segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Ruy Castro

FOLHA DE SÃO PAULO

Para Pedro
RIO DE JANEIRO - No Leblon, há um antigo e simpático botequim -daqueles em que o freguês fica de pé, voltado para a calçada, mascando palito e com um dos cotovelos fincado no balcão- chamado Para Pedro. É como se lê na fachada. Sempre achei que o nome era uma referência a algum Pedro que os donos do estabelecimento estimassem e quisessem homenagear. O Brasil é pródigo em Pedros, e este seria mais um a render preito. Mas então me alertaram que não era por isso.
Alguém me garantiu que, embora a placa dissesse "Para Pedro", a ideia era dizer "Pára Pedro", título de uma toada sertaneja de João Mendes e José Portela Delavy, de 1967, cantada por muita gente boa. E até me soprou o refrão, que eu juro que não conhecia: "Pára Pedro, Pedro pára /Pára Pedro, Pedro pára /Pedro pára, pára Pedro /Esse Pedro é uma parada". Tudo bem que 1967 foi o ano de "Alegria, Alegria", "Eu e a Brisa", "Quem Te Viu, Quem Te Vê", "Máscara Negra", "Travessia", "Ronda" e muitas mais, mas como eu podia ter perdido o "Pára Pedro"?
Argumentei que a placa podia estar certa -sem o acento diferencial no "para", ninguém era obrigado a deduzir que o nome do botequim tinha a ver com o tal Pedro, aquele a quem as mulheres imploravam para ele parar de fazer não sei o quê, ou não se responsabilizariam. E se o dono do boteco fosse fã de d. Pedro 2º? Mas não colou.
Bem, isso foi há anos. Outro dia, passando pelo Para Pedro, lá estava a placa, incólume. Só então me dei conta de que, sob o novo "Acordo" Ortográfico que nos impuseram, "pára", do verbo parar, passou a dispensar o acento. Erro e acerto tornaram-se uma coisa só e, a partir de agora, a placa do Para Pedro tanto pode significar "Pára Pedro" quanto "Para Pedro", mesmo.
O Para Pedro fez bem em nunca ter corrigido o seu possível erro. O "Acordo" errou por ele e o redimiu.

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