quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

MOISÉS MENDES - A bermuda do Cachoeira

Zero Hora 09/01/2013

É um acinte o que o Carlinhos Cachoeira fez na Bahia. O bicheiro condenado a 39 anos de cadeia por formação de quadrilha, peculato e violação de sigilo, pode corromper políticos e empreiteiras e estar aí, curtindo o sol baiano num resort com diária de R$ 2 mil, porque assim é no Brasil. Mas não poderia usar aquela bermuda floral.

Poderia até sair da cadeia, casar-se e passar a lua de mel bronzeado, comendo siri e sempre falando ao celular nas fotos. Mas deveria ter escolhido uma bermuda mais discreta.

Mafiosos, em qualquer lugar, têm bons advogados e assessores de estilo. Não foi à toa que Cachoeira apareceu ao lado da mulher para ser fotografado com a bermuda escandalosamente colorida na Península de Maraú. Ele quis nos afrontar.

Cachoeira não terá nunca o bom gosto dos chefões italianos, os capos que inspiraram os homens a se vestir bem. Um capo legítimo nunca usaria uma bermuda como aquela do Cachoeira.

Os bandidos italianos só usam grife. No ano passado, houve uma rebelião num presídio em que a administradora proibiu roupas de marca. Foi na cadeia de Ucciardone, em Palermo, famosa por acolher mafiosos.

Acredite: os presos ricos de Ucciardone vestiam Versace, Valentino, Armani, Gucci. A cadeia ficou tão afamada, que passou a se chamar Grande Hotel. Ali foi feita até a festa de casamento milionária da filha de um mafioso.

Depois da proibição, a mulher de um preso, barrada na porta com uma mala de jeans Trussardi, disse que preferia ver o marido andando nu pelas celas a submetê-lo ao vexame de usar calças vagabundas. Mas a diretora foi dura. Os presos de Ucciardone deixaram até de usar roupas de cama Navigare.

A máfia brasileira, principalmente essa que corrompe em Brasília, tem muito o que aprender para chegar perto do estilo de um bandido fino italiano.

Quem nasceu para ganhar muito dinheiro a qualquer custo, para corromper quem bem entende, pagar bons advogados, ser condenado e ganhar alvarás de soltura a qualquer momento, mas mesmo assim ainda usa bermudas terrivelmente florais, nunca será um capo legítimo.

Por isso, um bicheiro será no máximo um Cachoeira. Nunca será um Carlinhos Cataratas do Iguaçu. Há uma chinelagem explícita na corrupção brasileira.

Os mafiosos italianos têm roupas e também nomes de grife e ficam mais chiques se vão morar em Nova York. Pronuncie em voz alta o nome deste capo ítalo-greco-americano: Vincent Vinny Gorgeous Basciano.

Os corruptos do Brasil não precisam se esforçar para ser deliberadamente bagaceiros, nos gestos, nas palavras (as falas captadas nos grampos são reveladoras) e nas bermudas.

Cachoeira poderia ser fino se tivesse feito um estágio em Ucciardone. Mas foi parar por um tempo logo no Presídio da Papuda. Até os nomes das nossas cadeias não ajudam.

Nenhum comentário:

Postar um comentário