domingo, 13 de janeiro de 2013

Blitz contra náuseas e vômito - Lilian Monteiro‏

Hiperêmese gravídica desperta interesse depois de ser diagnosticada na duquesa de Cambridge, Kate Middleton. Doença requer internação por determinar alterações metabólicas importantes 

Lilian Monteiro
Estado de Minas: 13/01/2013 
Sofrimento para princesa e plebeia, a hiperêmese gravídica se tornou mais noticiada depois de levar ao hospital, em Londres, a duquesa de Cambridge, Kate Middleton, com  náuseas que não deixavam nada parar no estômago. A cantora Ivete Sangalo chegou a perder um bebê em 2008 pelo mesmo motivo. A doença é rara, um caso em cada 500 partos, mas se diagnosticada exige internação e acompanhamento de perto. Mais de 55% das mulheres que engravidam têm emêse gravídica, o vômito simples de início da gravidez, transtorno responsável pela ausência das mulheres no trabalho. De acordo com a literatura médica, são mais frequentes nas ocidentais do que nas orientais e africanas, mas a razão é desconhecida. O mal-estar é presente no início da gestação, entre a quarta e a sexta semana, aumenta de intensidade da oitava até a 12ª para cessar no começo do quarto mês.
A ginecologista e obstetra Nilce Consuelo Verçosa, do Hospital da Mulher e Maternidade Santa Fé, em Belo Horizonte, explica que a êmese gravídica se diferencia da hiperêmese gravídica pela intensidade de sintomas: leve, moderada e grave. A leve melhora com dieta e uso de remédios antieméticos, próprios para enjoo e vômitos transitórios. A média é marcada pela perda de peso, ainda que pouco importante, já que a paciente consegue se alimentar, e também é tratada com medicamento.
A forma grave é quando o vômito é persistente, obriga jejum forçado, e acaba por determinar alterações metabólicas importantes. A mulher não ingere nada e ainda vomita. “A paciente fica com face e olhos encovados (olheiras), língua saburrosa (áspera e seca) e pode até chegar a um quadro de hipotensão arterial, que acarreta grave desidratação, diminuição na quantidade de urina, apatia e letargia. Nesse caso, a hospitalização é obrigatória. Há ainda o risco de choque, um quadro apático com alterações metabólicas graves”. A hiperêmese gravídica está relacionada também com a perda de peso, que pode ser de 6% a 8% do peso inicial da gestante.
Nilce Verçosa explica que a prevenção da hiperêmese gravídica é o pré-natal mais rápido, no início da gestação. O que vai dar à mulher condição de ter um diagnóstico antecipado impedindo que quadro mais grave se desenvolva e o tratamento seja eficaz. “Ela é mais rara do que já foi. A diminuição se deve ao uso de medicamento eficiente, melhor assistência pré-natal e ao emprego adequado da psicoterapia”. Aliás, fatores emocionais, ainda que não esteja comprovada, são apontados e discutidos como possíveis causas da doença. Segundo a obstetra, a hiperêmese gravídica pode levar à morte tanto a paciente quanto o feto. “No entanto, é raríssimo”, reforça. O óbito só ocorre se o quadro for muito grave e se a mulher não receber a devida atenção.
A médica lembra que a hiperêmese gravídica inicia com enjoo comum e, por isso, se não tiver atenção, pode piorar. Nilce enfatiza que o enjoo é algo para ser tratado. “É comum, mas não é normal. A mulher precisa procurar paliativos para não agravar”. Ela alerta para alguns fatores que aumentam a probabilidade de desenvolver a hiperêmese gravídica: obesidade, gestação com mais de um feto, paciente portadora de hipertiroidismo e mulheres cujas mães tiveram a doença.
HEPATITE Com diagnóstico fechado, Nilce Verçosa enfatiza a importância da rápida internação. No hospital, a paciente vai precisar ser hidratada, ter repouso absoluto, fazer dieta ou jejum nas primeiras 24 ou 48 horas ou enquanto persistirem os vômitos, sedação leve e medicação antiemética. “Em geral o prognóstico é bom para mãe e feto e sem consequências para o desenvolvimento da gravidez”. Mas ela alerta que depois do episódio de hiperêmese gravídica é preciso vigiar a gestante mais de perto, “já que complicações da gestação podem ocorrer e a pré-eclâmpsia pode ser mais frequente”. É preciso ter cuidado para não interromper o tratamento porque a reincidência também ocorre.
Nilce Verçosa faz alerta importante ao enfatizar que existem outras doenças que podem causar náusea e vômito e precisam ser investigadas antes de fechar o diagnóstico de hiperêmese gravídica. Têm os mesmo sintomas, mas são outras enfermidades, que são: infeção urinária, apendicite, hepatite, hipertiroidismo e colecistite.

Saliva excessiva
Outro quadro patológico que pode se desenvolver no primeiro trimestre da gravidez e está associado a enjoo e náusea é a hipersialorreia, que se caracteriza pelo aumento do volume de saliva de origem desconhecida. Excepcionalmente, pode ser patológico e representar uma moléstia do ponto vista social, já que obriga a paciente a cuspir durante todo o dia. Há casos em que a mulher chega a eliminar até dois litros de secreção (cuspe) por dia.  


Mal-estar recompensador 

“Foi um horror. Mas tive duas bênçãos. Passaria por tudo de novo.” Assim a psicóloga e enfermeira Ivana Rocha começa a retratar o sofrimento pelo qual passou ao desenvolver o quadro de hiperêmese gravídica. Na primeira gestação, de Ana Júlia, hoje com 12 anos, ela ficou 30 dias sentindo muito mal-estar em casa. Ela lembra que só vomitava quando escovava os dentes e, por isso, “só escovava uma vez por dia”. Para Ivana, além de lidar com o incômodo do enjoo somava-se a indisposição e “o mal-estar que durava 24 horas”. Para piorar, ela precisou encarar a hipersialorreia, síndrome da quantidade excessiva de saliva. “Não foi preciso medicação e tudo ocorreu no início da gravidez, entre a oitava e a nona semana”.
Mas na chegada da caçula, Luiza, agora com 7 anos, Ivana encarou uma batalha ainda mais terrível, já que sofreu novamente com a hipersialorreia, que desencadeou a hiperêmese gravídica: “Não sabia que tinha glândulas salivares. Vivia com toalha de rosto dentro da boca 24 horas por dia. Depois, passei para a de banho. Um desespero. Era difícil tomar banho porque tudo me enjoava, até a água, a cara das pessoas, os cheiros, enfim, quase tudo me fazia vomitar”. Foram 40 dias lutando contra esse quadro. Por causa da quantidade enorme de saliva ela foi internada duas vezes, além de ter ido parar no pronto atendimento outras duas para receber soro e remédio antiemético. “Só tinha uma melhora no hospital. O sofrimento foi tanto que a parede do esôfago lesionou e uma vez cheguei a vomitar sangue”.
Goma de mascar Uma dica salvadora para Ivana, além do tratamento com medicamentos, surgiu na segunda internação no Hospital da Mulher e Maternidade Santa Fé, em Belo Horizonte, e partiu de uma técnica simples em enfermagem. Ela conta que foi orientada a mascar chicletes. “Troquei a toalha pelo chiclete, já que com ele engolia a saliva e o enjoo passava. Somado ao efeito dos remédios, melhorei aos poucos e voltei a trabalhar e restabeleci todas as minhas atividades. É importante dizer que depois dos 40 dias de sufoco minha gravidez foi supernormal, tranquila. Tudo foi apagado com o nascimento dos meu dois amores”. (LM)

Nenhum comentário:

Postar um comentário