sábado, 6 de abril de 2013

Filha do ex-presidente Reagan diz que pai teria apoiado o casamento gay

UOL
New York Times


Sheryl Gay Stolberg
Enquanto políticos republicanos lutam contra o casamento homossexual, a filha de um ícone do partido – o ex-presidente Ronald Reagan – disse em entrevista concedida esta semana que ela acredita que seu pai teria ficado "perplexo" com a confusão política causada pelo tema, e que ele teria apoiado o casamento gay.

Patti Davis, escritora de Los Angeles, ex-rebelde e filha de Ronald Reagan e de sua segunda esposa, Nancy, disse em entrevista por telefone que nunca discutiu o tema do casamento homossexual com o ex-presidente, que morreu em 2004, quando o tema começou a despontar como questão política importante nos EUA.
Mas Patti, que atualmente tem 60 anos, ofereceu diversas razões pelas quais seu pai, que faria 102 este ano, teria ido contra seu partido em relação ao assunto: a aversão dele à intromissão do governo na vida privada das pessoas, sua carreira de ator em Hollywood e sua estreita amizade com um casal de lésbicas que certa vez cuidou de Davis e de seu irmão mais novo, Ron, enquanto seus pais estavam em férias no Havaí – e que dormiu na cama king size de Reagan.


"Eu cresci em uma época na qual os amigos de nossos pais eram todos chamados "tia" e "tio"", disse Davis. "Então, eu tinha uma tia e uma tia. Nós as víamos durante as férias e em outras ocasiões". E ela acrescentou: "nós nunca falamos sobre isso, mas eu entendia que elas eram um casal".


Certa vez, quando Patti e seu pai estavam assistindo a um filme de Rock Hudson, ela comentou que o ator "tinha um ar estranho" ao beijar a atriz que fazia par romântico com ele. Patti disse que seu pai explicou que Hudson "preferiria estar beijando um homem", e transmitiu, sem usar as palavras homossexual ou gay, a ideia de que "alguns homens nascem para com o desejo de amar outros homens". Anos mais tarde, em 1985, Hudson morreu de Aids.

Patti, ex-atriz que já foi notícia por ter posado nua na Playboy e, mais recentemente, na revista More, acabou de publicar de forma independente um romance, "Till Human Voices Wake Us," ("Até que as Vozes Humanas nos Despertem", em tradução livre), sobre cunhadas que se apaixonam e abandonam seus respectivos maridos para viverem juntas. (Ela disse que o romance não é autobiográfico.)

A primeira vez que ela compartilhou suas opiniões sobre seu pai foi com um amigo, Howard Bragman, que tem um show no YouTube dedicado a temas gays e que a entrevistou sobre o livro que ela havia escrito.

Patti não é a única descendente de Reagan a falar sobre o casamento homossexual. Michael E. Reagan, comentarista conservador e filho do ex-presidente e de sua primeira mulher, Jane Wyman, recentemente escreveu um artigo no qual acusava algumas igrejas de terem "amarelado" por não estarem lutando com mais afinco para impedir a aprovação do casamento homossexual.

Mas o filho mais velho de Reagan não abordou os pontos de vista de seu pai, e Patti disse que não iria "entrar em uma briga familiar" com seu meio-irmão.

Reagan teve uma atuação ambígua em relação aos direitos dos gays. Como presidente, ele enfureceu muitos gays com sua lenta resposta à epidemia de Aids. Mas, como governador da Califórnia, ele se juntou a vários democratas, incluindo o presidente Jimmy Carter, na oposição a um referendo que teria proibido gays e lésbicas de trabalharem em escolas públicas.


Patti disse que seu pai "não acreditava que a homossexualidade fosse uma escolha", embora "como um homem heterossexual e à moda antiga, ele não compreendia muito bem a situação".

Os comentários de Patti certamente enfurecerão os admiradores conservadores de seu pai.

Phyllis Schlafly, uma ativista conservadora e opositora dos direitos dos gays, disse em entrevista que Reagan – que, quando foi governador assinou a primeira lei de divórcio que não atribuía a culpa pela separação a nenhum dos cônjuges, e mais tarde disse que seu filho Michael era seu "maior arrependimento" – nunca apoiaria o casamento homossexual.

"É claro, Reagan se associou ao povo de Hollywood, e é bem provável que ele conhecesse vários gays", disse Schlafly. "Eu posso compreender que ele não quisesse impedir os gays de trabalhar, mas isso não significa que ele quisesse que eles obtivessem uma certidão de casamento."

Patti disse que espera provocar o descontentamento dos conservadores em relação a ela, e acrescentou: "Eu conheço muito bem o coração do homem que me criou e foi meu pai".


Tradutor: Cláudia Gonçalves 

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