domingo, 24 de março de 2013

É guerra! - Mariana Peixoto

Estreia globalizada de Game of thrones tenta conquistar novos assinantes e driblar o ataque da pirataria. Ano passado, apenas um episódio contabilizou 4 milhões de downloads ilegais 


Mariana Peixoto

Estado de Minas: 24/03/2013

A batalha pelo Trono de Ferro vai recomeçar. Pelo segundo ano consecutivo, a HBO estreia sua principal série simultaneamente nos Estados Unidos e na América Latina. Domingo que vem – e durante os próximos dois meses e meio –, Lannisters, Baratheons, Starks e Targaryens voltam a tomar de assalto a TV paga. A terceira temporada de Game of thrones adapta uma parte de A tormenta de espadas, volume nº3 de As crônicas de gelo e fogo, de George R. R. Martin, o “Tolkien americano”, como é chamado o autor que se tornou fenômeno de vendas da literatura fantástica.

Não iniciados certamente ficarão a ver navios se ligarem a televisão para conferir o que vão aprontar as famílias que se digladiam pelo comando dos Sete Reinos. Este ano, nova leva de personagens chegará a Westeros. A exemplo de todas as sagas do gênero – O senhor dos anéis como referência maior –, a de Game of thrones demanda fidelidade dos seguidores, dada a profusão de nomes e reviravoltas. A série foi também a mais pirateada em 2012. Por isso, a estreia no mesmo dia é estratégica tanto para aumentar o número de assinantes quanto para tentar conter a tempestade de downloads ilegais.

A adaptação televisiva – exibida desde 2011 – só veio aumentar a adoração em torno da obra de Martin. Editado pela Leya no Brasil, o autor vem comentando em seu próprio site que visitará o país – até agora, a data não foi confirmada. Fala-se em 2015, pois o escritor não poderá comparecer à Bienal do Rio deste ano. Jornalista de formação, roteirista e escritor, Martin publicou A guerra dos tronos, o primeiro volume da série, em 1966, nos Estados Unidos.

Inicialmente, a saga fantástica se restringiria a uma trilogia. Logo, George R. R. Martin acrescentou mais um volume. Cinco dos sete livros prometidos já foram lançados e os dois últimos ainda nem começaram a ser escritos.

O grande mérito da produção da HBO – além da reconstituição impecável, dos figurinos e cenários e das grandes interpretações – é conseguir contar, em 10 episódios de uma hora, a narrativa que se desenrola em calhamaços de 700, 800 páginas.

Os fãs da TV – muitos sem coragem de se aventurar nos livros, que a cada capítulo trazem o ponto de vista de um personagem – pouco ou nada perdem da complexa trama, que pode ser traduzida pela crônica de uma guerra civil entre famílias. Embalados por vinganças, jogos de interesse e muito sexo, esses clãs disputam o controle dos Sete Reinos.

GAME OF THRONES
Estreia da terceira temporada. Dia 31, às 22h, na HBO

Na Baía dos Escravos

Os Lannisters asseguram seu domínio sobre Porto Real depois de repelir as forças de Stannis Baratheon. Mas Robb Stark, rei do Norte, ainda controla boa parte do Sul. Além da Muralha, Mance Rayder une os selvagens no maior exército que Westeros já viu. Só a Patrulha da Noite se coloca entre ele e os Sete Reinos. Pelo Mar Estreito, Daenerys Targaryen e seus três dragões, em rápido crescimento, aventuram-se pela Baía dos Escravos em busca de navios e aliados que a levem de volta para casa.

Dobradinha eficaz 


Interesse pela série televisiva Game of thrones tem repercussão no mercado de livros. Fãs da saga costumam conferir as páginas de George R. R. Martin e as novidades na internet
 



Mariana Peixoto


Pesquisador de literatura fantástica e ficção científica, o escritor e compositor paraibano Bráulio Tavares é fã de Game of thrones. Mas só na TV. A despeito de seu interesse pelo gênero, ele decidiu não se aventurar no épico de George R. R. Martin.

“Conheço o autor há muitos anos, desde a época em que escrevia ficção científica. Ele é bem conceituado, traz ideias interessantes, mas tenho muita coisa para ler. Para me dedicar a um livro de 800 páginas, ele deve ser muito importante. As séries atuais estão imensas, com ritmo lento. O pessoal que veio depois do Tolkien, pois o modelo é dele, não diz que está começando a escrever um livro, mas uma trilogia. Escrevem 700, quando poderiam muito bem contar a história em 500 páginas”, afirma.

