domingo, 27 de janeiro de 2013

Tereza Cruvinel - A caravana parte‏

Amanhã, o Planalto espera reunir cerca de 5 mil prefeitos em Brasília para ensinar a todos o caminho das pedras para parcerias com o governo federal. 

Tereza Cruvinel
Estado de Minas: 27/01/2013 
Melhor faria a oposição se, em vez de reclamar do tom eleitoral do pronunciamento da presidente Dilma Rousseff (PT) sobre a redução da tarifa elétrica, acertasse logo os ponteiros internos e passasse sebo nas canelas para não largar muito atrasada. Pois enquanto os tucanos paulistas lançam amanhã um manifesto exigindo prévias, o que só pode significar uma disputa de José Serra com Aécio Neves pela candidatura presidencial, a caravana dilmista já tomou a estrada de 2014. Janeiro nem acabou, mas já foram realizados ou planejados os seguintes movimentos:

1. Dilma ganhou a batalha pela redução das tarifas e respondeu com um pronunciamento no melhor estilo “bateu, levou”. Há problemas estruturais no setor elétrico, mas os reservatórios estão se enchendo, afastando o risco de desabastecimento. A redução tarifária foi possível em percentuais até maiores do que o prometido. A fala de quarta-feira passada, em cadeia de rádio e TV, de fato lançou farpas contra os críticos, os céticos e os governos estaduais tucanos, que refugaram a renovação de concessões sob novas regras tarifárias. Não quer dizer que se manterá na linha de confronto, mas, no caso, a reação era necessária, diz um colaborador.

2. Na sexta-feira, enquanto Dilma participava de evento ao lado do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) e do prefeito petista Fernando Haddad, no qual fez discurso ameno, mas tocou muito bumbo sobre as bondades de seu governo, o PT dava um passo importante. A tendência majoritária Construindo o Novo Brasil (CNB) decidiu apoiar a reeleição do deputado Rui Falcão (SP) para a presidência da sigla nas eleições diretas de outubro. Com isso, o PT chegará mais unido e coeso a 2014.

3. O ano passado terminou com os empresários reclamando de Dilma Rousseff  onde podiam, especialmente no ouvido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ela deu início às conversas individuais com eles, nas quais defende a política econômica, promete diálogo e cobra investimentos, lembrando as concessões ao setor privado para a exploração de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos. Na sexta-feira, enquanto o PSDB ameaçava processá-la, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, que nunca foi próximo do governo, elogiava, em nota, a presidente e a redução das tarifas de energia.

4. Amanhã, o Planalto espera reunir cerca de 5 mil prefeitos em Brasília para ensinar a todos o caminho das pedras para parcerias com o governo federal. Claro que isso ajuda na retomada do crescimento, mas é óbvio também que Dilma lança a rede buscando apoios político-eleitorais. O PT aproveitará para reunir, à parte, os próprios prefeitos, e com eles afinar o discurso.

5. Deixando de lamber a ferida do mensalão, o PT fará, talvez em fevereiro, quando completará 33 anos, mais provavelmente em março, porque o tempo está curto, um grande acontecimento para marcar os 10 anos de “governos petistas com mudanças para o Brasil”.

6. Em outra frente, o aliado principal, o PMDB, caminha para eleger os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado. Os candidatos enfrentam denúncias e Dilma finge não apoiá-los, mas está em curso o cumprimento de um acordo que consolidará a coalizão. A seguir, Dilma amarrará o PSD ao governo, colocando ninguém menos que o vice de Geraldo Alckmin, Guilherme Afif Domingos, na Esplanada. Resta o enigma Eduardo Campos/PSB, que, pelo menos este ano, se manterão na base dilmista.

7. Para completar, Dilma e Lula tiveram uma boa conversa na sexta-feira. Ele elogiou o pronunciamento dela e reiterou que entrará em campo para ajudá-la a se reeleger.

Diante desse quadro, a oposição não devia se dar ao luxo da disputa interna. Aécio mira corretamente em Dilma e na economia, mas continua lhe faltando a ordem unida no PSDB. 

Alguma luz
axO PT teve sete anos para dar sua versão do mensalão, mas não o fez, subestimando a pressão externa sobre o Supremo Tribunal Federal (STF). Outros se esforçam para iluminar as passagens mais obscuras do julgamento. A revista Retrato do Brasil, dirigida pelo jornalista Raimundo Pereira, traz, em sua última edição, uma sólida demonstração de que a verba publicitária da Visanet, de R$ 71 milhões, que, segundo a acusação e o STF, foi desviada para o valerioduto e disfarçada pelos empréstimos do Banco Rural, efetivamente pagou campanhas dos cartões Ourocard/Visa. Os repórteres mergulharam nos autos, cuja organização definem como balbúrdia, e encontraram os demonstrativos em apensos separados do volume que trata do assunto, aparentemente não lidos pelos ministros. Estão documentadas campanhas para rádio, TV, mídia impressa e mobiliário urbano, expressão que, em publicidade, refere-se a outdoors e painéis em ruas e outros locais públicos. A acusação entendeu que houve desvio para compra de móveis.


Diretas quando?
Na quinta-feira, 31, a nova direção nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) será eleita pelo seleto colegiado de 81 conselheiros. Para uma entidade que apoiou as Diretas Já e é historicamente comprometida com a democracia, é um contrassenso. Se depender do candidato Alberto de Paula Machado, esta será a última eleição indireta. Seu adversário, Marcus Vinícius Furtado Lobo, não se pronunciou a respeito.

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