quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Ruy Castro

FOLHA DE SÃO PAULO

Parceria asfixiante
RIO DE JANEIRO - Hollywood fará parcerias inéditas na China, diz o jornal. Inéditas, sem dúvida, mas não por serem na China e, muito menos, parcerias. Desde que uma lei antitruste, aprovada pelo Congresso dos EUA, levou à implosão de seus estúdios nos anos 50, o cinema americano precisou recorrer a parcerias com produtores independentes, principalmente na Europa, para continuar funcionando.
Daí, na época, a súbita importância para o cinema de homens como os italianos Dino De Laurentiis, Carlo Ponti e Alberto Grimaldi, os multinacionais Sam Spiegel, Alexander e Ilya Salkind, e outros. Pelas duas ou três décadas seguintes, quase todos os filmes americanos "importantes" tiveram um desses nomes antes do título. Para Hollywood foi uma bênção, porque eles não eram apenas gente de cinema, que sabia fazer filmes, mas homens safos, liberais, à vontade nos salões internacionais.
Com seu traquejo europeu, eles ajudaram a explodir o Código de Produção, que, de 1934 a 1965, regulou os filmes americanos e obrigava a que, nesses, só o Gordo e o Magro pudessem dormir em cama de casal. Nos filmes produzidos por aqueles homens, Barbarella era torturada numa máquina de gozar, Romeu e Julieta não morriam virgens e Marlon Brando usava manteiga para fins heterodoxos. Com o que tudo passou a ser permitido na tela.
Como será uma parceria entre produtores americanos e chineses? Óbvio: Hollywood entrará com o know-how; Pequim, com o dinheiro. Para os americanos, é a chance de conquistar o colossal mercado chinês; para os chineses, de penetrar no, idem, mercado internacional. Só que... os americanos terão de submeter seus roteiros à censura chinesa. Leia-se: do Partido Comunista Chinês -a mais tacanha, repressora e asfixiante do mundo.
Segundo a qual nem o Gordo e o Magro dividiriam a cama de casal.

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