sábado, 9 de fevereiro de 2013

Atual, livro exibe a gênese da filosofia de Getúlio Vargas

folha de são paulo

CIFRAS & LETRAS
CRÍTICA DESENVOLVIMENTISMO
Economistas reúnem ensaios de oito autores sobre os anos do ex-presidente
ELEONORA DE LUCENADE SÃO PAULO"[Getúlio] Vargas acreditava, como muitos homens de sua época, que o mercado livre e autorregulado não garantia o desenvolvimento econômico nem reduzia a desigualdade social, mas tendia a aprofundá-la em meio a crises econômicas e sociais graves e recorrentes."
Com essa ideia, os economistas Pedro Paulo Zahluth Bastos (Unicamp) e Pedro Cezar Dutra Fonseca (UFRGS) fazem a introdução de "A Era Vargas - Desenvolvimentismo, Economia e Sociedade". O livro reúne ensaios de oito autores que abordam diferentes ângulos das políticas daquele que é considerado o maior estadista brasileiro.
Os textos esquadrinham desde a origem do pensamento de Vargas até o seu legado.
Apresentam a gênese do desenvolvimentismo, que se desdobrou na criação da Petrobras, da Vale, do BNDES, da Eletrobras, da CSN e tantas outras instituições.
Fonseca vasculha textos de exames do político na faculdade de direito e encontra neles a defesa da ação do Estado e da necessidade de organização sindical dos trabalhadores brasileiros.
Isso em 1906, muito antes da Carta Del Lavoro, de Benito Mussolini, por muitos considerada a inspiração das leis trabalhistas.
Analisando o governo de Getúlio Vargas no Rio Grande do Sul (1928-1930), o economista mostra como o líder rompeu com a austeridade defendida por credores e partiu para uma política heterodoxa de estímulo ao crédito e investimentos, com forte atuação estatal.
Foi no governo gaúcho "que o desenvolvimentismo pela primeira vez expressou-se de forma mais acabada", escreve Fonseca.
Já Luiz Carlos Bresser-Pereira faz uma análise política. Para ele, foi o nacionalismo econômico de Vargas que o tornou um estadista, e foi o caráter nacional-popular de seus dois governos que abriu espaço para a democracia no Brasil, ao promover a revolução capitalista.
Bresser-Pereira lembra que Vargas possui muitos adversários: os remanescentes da oligarquia exportadora paulista, os intelectuais de esquerda da USP e os "neoliberais de hoje, cuja hegemonia desde 1991 levou o Brasil novamente à condição de quase colônia".
Na época de Getúlio, diz Bresser, o pensamento dominante "vindo do Norte" pregava que o Brasil era um "país essencialmente agrário". Essa visão era abraçada pelas elites, que eram "mais comprometidas ou compromissadas com as elites internacionais do que com o próprio povo".
Avaliando a macroeconomia, Pedro Bastos narra as pressões de interesses internos e externos.
O autor mostra como, apesar delas, foi construído um projeto que "subordinava as políticas macroeconômicas às necessidades de expansão interna, mais do que às exigências de austeridade dos credores externos".
Nos textos são destrinchados projetos, medidas, pressões. Moratória da dívida, crise cambial, negociação para a instalação da CSN, nacionalizações, tratativas com estrangeiros: o livro é bem abrangente, traz contextos e aprofunda temas.
Os ensaios mergulham nos debates políticos e ideológicos do período.
Muitas das questões analisadas na obra são atuais: austeridade e crescimento, investimento externo e capital nacional, inflação e câmbio, projetos de longo prazo. "A grande tarefa do momento, no nosso país, é a mobilização de capitais nacionais."
A frase, que poderia ser dita pela presidente Dilma Rousseff, é de Getúlio Vargas em entrevista de 1938. Conhecer aquela era ajuda a entender os impasses de hoje.
A ERA VARGAS - DESENVOLVIMENTISMO, ECONOMIA E SOCIEDADE
AUTOR Pedro Paulo Zahluth Bastos e Pedro Cezar Dutra Fonseca
EDITORA Unesp
QUANTO R$ 69 (476 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo

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