domingo, 27 de janeiro de 2013

Vinicius Torres Freire

FOLHA DE SÃO PAULO

O eclipse do Brasil
País vive um momento de baixa econômica e tolice habitual ou enveredou por um novo mau caminho?
O BRASIL DESPIOROU, a gente dizia faz uns três, quatro anos. Cresceu um pouco, embora menos que vizinhos pobrinhos. Ficou menos desigual, para no entanto continuar ainda um dos países mais desiguais. Tornou-se algo menos violento, mas é um dos lugares onde mais se morre de tiro e acidente, onde se encarcera gente com mais vontade, de resto em muquifos revoltantes.
A gente quase toda continua naquela alegria inadvertida de quem pode comprar mais coisas, ver TV em telas maiores e enfiar a cabeça de toupeira em milhões de celulares equipados de bobagem, os novos antolhos e hábitos de quem não tem educação de qualquer espécie.
Não se trata de fazer troça dos pobres que entraram no mercadinho (da esquina), mas de dizer que é muito pouco e que está difícil de haver mais.
Seria este um mau humor dos tempos das depressões recorrentes no Brasil, típico das conjunções de economia lerda com irrupções mais agressivas de burrice e primitivismo?
Pode ser. Espera-se que o país pelo menos volte a crescer, por sorte, por motivos que ninguém viu ou pelos imprevistos da história do mundo, o que muita vez foi o nosso caso. Mas há movimentos com cheiro de inércia, maus passos num mau caminho de onde é difícil escapar.
Considere-se o caso da política. Já vimos, claro, a política dar cambalhotas. Mas o quanto já não seria sistemática a existência de um PMDB (ou similares), uma instituição de chantagem política e de distribuição de favores entre membros maiores e menores de elites regionais toscas? Não é nova essa geringonça política: tem um quarto de século. Já durou mais que a ditadura militar.
Esse PMDB deve eleger presidentes da Câmara e do Senado, que então estarão sob o mando de gente com notória ficha corrida, todos mandões nos Estados mais pobres e socialmente violentos do país.
O Congresso não tem lideranças relevantes que não sejam os negocistas ou líderes da bancada disso ou daquilo, que atuam especificamente para clientes ou interesses menos gerais. Os novos líderes políticos no Executivo, entre 40 e 50 e poucos, têm a capivara (ficha) algo mais limpa, assim como a cabeça, limpa de qualquer ideia.
Esse tipo de gente é capaz de propor mudanças institucionais? Alguma reforma social profunda, como dar conta do desastre educacional? São capazes de entender problemas da nova diplomacia econômica ou qualquer outra, aliás? De ciência e tecnologia? Parceiros, cracas, quando não sanguessugas ou salteadores, do Estado balofo e errado são capazes de reformá-lo?
O Brasil está a um passo de começar a envelhecer sem ter ido à escola, de perder a oportunidade de formar bem a maior geração de pessoas economicamente ativas -de perder a oportunidade de enriquecer, para nem falar de outras utilidades da educação, em geral menosprezadas por economistas (civilidade, democracia etc.). Alguém parece exasperado com tal coisa?
O presente governo popular e democrático parece preocupado com algo mais do que malabarismos para remendar os índices econômicos do mês que vem? Faz mais de década que, em economia, vivemos do remendo. Já é quase uma "era", outra era de insensatez, de burrice grudenta. Já era.

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