sábado, 6 de abril de 2013

A melhor alternativa - CANDIDO MENDES


O Globo - 06/04/2013

A multiplicação das perplexidades destes dias nos governos italiano e francês contraria o que pensávamos fosse, de vez, o aperfeiçoamento da democracia. Deparamos o confronto inédito entre poder e governo, no regime tecnocrático “de sobrevivência”, proposto pelo presidente Napolitano; a superação do voto em urna pelo voto virtual, ou as regressões na apropriação fiscal, na tarefa do Estado de prover o bem-estar social. Ou, mais ainda, é a superação do partido como denominador da força política, que sugere o Movimento das Cinco Estrelas (M5S), do comediante Beppe Grillo, no controle de quase 25% dos votos italianos, mas que não quer se aprisionar nas “gaiolas” da militância tradicional. Não é, por outro lado, o caminho clássico do plebiscito que essas novas forças pretendem, tanto prosperem as presunções das maiorias, enquanto aprisionadas pela ditadura midiática sobre a opinião pública.

Já vivemos o plebiscito diário da internet como prenúncio de que a nova democracia é a da “cidadania atenta”: esta que, definitivamente, escapa ao domínio da informação sobre o quotidiano político. Veem, muitos, na irreversibilidade da atual crise italiana, um descarte definitivo da contabilidade eleitoral clássica para o aperfeiçoamento democrático. Numa curiosa ressonância, estes paradoxos saem, já, do modelo político para o econômico, no futuro esperado tanto pelos regimes socialistas, como liberais, como evidenciou o primeiro debate público de François Hollande.

Reconhecendo a saturação fiscal francesa, prega, ao mesmo tempo, a superação da austeridade, diante do novo fruir, que exige, neste começo de século XXI, a redução do sacrifício social, frente às razões de Estado. De outro lado, o novos e gigantescos consórcios financeiros com o dinheiro público deixam o neoliberalismo frente a um conflito crescente, entre o que seja, ainda, o bem-estar coletivo, diante de uma tomada de consciência da injustiça social e da concentração de rendas dos regimes assumidos, ainda, como capitalistas. De toda forma, o caminho à frente pressupõe algo de novo na democracia. Ou seja, a noção que consagrou Hollande, hoje, como a garantia de “normalidade”, independentemente da promessa de melhora social, e do novo engenho e arte, ao reconhecer o presente status quo como a melhor alternativa a qualquer tentação de mudança.

Candido Mendes é integrante do Conselho das Nações Unidas para a Aliança das Civilizações

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