quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Julia Sweig

FOLHA DE SÃO PAULO

Políticas pouco auspiciosas
Acordo assinala o fim da grande barganha, a fórmula bipartidária de uma era anterior
O acordo tentativo de Washington para evitar o chamado "abismo fiscal" vai, apropriadamente, elevar os impostos sobre os ricos, ao mesmo tempo adiando por pouco tempo as negociações sobre os gastos, o deficit e a dívida.
Líderes partidários, entre eles o presidente Obama, defenderão o acordo, dizendo ter sido sinal de liderança política e de concessões necessárias, até mesmo democráticas. Mas o acordo assinala o fim da grande barganha -a fórmula bipartidária de uma era anterior, algo pelo qual muito se anseia, mas que parece fora de alcance.
A nova normalidade em Washington é o hiperpartidarismo, com o qual os republicanos descobriram que, se aguardarem o suficiente, os democratas acabarão cedendo. Meus amigos republicanos me dirão que os democratas são igualmente intransigentes. Mas os democratas não têm mais uma ala poderosa de esquerda que os impeça de fazer concessões políticas (se é que ela o tenha feito em alguma época).
Bill Clinton rompeu aquela velha coalizão do New Deal com reformas previdenciárias nos anos 1990. O Partido Democrata ainda é uma coalizão que vai desde progressistas até a centro-direita. Desde os anos de Clinton, porém, os democratas raramente bloquearam seu presidente ou liderança no Congresso.
A intransigência republicana, uma postura curiosa à luz do etos nacional que reelegeu Obama há pouco, não se deve a uma unidade de visão. Pelo contrário. A liderança do Partido Republicano, especialmente na Câmara, é assediada por ideólogos do Tea Party cuja oposição à maioria dos gastos governamentais não militares paralisou as maneiras de fazer política mais antigas, que envolviam concessões.
Com o presidente republicano da Câmara incapaz de unificar seu partido, majoritário, como a Casa Branca conseguiu o pacto parcial sobre aumentos de impostos? Como notou um repórter do "New York Times", dois homens de 70 anos falaram ao telefone. Joe Biden, democrata e vice-presidente, e Mitch McConnell, republicano e líder da minoria no Senado, que atuaram juntos no Congresso por 28 anos.
Existe nesse fato algo de tranquilizador e também de preocupante. Os laços pessoais acabam tendo importância sim e com frequência são cruciais para a superação de processos políticos paralisados.
Alguns de meus melhores amigos são homens de 70 e 80 anos; eu valorizo sua sabedoria. Mas acabamos de passar por uma eleição que mostrou que questões demográficas -idade, etnia, gênero- são poderosos agentes de transformação nos EUA, remodelando o país de modo muito mais significativo do que sugeriria o pacto arquitetado por Biden e McConnell.
As divisões internas republicanas vão, perversamente, dar ao partido condições de frustrar a agenda do presidente para a reforma da imigração? O controle de armas? Mitch McConnell, que no início do primeiro mandato de Obama prometeu que a agenda legislativa dos republicanos seria moldada em primeiro lugar pelo objetivo de impedir a reeleição, hoje é o aliado político da Casa Branca. E isso gera um começo pouco auspicioso para 2013.

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