quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Haddad pede 'trégua' a grupos sem-teto

FOLHA DE SÃO PAULO

Em reunião com líderes do movimento, prefeito pede ponderação e diz que administração está aberta ao diálogo
Em oito dias, petista enfrenta duas invasões no centro, uma delas no prédio prometido para o Instituto Lula
DE SÃO PAULO
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), se reuniu ontem com dirigentes de movimentos de sem-teto e pediu trégua nas ocupações de edifícios na cidade.
Haddad assumiu na semana passada e já assistiu a um protesto de sem-teto e duas invasões de prédios desocupados na região central.
As ocupações foram na madrugada de anteontem. Um dos prédios, na cracolândia, está prometido pela prefeitura para o Instituto Lula, que pretende construir ali um memorial à democracia.
Segundo a prefeitura, pelo menos 20 prédios estão ocupados na cidade.
Haddad não usou a palavra trégua, mas deixou claro que o diálogo com a prefeitura está aberto, não havendo necessidade de pressão.
"Eu pedi a ponderação do movimento, porque o diálogo está aberto. Estamos sob uma nova administração. Primeiro movimento organizado que eu recebo é o movimento de habitação. Quero crer que eles vão saber reconhecer esse gesto simbólico como uma porta aberta permanentemente", disse.
Os líderes dos sem-teto não se comprometeram a suspender as ocupações, mas disseram que não estão colocando Haddad "na parede".
"As ocupações vão continuar ocorrendo. As áreas que não cumprem a função social da propriedade nós temos que fazer com que cumpram", afirmou Luiz Gonzaga da Silva, o Gegê, dirigente da CMP (Central de Movimentos Populares).
Para o prefeito, sua promessa de campanha de construir 55 mil casas populares na cidade em quatro anos de mandato e a garantia que os movimentos de moradia têm de que a prefeitura está trabalhando para isso "vai pacificar os espíritos".
PROPOSTA VETADA
Por outro lado, Haddad rejeitou uma das principais reivindicações dos líderes que participaram da reunião.
Eles queriam que 25 mil das 55 mil casas prometidas para a atual gestão fossem destinadas aos sem-teto.
Haddad afirmou que não vai "segmentar" a promessa que fez durante a campanha.
"Tenho de usar os instrumentos disponíveis e procurar atender, da melhor maneira possível, a população organizada, mas também aqueles que estão desorganizados", afirmou Haddad.
Ele disse, no entanto, que vai ajudar os grupos a buscar recursos no governo federal para a construção de casas populares no programa chamado Minha Casa Minha Vida - Entidades, destinado a cooperativas e associações de moradores.

Cai portaria que manda subprefeito andar 5 km
Prefeitura extingue a exigência de vistoriar pessoalmente ruas da cidade todos os dias
EVANDRO SPINELLIDE SÃO PAULONos últimos dois anos, os subprefeitos tinham uma missão diária: percorrer, com suas equipes, cinco quilômetros de ruas em suas áreas, anotar problemas, como árvore caída e boca de lobo entupida, e mandar resolvê-los.
Era norma oficial, com portaria publicada no "Diário Oficial" da cidade e tudo.
Para comprovar o cumprimento da regra, eles tinham de publicar no site da subprefeitura relatórios semanais sobre as ruas percorridas, os problemas encontrados e as soluções adotadas.
"Essa rigidez da norma fixa e burocrática lembra a disciplina militar", diz Fernando Azevedo, cientista político ligado à UFSCar (Universidade Federal de São Carlos).
Não é à toa: na maior parte dos últimos dois anos, 30 dos 31 subprefeitos paulistanos eram coronéis aposentados da Polícia Militar.
Uma das primeiras medidas de Fernando Haddad (PT) na prefeitura foi exonerar os militares. Ontem, foi-se embora o último resquício deles: subprefeitos não precisam mais percorrer os cinco quilômetros diários.
Portaria do secretário das Subprefeituras, Chico Macena, revogou o ato. Segundo a prefeitura, não há necessidade de regulamentar atividades de vistoria porque isso já faz parte da atribuições do subprefeito. E eles continuam obrigados a fazer vistorias e dar publicidade a isso.
Azevedo diz que a revogação da portaria não acarreta prejuízo à cidade, mas é preciso acompanhar as subprefeituras para saber se os problemas serão resolvidos. Para ele, a promessa de Haddad de dar mais autonomia às subprefeituras é positiva.

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