sexta-feira, 15 de março de 2013

Ruy Castro

folha de são paulo

Estatística macabra
RIO DE JANEIRO - Estudo recente da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, é de alarmar qualquer um. Seu autor, o pesquisador David Spiegelhalter, afirma que certos hábitos reduzem a vida de um cidadão em até meia hora. Por exemplo: fumar dois cigarros, tomar uma ou mais doses de bebida alcoólica, estar 5 kg acima do peso, comer um hambúrguer ou assistir à TV por duas horas seguidas. Cada uma dessas imprevidências pode limar 30 minutos da nossa expectativa de vida.
Assustei-me. Durante 40 anos em que andei em más companhias, fumei pelo menos um maço por dia, ou 14.600 maços. Multiplicados por 20, que são o conteúdo de um maço, terei acendido 292 mil cigarros. Se abatermos meia hora de vida por cada dois dos 292 mil, concluo que morri -bem feito para mim- e esta coluna está sendo escrita por um ectoplasma. O mesmo quanto à bebida. Parei com ela há 25 anos, mas o que bebi nos 20 anteriores faz com que, pelos cálculos do dr. Spiegelhalter, eu já esteja devendo vá-rias encarnações.
Sobrepeso? Nem me fale. Devo ter perdido até hoje mais de 500 kg, mas não só os recuperei um a um como ganhei um excedente crônico. E nunca fui de hambúrgueres, mas isso não me alivia a consciência, pesada por 25 mil bolas de sorvetes -média de mil por ano- tomadas também em 25 anos. E não ligo para TV, exceto quando há gente de vermelho e preto correndo atrás da bola, o que acontece até duas vezes por semana.
Enfim, tirando um excesso pelo outro e subtraindo 30 minutos de vida para cada categoria em que exorbitei, deduzo que já fui há muito para o São João Batista.
Minha preocupação agora é que, convidado a participar mensalmente de um programa de esportes na TV, eu vá contribuir para a estatística macabra. O programa dura duas horas -meia hora de vida a menos para o querido telespectador.

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