domingo, 13 de janeiro de 2013

Genes indicam ameaça aos pandas - Marcela Ulhoa‏

Sequenciamento genético mostra como ação humana e mudanças climáticas interferiram no declínio dos mamíferos. Mantidas as agressões, em 50 anos só haverá animais em cativeiro 

Marcela Ulhoa
Estado de Minas: 13/01/2013 
Brasília – O panda-gigante é um dos animais mais ameaçados de extinção no mundo. Restam apenas 2 mil desses mamíferos, espalhados por seis montanhas no Sudoeste da China. Depois de 10 anos trabalhando para a conservação e o estudo da genética populacional de uma das espécies mais queridas pela humanidade, um grupo de pesquisadores do Instituto de Zoologia da Academia de Ciência da China divulgou o sequenciamento completo do genoma de 34 pandas-gigantes.
O trabalho possibilitou a reconstrução da história desses animais desde a origem, há 8 milhões de anos, e sugere que, enquanto as mudanças climáticas globais foram as primeiras responsáveis pela flutuação populacional desses animais, as ações humanas serviram como motor propulsor para a recente separação de alguns grupos e para o sério declínio da espécie. O estudo foi publicado na revista científica Nature Genetics.
“Os pandas passaram por duas expansões populacionais, dois estrangulamentos e duas divergências desde sua origem. As espécies atuais sobreviveram à era do gelo e sua flutuação demográfica foi dominada pela oscilação do clima global, entretanto a atual situação de perigo é causada principalmente pela recente perturbação humana”, alerta Fuwen Wei, autor principal do estudo.
Wei explica que há uma série de evidências que mostram os efeitos maléficos do aumento da população humana (e a consequente demanda por recursos) na rotina dos pandas-gigantes. “A explosão demográfica humana causou o desmatamento e a fragmentação do hábitat natural e limitou o fluxo gênico entre os pandas. Com isso, houve uma diminuição na população da espécie”, explica.
Para chegar aos resultados, os pesquisadores sequenciaram o genoma de 34 pandas-gigantes de seis populações geográficas distintas e obtiveram mais de 13 milhões de polimorfismos de nucleotídeo único (SNP). A partir dos SNPs, foi possível detectar três estruturas genéticas diferentes que revelaram uma variabilidade substancial entre os animais. Além disso, foram utilizados índices de fixação genéticos para detectar os sinais de seleção no genoma completo dos bichos e identificar os genes envolvidos na adaptação local.
Sobre os hábitos dos animais, os especialistas ressaltam que enquanto seus antepassados eram onívoros ou carnívoros, os pandas-gigantes adotaram uma dieta que tem o bambu como elemento básico há cerca de 3 milhões de anos. O clima quente e úmido da época proporcionou as condições ideais para a disseminação de florestas de bambu que por sua vez, levaram à expansão da primeira população de panda-gigante. No entanto, há cerca de 700 mil anos, a população panda começou a declinar devido às duas maiores glaciações ocorridas na China, sendo que seu primeiro gargalo populacional foi há cerca de 300 mil. Durante esse período, o panda-pigmeu foi gradualmente substituído por outra subespécie, o Ailuropoda baconi, que tem uma estatura corporal maior.
Depois da penúltima glaciação, entretanto, ocorreu a segunda expansão da população de panda-gigante, atingindo seu pico entre 30 mil e 50 mil anos atrás. O clima quente no período e as florestas de coníferas alpinas desempenharam um papel importante na manutenção da população dos pandas. No entanto, durante o período da última glaciação, o clima estava frio, seco e inóspito, com tempestades frequentes e uma atmosfera carregada de poeira. Em meio ao ambiente hostil, áreas extensas do hábitat desses bichos foram perdidas e teve início o segundo gargalo populacional.
Segundo Fuwen Wei, todas essas inferências são possíveis de serem feitas a partir do sequenciamento genético porque o DNA carrega a informação herdada dos ancestrais. “Os eventos evolutivos, a seleção natural e as adaptações podem mudar um pouco o genoma de geração a geração. Nós detectamos as mutações e polimorfismos de nucleotídeo único em todo o genoma e aplicamos os modelos genéticos e genômicos para inferir a forma como a informação hereditária da espécie mudou e destacar os sinais genéticos de adaptação em diferentes ambientes”, explica.
Futuro incerto De acordo com a WWF da China, metade do hábitat dos pandas-gigantes ainda hoje não está protegida contra a ação humana e o futuro de aproximadamente um terço da população das espécies selvagens é altamente incerto. Segundo a ONG internacional, a atividade humana continua a ser a maior ameaça à sobrevivência dos pandas que estão livres na natureza. “Durante as últimas três décadas, atividades de desenvolvimento em grande escala, tais como construção de estradas, barragens, instalações hidrelétricas, mineração e turismo em massa, tiveram grande impacto no hábitat de pandas-gigantes no alto da Bacia Yangtze (China)”, afirma a ONG.
Essas atividades tornam-se ainda mais exacerbadas com o impacto das mudanças climáticas e desastres naturais, como o catastrófico terremoto Sithuan, em maio de 2008, que resultou na perda generalizada, na degradação e na fragmentação do local em que vivem os pandas.
Se políticas mais rigorosas para a proteção desses mamíferos não forem implementadas, a estimativa feita pela WWF é de que em menos de 50 anos, não haverá mais pandas livres na natureza. “Portanto, a sobrevivência desses animais selvagens depende somente de nossos esforços. Seu hábitat só pode se expandir se houver uma pausa na exploração incontrolada e no turismo intruso. Assim, eles poderão recuperar a tranquilidade necessária para viver”, defende a ONG.
A WWF alerta ainda que se de fato os pandas desaparecerem, todo um equilíbrio ecológico será quebrado e muitos outros animais que vivem no mesmo local  correrão o risco de também serem extintos.

Variação na base
Também chamado de polimorfismo de nucleotídeo simples, o SNP é uma variação na sequência de DNA que afeta somente uma base (a adenina (A), a timina (T), a citosina (C) ou a guanina (G)) na sequência do genoma. Essas variações devem ocorrer em no mínimo 1% de uma determinada população para ser considerada um SNP. Caso contrário, são tratado, são consideradas mutações. No caso dos humanos, os SNPs correspondem a 90% de todas as variações genômicas.

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