Mesmo assim, Tavares foi rapidamente fisgado pela adaptação televisiva de Game of thrones – inclusive, está se preparando para rever, esta semana, as duas primeiras temporadas. Comprou os livros, que servem mais como guia quando surgem dúvidas sobre a narrativa. Como pesquisador, ele discorda da hierarquização de gêneros. E manda um recado àqueles que consideram a literatura fantástica gênero menor: “Hoje, há a ditadura do realismo. Não tenho nada contra, alguns dos meus autores prediletos são realistas. Mas por que não pensar nos problemas da nossa sociedade falando de um mundo imaginário?”

Inglês Antes de chegar ao Brasil, em 2010, As crônicas de gelo e fogo tinham versão portuguesa, lançada pela editora Saída de Emergência. Muitos fãs, por sinal, foram obrigados a procurar livros editados em outros países, dada a demora da tradução brasileira. A estudante de jornalismo Leonora Laporte, de 23 anos, leu o quinto volume, A dança dos dragões, em inglês.

“Ouvi falar da série por causa dos fóruns de internet que frequento. Mas só comecei a ler quando fiquei sabendo da adaptação da HBO”, afirma ela. Fã de literatura fantástica desde a infância, Leonora descobriu Tolkien aos 9 anos. Ainda que a profusão de personagens criados por Martin seja enorme, a estudante garante que não dá para se perder na história. “Todos são únicos, têm um jeito de pensar próprio”, explica.

Sem titubear, ela conta que o terceiro volume é o preferido. “Muda tudo na história, é onde há a maior reviravolta. Aqueles que acharam que era muita coisa Ned Stark morrer na primeira temporada vão se surpreender”, avisa. Como a adaptação televisiva exibirá nesta temporada só metade do terceiro volume, pode ser que a tal reviravolta só ocorra em 2014.


Personagem da notícia/Tiago Dadazio
Marqueteiro


Chance de ouro

Game of thrones, como todo fenômeno atual, cresce ainda mais na internet. Tem sua própria plataforma Wiki (http://awoiaf.westeros.org), em inglês, com 5 mil artigos e versões em nove idiomas. Páginas em redes sociais nascem a cada dia. Formado em marketing, Tiago Dadazio, de 26, criou em 2012 a GOTBrasil, no Facebook. “Vi a oportunidade de ter uma página de sucesso sobre a série que vinha se destacando. Quis também geri-la de forma diferente”, afirma Tiago. Apostando no humor, por meio de jogos, desenhos e fotos, ele obteve 10 mil “curtidas” esta semana. Nada disso, no entanto, fez com que começasse a ler a saga de Martin. “Sinceramente, nunca fui bom leitor”, reconhece.



De olho no sucesso


Em julho de 2009, o escritor Raphael Draccon iniciou a campanha que demandou mais de um ano: convencer a editora Leya a comprar os direitos da série As crônicas de gelo e fogo. Até então reticente quanto à obra de George R. R. Martin, a editora só se convenceu a reavaliar os livros no ano seguinte (até então, quatro dos sete volumes haviam sido lançados), quando a HBO anunciou que adaptaria a saga para a TV.

“Também batalhei para que não usassem aqui as capas americanas, mas as francesas. Deu supercerto”, relembra Draccon. Aos 31 anos, o roterista e escritor segue os passos de Martin. Sua própria série, Dragões de éter, já bateu a casa dos 200 mil exemplares vendidos no país.

Este ano, Draccon entrou para o time de autores do grupo editoral Random House, um dos maiores do mundo, que comprou os direitos em língua espanhola da série. O primeiro volume de Dragões de éter será lançado no México até o início do próximo semestre. De lá chegará à Argentina e, dependendo da repercussão, a outros países de língua espanhola.

Raphael Draccon integra o corpo editorial da própria Leya e é responsável pelo selo Fantasy – Casa da Palavra, especializado em literatura fantástica. Criado há um ano, esse departamento conta com cinco autores nacionais, como Carolina Munhoz e Fábio M. Barreto.

Draccon diz que é enorme a quantidade de originais que recebe. “Hoje, todo mundo quer ser escritor. Mas é a Fantasy que chega a eles. Para entrar no selo, a pessoa tem que se destacar no mercado. Aquele sujeito recluso, ermitão, não tem mais espaço. Além de apresentar sua obra, o escritor deve participar de eventos, fazer palestras e estar na internet, seja em redes sociais, blogs ou videologs. São autores que não dependem da editora”, conclui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário