quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Kenneth Maxwell

folha de são paulo

'Bella Italia'
A eleição geral italiana foi uma expressão retumbante de rejeição às medidas de austeridade adotadas como parte de um pacto fiscal com a Comissão Europeia.
A indicação de um governo de tecnocratas dirigido por Mario Monti, ex-integrante da Comissão Europeia, depois da renúncia do premiê Silvio Berlusconi ao final de um longo período no poder, em novembro de 2011, resultou na imposição de medidas de austeridade, fruto de um acordo com a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu.
Isso causou, porém, queda nos salários e nas aposentadorias, aumento nos impostos e alta no desemprego, diante de um pano de fundo de escândalos de corrupção na elite italiana e da mais longa recessão que o país enfrenta desde a Segunda Guerra. As medidas fiscais do "super-Mario" tinham muito mais apelo em Bruxelas e em Frankfurt do que em Roma.
Mario Monti renunciou em dezembro depois que o partido conservador de Berlusconi retirou o apoio ao seu governo. Na eleição geral, Monti conseguiu obter só 10% dos votos. A vasta maioria dos italianos talvez não soubesse o que quer. Mas ainda assim rejeitou decisivamente a austeridade.
A crise das dívidas nacionais na zona do euro voltou com toda força. A Itália é a terceira maior economia da zona do euro. Sua dívida pública equivalia a 127% do seu PIB em 2012 e deve atingir os 128% em 2013, o segundo maior patamar na Europa, abaixo da Grécia. As ações dos grandes bancos europeus caíram em mais de 4% assim que o resultado da eleição ficou claro.
Com o comparecimento de 75,2% dos eleitores, o mais baixo desde que a Itália se tornou uma república, a centro-esquerda comandada por Pier Luigi Bersani ficou com 29,54% dos votos. A centro-direita registrou 29,19%, e o indomável Berlusconi, 76, premiê por três vezes, provou que está de volta, a despeito de condenações por fraude tributária e de acusações de que pagou por sexo com menores de idade, entre outras transgressões.
Mas o verdadeiro vencedor foi o "Movimento Cinco Estrelas" (M5S), uma organização nova que combate as elites tradicionais, criada há três anos pelo comediante Beppe Grillo, que obteve 25,55% dos votos, a maior fatia entre os partidos individuais.
A crise do euro não é o único problema no horizonte. Em 1º de março, entra em vigor o bloqueio de gastos nos EUA, um procedimento legal que deflagrará cortes de gastos públicos, nos termos da lei de controle orçamentário de 2011. A não ser que surja um acordo de último minuto, haverá um corte de gastos de US$ 85 bilhões.
A política monetária se tornou vítima das rivalidades políticas internas, dos dois lados do Atlântico.

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