingenuidade, a beleza e o otimismo daquela década.
Mas a separação da banda, em 1970, foi marcada por ódio, vingança e processos judiciais. Um fim triste para o grupo que sonhou em mudar o mundo.
O jornalista inglês Peter Doggett escreveu o livro definitivo sobre o longo e doloroso processo de separação dos Beatles: "A Batalha pela Alma dos Beatles", que acaba de sair no Brasil pela editora Nossa Cultura.
Mesmo quem conhece a história dos Beatles vai se surpreender com o detalhamento do livro de Doggett. Ele revela todos os pequenos desentendimentos que acabaram virando abismos intransponíveis no relacionamento da banda.
A história da Apple, a utópica e malsucedida gravadora da banda, é contada com minúcias, assim como as complicadíssimas batalhas judiciais pós-separação.
"Venho coletando material sobre os Beatles desde 1970, quando era apenas um fã da banda", diz Doggett à Folha. "Quando chegou a hora de escrever o livro, eu já havia entrevistado muitas pessoas num período de 20 anos."
Entre elas, Doggett destaca as de Yoko Ono e de Louise, irmã de George Harrison (1943-2001). "Foi fascinante falar com Louise e saber detalhes sobre como George recebeu a notícia da morte de John [Lennon]."
Mas a entrevista mais reveladora, segundo o autor, foi a de Derek Taylor (1932-1997), o assessor de imprensa dos Beatles. "Falei com ele pela primeira vez em 1988", conta.
"Taylor foi incrivelmente honesto sobre as qualidades e fraquezas dos Beatles como seres humanos e sobre os problemas que tiveram com a Apple."
Doggett afirma: "Os Beatles descobriram algumas grandes verdades: você não pode se envolver em negócios sem se tornar um negociante; você não pode entrar no mercado sem se tornar um capitalista; você não pode supor que, só porque você tem ideais fortes, o resto do mundo vai dividi-los com você".
BRIGAS E SOCOS
O livro surpreende pelo teor raivoso das brigas, que só pioraram depois que John Lennon (1940-1980) começou a levar Yoko para o estúdio.
George Harrison não suportava Yoko e chegou a sair da banda depois de trocar socos com Lennon, que imediatamente sugeriu Eric Clapton para o lugar de Harrison.
Outro caso que mostra o grau de ódio entre eles aconteceu depois de um ensaio da música "Across the Universe", de Lennon, quando Paul McCartney teria dito: "Tem uma influência oriental que realmente não combina aí", deixando no ar se estava se referindo à música ou a Yoko.
"Fiquei triste por eles", diz Doggett. "Eles cresceram confiando nas pessoas que estavam próximas. Depois de 1969, no entanto, se viram sem ninguém em quem pudessem confiar."
"O que mais me impressionou foi que eles continuaram a fazer música nos anos 1970, mesmo tendo reuniões diárias com advogados e quando todo mundo estava querendo processá-los e eles estavam processando uns aos outros", completa.
A BATALHA PELA ALMA DOS BEATLES
AUTOR Peter Doggett
TRADUÇÃO Ivan Justen Santana
EDITORA Nossa Cultura
QUANTO R$ 69 (512 págs.)

    Para autor, Paul tentou "fazer as pazes" com John depois do livro
    DO CRÍTICO DA FOLHA"A Batalha pela Alma dos Beatles" é um relato objetivo e frio do momento mais conturbado da história da banda inglesa.
    Segundo Peter Doggett, também autor de "The Art and Music of John Lennon", entre outros trabalhos sobre os Beatles, a história de brigas e processos judiciais não deve ter agradado aos Beatles sobreviventes, Paul McCartney e Ringo Starr.
    "Mesmo que eu tenha tentado ser justo e imparcial ao relatar suas disputas e problemas, eu ainda estava revelando aspectos dolorosos do passado, e tenho certeza de que eles não queriam voltar a pensar nisso."
    Doggett conta que, em 2009, pouco antes de o livro ser publicado na Inglaterra, o escritório de Paul recebeu uma cópia.
    Sem razão aparente, Paul deu uma série de entrevistas para grandes publicações, enfatizando como ele e John Lennon estavam próximos antes da morte do músico, assassinado em 8 de dezembro de 1980.
    "Talvez tenha sido uma coincidência, mas acredito que Paul tenha lido meu livro, percebido o quadro triste que o texto passava sobre o relacionamento dele com Lennon depois de 1968, e tentado dar a sua versão, mais alegre, antes que as pessoas pudessem ler a minha", afirma Doggett.
    "O que ele não mencionou é que, como informo no livro, ele e Lennon se viram pela última vez em 1976." (AB)

      Nenhum comentário:

      Postar um comentário