domingo, 13 de janeiro de 2013

PERFIL / JORGE HELDER » O rei do suingue‏

Disputado por Bethânia, Chico Buarque, Edu Lobo e Rosa Passos, cearense se destaca na MPB 

Estado de Minas: 13/01/2013 
Cobiçado por estrelas da MPB, atualmente Jorge Helder está em estúdio, gravando com o exigente cantor, compositor e arranjador Dori Caymmi. Aos 50 anos, ele é uma espécie de autoridade do contrabaixo no Brasil. Preferido da cantora Rosa Passos, que se dispõe a apenas “emprestá-lo” aos colegas, Jorge é o “baixista mais disputado do país”, segundo Maria Bethânia, e o “São Helder” de Chico Buarque.

Radicado no Rio de Janeiro, esse cearense tocou com Caetano Veloso, Gal Costa, Edu Lobo e Nana Caymmi, entre muitos outros. Ele e Chico são parceiros: compuseram Bolero blues e Rubato – gravadas, respectivamente, nos discos Carioca e Chico.

Criado em família musical, ainda na infância Jorge Helder integrava um grupo de chorinho em Fortaleza. Adolescente, decidiu entrar para uma banda de rock. “Também acompanhei alguns artistas do Ceará”, revela o baixista.

Aos 17 anos, ele sentiu necessidade de estudar contrabaixo e se matriculou na Escola de Música de Brasília (EMB). Lá, conheceu gente como “a grande e genial Rosa Passos” e “o fantástico Hamilton de Holanda” – que, na época, tinha apenas 9 anos. Lula Galvão, Nelson Faria, Marcos Pereira e vários instrumentistas integram a lista de amigos do baixista.

Dinâmica 
Rosa Passos nem sequer havia gravado o antológico Curare, em 1991, quando conheceu Jorge Helder, indicado a ela por sua amiga, a pianista Elenice Maranesi. “Fiquei impressionada com a dinâmica e a elegância dele no baixo”, recorda a cantora baiana, radicada na capital federal. “Não nos largamos mais tanto como amigos quanto músicos”, acrescenta a compositora e violonista.

Sempre preocupada com a divisão e o ritmo, Rosa conta que a resposta do contrabaixista a suas exigências é imediata, além de personalíssima. “Por ser muito meticulosa e perfeccionista, estou sempre rodeada de músicos como o Jorge Helder e o Paulo Paulelli”, repara, citando os baixistas com quem mais grava e se apresenta.

Bonito Filha de Rosa, Julianna Passos diz que Jorge Helder, todo cuidadoso com seu baixo, fica sempre bonito quando está acompanhado por ele. “Toda vez que a Ju o fotografa, ela chama a atenção para esse fato”, observa a cantora. Para Rosa Passos, Jorge e seu contrabaixo são uma coisa só.

Rosa conta que o amigo, extremamente profissional e pontual, foi abrindo caminho por essa seriedade. Isso acabou o levando para o Rio de Janeiro. Na Cidade Maravilhosa, ele tocou com Marcos Valle e Sandra de Sá antes de se tornar disputado pelas estrelas da MPB.

“Nesse ponto, considero-me privilegiada”, diz a “pioneira” Rosa Passos, elogiando a cultura, o preparo e a humildade do baixista cearense.



O negócio dele é só música

Adepto dos baixos acústico e elétrico, Jorge Helder diz que gosta mesmo é de fazer música. Tanto que sua dedicação ao ofício é diária: dos baixos ao violão, passando por boas audições.

Fã assumido de feras do contrabaixo como Luizão Maia, Sizão Machado, Arismar do Espírito Santo, Nico Assumpção e Arthur Maia, Jorge conta que todos eles o influenciam de alguma forma.

Na opinião do baixista, a melhor “cozinha brasileira” de todos os tempos não dispensaria as duplas de baixo e bateria formadas por Luizão Maia-Paulinho Braga, Nico Assumpção-Carlos Bala e Itiberê Zwarg-Márcio Bahia. “Essas três sintetizam o suingue, a técnica e a genialidade brasileiras”, justifica.

No entanto, o americano Jaco Pastorius gravou seu disco de baixo preferido: Word of mouth (1981), que dá nome à banda que contava com as performances virtuosas do pianista Herbie Hancock, do saxofonista Wayne Shorter e do baterista Peter Erskine.

Autor de repertório suficiente para seu primeiro álbum autoral, Jorge Helder admite: vai gravar esse CD, mas não há previsão de data. O baixista que começou a compor na adolescência prefere o violão para criar suas melodias, que vêm atraindo letristas famosos como Chico Buarque.


ENTREVISTA


Jorge helder
Baixista e compositor

Cozinha internacional

Pode-se falar de uma escola brasileira de contrabaixo?

 Sim. Nossa música é marcante em todos os lugares do planeta, com grande diversidade rítmica. Nós, os baixistas, fazemos parte desse reconhecimento mundial, influenciando instrumentistas com o jeito brasileiro de tocar.

Quais são as principais características do baixo brasileiro? Em que aspecto ele melhor se desenvolveu por aqui?
O nosso samba “estilo Luizão Maia” e a capacidade intuitiva do baixista brasileiro. Em nosso país, o contrabaixo vem se desenvolvendo tecnológica e musicalmente devido a excelentes luthiers e a músicos voltados para a pesquisa de informações e inovações.

Depois do piano, o violão acabou se tornando quase marca da MPB. Que papel você atribui ao baixo na cena atual da música brasileira? 
Como baixista, digo: ainda bem que existe esse papel. Mas não sei exatamente qual é ele, a não ser dar sustentabilidade – palavra da moda.

Preferido de intérpretes como Rosa Passos e Maria Bethânia, você acabou cativando cantores e compositores como Chico Buarque e Edu Lobo. Inclusive, se tornou parceiro de Chico. A que atribui essa “disputa” por seu “passe”?
 Estou correndo o risco de contar aqui o segredo e perder a vaga para outro baixista. Não sei... Suingue?

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