segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

No rastro do câncer de próstata [tendências/debates]

FOLHA DE SÃO PAULO

FERNANDO COTAIT MALUF E AGUINALDO NARDI
No rastro do câncer de próstata
O rastreamento do câncer de próstata deve ser realizado, mesmo que sua eficácia na redução da mortalidade dos pacientes seja questionável
O câncer de próstata corresponde a 31% de todos os casos de câncer em homens no Brasil. Nos Estados Unidos, um em cada seis homens desenvolverá câncer de próstata no decorrer da vida, mas somente um em cada 35 morrerá dessa doença.
É intuitivo considerar que a detecção precoce do câncer de próstata se associa a maiores chances de cura, minimizando a necessidade de terapias complexas e dispendiosas e permitindo a manutenção da qualidade de vida dos pacientes.
Contudo, estudos publicados nos últimos anos questionam o valor do rastreamento. Um deles, europeu, incluindo 162.243 homens, demonstrou que era necessário fazer o rastreamento para 1.410 homens e tratar 48 com diagnóstico de câncer de próstata para que somente uma vida fosse salva. Outro estudo, realizado nos Estados Unidos, com 76.693 homens, não demonstrou diminuição da mortalidade nos pacientes submetidos ao rastreamento.
Um subproduto do programa de rastreamento foi o expressivo número de homens submetidos a biópsias que não mostraram tumor, mas tiveram por causa dela graus distintos de angústia, além de altos custos para o sistema de saúde.
Apesar das críticas metodológicas a esses novos trabalhos científicos, vários países passaram a não preconizar mais o rastreamento, em face de seu questionável impacto positivo, ainda longe do desejável.
Essa recomendação foi energicamente criticada por associações médicas ao redor do mundo, incluindo a Sociedade Brasileira de Urologia, as quais defendem o rastreamento, considerando que sua realização deve estar associada à diminuição da mortalidade pela doença. Claramente, esse assunto ainda está longe de um consenso científico mundial e merece pontos de discussão e reflexão.
O rastreamento não apresenta eficácia perfeita na detecção da doença. Também possui limitado impacto de cura: é pequena a diferença de sobrevida entre o conjunto dos pacientes tratados após diagnóstico por rastreamento e o grupo daqueles que não se submeteram a programas rotineiros de rastreamento.
Essas limitações indicam somente que precisamos melhorar nossas ferramentas de diagnóstico e de seleção da conduta terapêutica.
O cenário deve melhorar muito nos próximos anos, por meio dos novos testes sanguíneos e moleculares com fins diagnósticos, que podem substituir os de PSA (proteína cuja produção, pela próstata, aumenta em casos de câncer). Eles podem orientar com maior especificidade a necessidade de biópsias.
Do mesmo modo, estão em estudo novas técnicas que avaliam alterações do DNA do tumor e de suas proteínas, que, aliadas às características clínicas do paciente, podem ajudar no diagnóstico do câncer de próstata, bem como na escolha do melhor tratamento. A terapia pode variar de simples observação nos tumores pouco agressivos a cirurgia radical, acoplada a radioterapia e hormonioterapia, em casos mais preocupantes.
Novos avanços em futuro próximo irão clarear os benefícios do rastreamento e da seleção dos tratamentos. Por hora, parece ainda ser mais seguro recomendar o rastreamento a cada um ou dois anos a homens com idade entre 50 e 75 anos. Para homens cujos pais apresentaram a doença, recomenda-se iniciar o rastreamento aos 40.
Tratamento imediato deve ser considerado para os homens com grande expectativa de vida, em particular se apresentarem tumores cujas características clínicas, laboratoriais e patológicas sugiram maior agressividade da doença.
De qualquer maneira, é preciso contemplar o paciente de forma particularizada, levando em consideração não só a sua doença, mas também os seus desejos e angústias.


