Conhecido como criador do seriado Lost, 
J.J. Abrams assume ao mesmo tempo o comando de Star trek e Star wars e 
diz que TV ousa muito mais que o cinema 
  
Mariana Peixoto
    Estado de Minas: 19/05/2013 
Cidade
 do México – É com um certo desconforto que J.J. Abrams fala sobre uma 
questão recorrente quando seu nome vem à tona: será ele uma versão 
atualizada de Steven Spielberg e George Lucas? “Obrigado pela gentileza,
 mas obviamente não há um novo Spielberg ou Lucas. Sinto que tenho muita
 sorte em estar envolvido com esses dois projetos, que são muito maiores
 do que qualquer um de nós.” Os dois projetos são Star trek e Star wars.
 Abrams, um baixinho de conversa fácil e com pinta de rapaz que mora ao 
lado, é o nome que assina as versões contemporâneas, para o cinema, das 
icônicas séries de ficção científica. 
Do nosso Jornada nas 
estrelas, que ele já assumiu nunca ter sido fã ardoroso, é quase um 
veterano. Em 2009 lançou o primeiro filme da nova versão da série, que 
agora ganha um segundo longa-metragem. Além da escuridão – Star trek 
começou sua trajetória na última semana em vários países, México 
incluído, onde o diretor e produtor recebeu a imprensa latina – no 
Brasil, o filme só chega aos cinemas em 14 de junho. Ainda que o 
objetivo fosse outro, nas conversas com a imprensa muito se falava sobre
 Star wars, uma vez que Abrams assumiu o Episódio VII, o primeiro de 
três novos filmes de Guerra nas estrelas (este com lançamento em 2015) 
que a Disney vai produzir depois de comprar a Lucasfilm (produtora de 
George Lucas) no ano passado.
E para quem duvida de sua força na 
indústria do entretenimento atual, vale lembrar que quem fez a ponte 
para que ele chegasse a George Lucas foi o próprio Spielberg, que 
produziu Super 8, filme dirigido por Abrams. Desfeito qualquer 
desconforto, Abrams versa sobre o que entende melhor do que ninguém: 
como fazer a ponte entre TV e cinema, coisa que ele se tornou mestre. 
 “Se
 você olhar bem, as melhores histórias são contadas hoje na televisão, 
que consegue arriscar mais. Acredito e espero que os estúdios de 
Hollywood vejam como todos estão famintos por esse tipo de coisa. 
Diretores e roteiristas realmente amam fazer filmes que significam 
alguma coisa para eles, mas grande parte das vezes vemos filmes que 
sabemos que saíram de decisões de marketing. A TV não parece sofrer 
tanto disso, depender tanto dos departamentos de marketing. Realmente 
espero que o cinema possa seguir o mesmo caminho.”
Até chegar ao 
lugar que ocupa hoje, Abrams foi bastante testado. Na televisão, sua 
primeira “casa”, traz como principal credencial a emblemática Lost. 
Antes e depois, colecionou, como produtor-executivo, atrações como 
Felicity, Alias, Fringe, Person of interest e Revolution, essa última 
atualmente em cartaz no canal pago Cinemax. Nem todas foram tão 
bem-sucedidas quanto Lost, mas conseguiram firmar sua marca – e a de sua
 produtora, Bad Robot, que ele fundou no final dos anos 1990 em Los 
Angeles com um grupo de amigos. No cinema, outra franquia milionária em 
que ele está envolvido é Missão impossível (dirigiu o terceiro, produziu
 o quarto e vai fazer também o quinto).
Mesmo atuando em projetos
 que nasceram nas mãos de outros  – Abrams é de 1966, mesmo ano em que 
Gene Roddenberry lançou Star trek na TV americana – ele consegue 
personalizar seus trabalhos. Para atingir um novo público com os dois 
filmes Star trek, ele partiu do pressuposto de que não iria fazer filmes
 somente para os trekkers. No filme de 2009, num espaço temporal 300 
anos à frente, colocou dois jovens Kirk (Chris Pine) e Spock (Zachary 
Quinto), naturalmente opostos (um é pura paixão; outro só 
racionalidade). Para o segundo, ele aprimorou as ideias do primeiro, 
respeitando o passado da série, apresentando muitas referências, mas 
deixando caminho aberto para que os neófitos nos tripulantes da 
Enterprise possam entrar na aventura sem maiores problemas.
O 
elenco, bem à vontade ao lado do diretor, fala com naturalidade sobre 
atuar sob as lentes dele: “Quando o capitão do navio é um bom homem, 
nosso trabalho se torna muito mais fácil. Ficamos unidos pelo humor que 
essa adaptação leva para o cinema”, afirma Chris Pine. “O que nos 
aproxima é que ele segue seu coração. É amigo, pai, marido, essas coisas
 todas antes de ser o chefe. Ou seja, sentimos muita segurança a seu 
lado. Ele me ensinou muito, e também é aberto para aprender”, acrescenta
 Zoe Saldana, que repete a personagem Uhura, com uma participação ainda 
maior do que no filme anterior. Nova no elenco, Alice Eve, intérprete de
 Carol, complementa: “Às vezes, trabalhávamos 18 horas e J.J. nunca 
aparentava cansaço. ‘Energia! Energia! Ação!’, é o que dizia na hora de 
filmar”. O que não deixa de ser uma outra forma de dizer “vida longa e 
próspera”. E ação!
* A repórter viajou a convite da Paramount.
Vilão rouba a cena
    
    
    
  
  
  
    
    
  
  
    
      Ainda que Chris Pine e
 Zachary Quinto se esforcem, Além da escuridão – Star trek tem um dono: o
 ator inglês Benedict Cumberbatch, mais conhecido como o 
personagem-título da ótima série Sherlock, nova versão da BBC para o 
personagem de Conan Doyle. Antagonista que consegue comunicar com a 
plateia melhor do que os heróis, faz de seu John Harrison figura mais do
 que obrigatória para os vindouros lançamentos. Falar sobre o vilão é 
entregar o ouro, pois a revelação de sua identidade vai, certamente, 
levantar palmas (como ocorreu na sessão no México) dos trekkers. Mas 
curiosos de plantão não terão dificuldade em saber mais dele nos 
spoilers que pipocam na internet.
A humanidade de Harrison é um 
dos trunfos de J.J. Abrams. “Gosto da ideia de que o vilão do filme seja
 alguém que venha do underground, um terrorista (o que detona a ação é 
um ataque que detona toda a frota). Voltando a 1966, quando Roddenberry 
lançou Star trek, ele criou uma série que também falava de política, 
cultura, raça, sexo, só que para aquele tempo. Então, a estratégia foi 
pensar: o que nos amedronta hoje? O que é vital nesse momento? Acho que é
 a ideia de nós versus eles, sem que eles sejam de um lugar diferente, 
mas que estejam entre nós. Então, em certos momentos, conseguimos quase 
simpatizar com o personagem, o que deixa a história mais interessante.”
A
 outra grande estrela do filme é a tecnologia. Infelizmente Belo 
Horizonte não conta com cinema Imax, que superdimensiona os efeitos de 
3D – muito melhores na primeira parte do filme, por sinal. Para o uso da
 tecnologia “com resolução absurdamente alta, você é engolido pelo 
filme”, nas palavras de Abrams, ele acompanhou de perto duas 
experiências: a de Brad Bird, seu colega na Bad Robot, que dirigiu 
Missão: impossível – Protocolo fantasma, e de Christopher Nolan, com 
Batman: o Cavaleiro das Trevas ressurge.
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