terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Rodolfo Lucena [Equílibrio]

FOLHA DE SÃO PAULO

PORQUE SIM
Livro questiona 125 ensinamentos transmitidos de pais a filhos e mostra que muitos não passam de mito, segundo pesquisas científicas
RODOLFO LUCENADE SÃO PAULOPapai e mamãe, vovô e vovó não sabem tudo. Pior: muitos de seus ensinamentos inquestionáveis, usados ao longo de décadas para calar inquietações de seus rebentos, não passam de pura bobagem quando examinados sob a luz das estatísticas e da ciência.
É o que demonstra, com humor e ironia, o livro "Because I Said So!" (algo como "porque sim" ou "porque eu disse"), que traz o subtítulo "The Truth Behind the Miths, Tales & Warnings Every Generation Passes Down to its Kids" (a verdade por trás dos mitos, histórias e advertências que cada geração transmite a suas crianças).
O autor não é nenhum especialista em pedagogia; ao contrário, foi o conhecimento de generalidades que alçou o engenheiro de software Ken Jennings à categoria de celebridade instantânea.
Em 2004, ele ganhou 74 jogos do programa televisivo de perguntas e respostas "Jeopardy!", faturando US$ 2,52 milhões (mais de R$ 5 milhões), prêmio recorde nesse tipo de programa. De lá para cá, lançou dois livros sobre esses jogos e uma obra sobre geografia. Em dezembro último, chegou às lojas dos EUA (e à internet) o "Because I Said So", ainda sem previsão de publicação no Brasil.
A inspiração veio de suas próprias atribuições como pai de um garoto que gosta de correr pela casa chupando picolé. Numa dessas, gritou para o menino: "Pare, você vai acabar cravando o palito na boca!". O menino travou, assustado com a visão sanguinolenta, e disse: "É mesmo?".
Jennings não sabia a resposta e foi perguntar à própria mãe se ela se lembrava de algum acidente do gênero. Negativo, mas a mãe dela tinha dito que... De onde ele concluiu que a educação das crianças "é um gigantesco telefone sem fio que se arrasta pelas décadas". E resolveu examinar axiomas transmitidos de pai para filho.
Compilou 125 desses ensinamentos e buscou provas científicas de sua validade. Alguns são muito americanos, como "Não coma neve, vai fazer mal" -pura bobagem, descobre ele. Mas o leitor brasileiro vai encontrar frases ditas por seus pais e talvez repetidas por si próprio -a mim, caiu o queixo descobrir que guardar pilhas no congelador não lhes aumenta em nada a vida útil.
Pelo tom da escrita de Jennings -e pelo absurdo de algumas ordens-, a leitura é leve e dá margens a sorrisos. Mas também há temas mais pesados, como bullying.
Estatísticas de acidentes com crianças dão base a algumas afirmações do autor, que também cita estudos do mundo todo. E conta ainda com as descobertas de ganhadores do Prêmio Ig Nobel, paródia do Nobel que elege as mais esdrúxulas pesquisas.
Mesmo assim, nem sempre consegue afirmar se um dito é absolutamente verdadeiro ou falso. Afinal, muitas vezes as exceções são tantas que se aproximam da regra. Por isso, criou um "verdadeirômetro", em que relativiza seus vereditos: há afirmações basicamente falsas ou principalmente verdadeiras. Enfim, o mundo é cheio de nuances e assim também é a educação de nossas crianças.

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