RICARDO PATAH
O "pibão" e os moradores de rua
Para que a população que não tem onde morar pare de crescer, é preciso impedir que o "pibinho" a atinja sem nenhum mecanismo de proteção
A presidente Dilma Rousseff quer um "pibão" neste ano. Nós, brasileiros, também. Torcida é o que não falta. Os cenários é que não ajudam. Em 2012, crescemos 1%, ou perto disso. Agora, as previsões são um pouco mais otimistas.
Se a economia não cresce, todo mundo sofre, mas quem está na base é que apanha mais. Até porque, se o "pibão" vira "pibinho", entra em funcionamento a diabólica máquina da exclusão social.
Começa pelos despejos. Em 2012, os aluguéis subiram 7,8%, ficando acima da inflação. Quem não consegue pagar vai morar na rua.
Com a economia fraca, cresce o desemprego. Entre os comerciários, por exemplo, foram demitidos cerca de 106 mil. E olhem que é uma categoria que trabalha com o consumo, um dos pilares da nossa economia.
Desemprego pode trazer desagregação familiar. De novo, a solução pode ser morar na rua. Some-se a isso ainda alcoolismo e uso de drogas. E a máquina da exclusão não para.
No Brasil, não há estatísticas confiáveis sobre moradores de rua. Pesquisa feita em 2009, pelo governo federal, em 71 cidades, encontrou 31 mil pessoas nessa situação. Mas há quem diga que, se considerarmos catadores de papel, flanelinhas e outros trabalhadores braçais, esse número pode ficar entre 300 mil e 1 milhão de pessoas, a maioria vivendo precariamente nas ruas.
Em São Paulo, a última pesquisa foi feita em 2011, pela prefeitura. A população de rua contabilizada chegava perto de 15 mil pessoas. De 2008 para cá, esse número dobrou. A grande maioria vivendo de bicos, sem carteira assinada e sem direito a benefícios sociais. E o que é pior: ainda não chegou até eles a lei que implantou a Política Nacional para a População em Situação de Rua, assinada pelo então presidente Lula, em 2009.
Pela lei, essa população deveria ter acesso à educação, trabalho, saúde, moradia e outros benefícios. Mas, até agora, quase nada disso existe.
É o que me conta, quase todos os dias, Anderson Miranda, um ex-morador de rua que desenvolve um trabalho com essa população pela União Geral dos Trabalhadores (UGT) e pelo Sindicato dos Comerciários de São Paulo.
Anderson é também coordenador nacional de População de Rua e foi contemplado pela presidente Dilma Rousseff com o Prêmio Direitos Humanos, pelo trabalho social que desenvolve.
Ele garante, enfático, que "Lula criou uma excelente lei", mas até agora o que funciona mesmo é o almoço de Natal -em 2012, realizado no dia 21 de dezembro, com a presença da presidente Dilma e do próprio Lula. Anderson diz que só acontece alguma coisa quando surge uma emergência. Nada mais.
Para vocês perceberem como a coisa é complicada, Anderson relata que "pouquíssimos moradores de rua" têm acesso a um dos 20 restaurantes Bom Prato (R$ 1 o almoço e R$ 0,50 o café da manhã), do governo estadual. "O pessoal chega mal vestido ou com cheiro de pinga e é barrado." Até mesmo o acesso a albergues é complicado, por causa das normas implantadas nesses locais. Morador de rua gosta mesmo é de dormir na rua.
A violência agora está mudando um pouco esse hábito. Aqui também não há estatísticas confiáveis. O jornal "O Trecheiro" (voltado para essa população) fez um levantamento em 2011 e constatou que, naquele ano, 142 pessoas em situação de rua foram mortas em nosso país.
Parece muito óbvio que, para mudar isso, temos dois caminhos: criar sistemas que não deixem as pessoas chegarem às ruas e implantar, de uma vez por todas, a lei criada por Lula.
E torcer para que o "pibão" de Dilma realmente aconteça.

    Um comentário:

    1. Parabens sobre o artigo! Sobre a prostatite, gostaria de saber sua opiniao sobre o uso do estimulador de prostata aneros para aliviar e prevenir esse problema! A massagem na prostata ajuda? abs!

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