terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Um novo modelo de ativismo-Juliana Colares

Seja para discutir temas nacionais, fiscalizar a aplicação de recursos públicos ou apenas protestar, jovens em todo o país usam as redes sociais como ferramenta de mobilização 

Juliana Colares
Estado de Minas: 11/02/2013 
Brasília – A ampla sala da Casa 14 de um conjunto residencial do Lago Sul, em Brasília, não recebe mobília definitiva há mais de um ano. A brancura das paredes é quebrada por cartazes de manifestações e bandeiras de movimentos sociais dispostos no ambiente. As bandeiras dos movimentos Sem Terra e Sem Teto dividem espaço com um cartaz de cores verde e rosa, onde o símbolo do sexo masculino é adornado pelas palavras “homem, deixe o feminismo te libertar”. Em um tripé mais adiante, um banner ostenta o slogan dos jovens moradores da Casa 14: “Imaginar para revolucionar”. Com menos de 26 anos, integram o Brasil e Desenvolvimento (B&D), grupo político nascido no universo estudantil da Universidade de Brasília (UnB), sonhavam interferir na realidade política e social do Brasil. “Revolução”, dizem, “é lutar por uma nova política, mais inclusiva e participativa, mais justa e mais humana”. O campo de luta é a rede mundial de computadores.

“A internet é fundamental. É nossa principal ferramenta de articulação e participação política. Lá, postamos vídeos que suscitam discussões, publicamos artigos e nos conectamos com outras pessoas e até com outros coletivos, o que nos ajuda a montar e participar de ações mais amplas”, disse Edemilson Paraná, jornalista, mestrando em sociologia e analista de comunicação do Ministério Público da União, militante do B&D.

A ferramenta preferida desses coletivos são as redes sociais. É nelas que o grupo recifense Direitos Urbanos (DU) se organiza, promove discussões, recebe sugestões e disponibiliza artigos que fomentam as ações. A mais conhecida é a luta para evitar que um cartão-postal da capital pernambucana, o Cais José Estelita, hoje ocupado por armazéns há muito em desuso, dê lugar a 13 edifícios com até 37 andares. A obra, defendem, alteraria irremediavelmente a paisagem, impactaria o trânsito e impediria o uso coletivo do espaço. Não será surpresa se o empreendimento de fato for construído, apesar dos protestos. Mas o DU conseguiu — por meio de discussões on e off-line, da participação massiva em audiências públicas, dos atos apelidados de Ocupe Estelita – acionar o Ministério Público, pautar a imprensa e chamar a atenção da sociedade recifense para o assunto.

Informação Também nascido da vontade de provocar mudanças, um outro grupo, o Transparência Hacker, acredita no poder do conhecimento e trabalha coletivamente para munir a sociedade com informação. Com braços em São Paulo, Belém e Brasília, trabalham para transformar dados crus, desconexos em textos passíveis de interpretação pelo cidadão comum. O grupo de Brasília reuniu, por exemplo, todas as emendas parlamentares rubricadas pelos deputados distritais em 2012 e montou um mapa geolocalizado que permite que o usuário saiba para quais ações os recursos estão sendo direcionados, possibilitando a consulta por região administrativa do Distrito Federal. O resultado está no site www.eufiscalizo.com.br. Agora, eles estão fazendo o mesmo com as emendas de 2013. O resultado está sendo publicado no emendas.crowdmap.com. “A palavra hacker foi deturpada. Hacker é aquele que revela o que está velado, partindo do conceito de que o conhecimento pertence a toda a humanidade”, argumenta um dos militantes, Dênis Lima, de 37 anos.

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