quarta-feira, 24 de abril de 2013

Sexualidade sem fronteiras - Claudia Collucci

folha de são paulo
Quase 40 anos atrás, o psiquiatra Flávio Gikovate chocou as mocinhas da época ao ensinar na sua coluna na revista "Capricho" 
que existia sexo sem amor. 




No início da década de 90, lançou no país o termo "ficar", que havia ouvido de um jovem paciente no consultório.
De lá para cá já pregou o fim da atual noção de amor, que considera uma "imaturidade não resolvida nos seres humanos", e a vitória da individualidade.
"O romantismo do século 21 não será mais essa ideia de fusão de duas metades, e sim a aproximação de dois inteiros", defendeu em 2008, quando lançou a obra "Uma História do Amor... com Final Feliz".
Em 2010, Gikovate interpretou a si mesmo e foi analista do personagem de Marcello Antony (Gerson) na novela "Passione" (Globo), de Silvio de Abreu. O personagem era viciado em pornografia.
"O que não falta em meu rol de pacientes são meninos mimados que usam a internet para extravasar alguma fixação erótica", disse o psiquiatra à época.
Agora, aos 70 anos, Gikovate levanta mais um tema polêmico. Seu mais recente livro "Sexualidade sem Fronteiras" fala do caráter lúdico do erotismo, desvinculado do compromisso social.
Para ele, devemos ser livres para (re)direcionar nossos interesses eróticos da forma como bem nos aprouver.
"Só assim, os rótulos se tornaram descabidos e desnecessários, e em vez de falarmos em hétero, homo ou bissexualidade, falaremos em sexualidade.
Isso significa que, para Gikovate, as pessoas podem, ao longo da vida, relacionar-se com pessoas do sexo aposto ou do mesmo sexo, de acordo com seus desejos, livres de preconceitos.
Ele acredita uma nova revolução sexual esteja em curso, embora o caminho ainda seja longo. "Falta a liberdade de exercer o ato sexual de forma lúdica e totalmente desprovida de preocupação com a performance e o desejo de impressionar o parceiro."
"Falta também entender que o sexo é muito mais rico e gratificante quando vivenciado no contexto de uma relação amorosa de boa qualidade, fundada em afinidades de caráter, gostos e interesses."
Uma relação mais parecida com a amizade. "Sei que isso ainda é um tanto difícil para a maioria, pois, quando existem essas afinidades, muitas vezes o sexo se mostra menos exuberante."
"Trazer o sexo para o domínio do amor, desfazendo a tradicional aliança com a agressividade, é um dos grandes desafios da atualidade, independentemente de qual gênero seja o parceiro", diz ele
.
Esse e outros temas que envolvem o amor e a sexualidade serão o mote da sabatina que a Folha promove hoje com Gikovate, às 14h, no Teatro Folha. Eu e minhas amigas jornalistas Iara Biderman e Heloísa Helvécia, editora de "Equilíbrio", seremos as entrevistadoras.
Avener Prado/Folhapress
Cláudia Collucci é repórter especial da Folha, especializada na área da saúde. Mestre em história da ciência pela PUC-SP e pós graduanda em gestão de saúde pela FGV-SP, foi bolsista da University of Michigan (2010) e da Georgetown University (2011), onde pesquisou sobre conflitos de interesse e o impacto das novas tecnologias em saúde. É autora dos livros "Quero ser mãe" e "Por que a gravidez não vem?" e coautora de "Experimentos e Experimentações". Escreve às quartas, no site.

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