sábado, 25 de maio de 2013

Salário, sozinho, não é capaz de fixar médicos nas cidades

folha de são paulo
ANÁLISE
Salário, sozinho, não é capaz de fixar médicos nas cidades
MÁRIO SCHEFFERESPECIAL PARA A FOLHAApesar do crescimento exponencial do número de médicos no Brasil --de 60 mil em 1970 para 400 mil em 2013-- a presença e a fixação desses profissionais são prejudicadas por três principais fatores: má distribuição geográfica, "disputa" entre o setor privado e o SUS e dificuldade de formação adequada às necessidades de saúde da população.
Os dados foram apontados no estudo Demografia Médica no Brasil, divulgado no início deste ano, que fez um raio-x de quem são e onde estão os médicos do país.
Os brasileiros que moram nas regiões Sul e Sudeste contam, em média, com duas vezes mais médicos do que os das demais regiões.
E quem vive em uma capital conta com ao menos duas vezes mais médicos do que quem mora no interior.
Os profissionais também estão proporcionalmente mais concentrados na rede privada. Quem tem plano de saúde, o equivalente a 25% da população do país, tem quatro vezes mais médicos à sua disposição do que quem depende exclusivamente dos serviços públicos.
Além disso, mais de 180 mil médicos não têm especialidade, pois não há vagas de residência nem para metade dos recém-graduados.
Salário, sozinho, não fixa médicos. Condições de trabalho, plano de carreira, oportunidade de continuar a formação e qualidade de vida são fatores mais decisivos.
A ausência de médicos em pequenos municípios e as equipes desfalcadas na maioria dos serviços do SUS são problemas ligados à falta desses quesitos.
Pelas nossas projeções, já em 2020, o Brasil terá meio milhão de médicos formados por mais de 200 escolas.
Mas sem mudanças substantivas nos rumos do sistema de saúde, sem mexer nas raízes das desigualdades, novos médicos, brasileiros ou estrangeiros, irão, na primeira oportunidade, seguir a rota dos grandes centros, do setor privado e das especialidades lucrativas.
    Governo ignora médico formado na Bolívia
    Ministério da Saúde não tem planos para 'importar' profissionais do país, que tem 20 mil estudantes brasileiros
    Projeto para reduzir deficit de profissionais prioriza formados em países como Portugal, Espanha e Cuba
    FLÁVIA FOREQUEJOHANNA NUBLATDE BRASÍLIA"Santa Cruz de la Sierra é um pedacinho do Brasil", define Samara Coco do Amaral, 27, estudante de medicina na maior cidade da Bolívia.
    Ela faz parte de um grupo em expansão no país vizinho: brasileiros que migram para fazer a graduação --e que, na grande maioria dos casos, sonham em voltar para o país.
    A estimativa é de que 20 mil brasileiros estudem medicina na Bolívia atualmente, metade deles na cidade. Mesmo expressivo, esse grupo não está entre os prioritários na proposta do governo federal para "importar" médicos com diploma estrangeiro.
    O foco dessa iniciativa são profissionais de Portugal, Espanha e Cuba.
    "No programa que estamos construindo, está afastada a possibilidade de trazer médicos formados em países com menos médicos do que o Brasil [em proporção ao tamanho da população]", disse à Folha o ministro Alexandre Padilha (Saúde). Entre eles, está justamente a Bolívia.
    O fato é que a comunidade médica se mostra reticente em relação à qualidade dos cursos bolivianos. Entre os argumentos apontados estão poucas aulas práticas, a não exigência de processo de seleção ou de proficiência em espanhol para cursar as aulas e denúncias de compra de notas e venda de diplomas.
    Cônsul-geral do Brasil em Santa Cruz de la Sierra, o diplomata Colbert Soares reconhece que há "indicadores um pouco preocupantes" da rotina dos cursos, mas afirma que há expectativa dos brasileiros sobre a nova política.
    RETORNO
    Em geral, os brasileiros que decidem fazer o curso na Bolívia buscam, durante a graduação, transferir a matrícula para o Brasil. Quando não conseguem, tentam a revalidação do diploma.
    Estudante do quinto semestre de medicina da Udabol, Samara afirma que ainda não sabe se retornará ao Brasil, mas elogia a iniciativa do governo. "O curso de medicina é bom. Professor ruim tem em qualquer lugar, tudo depende do aluno." Natural de Rondônia, ela diz que um dos motivos que a levou à Bolívia foi o baixo custo da mensalidade: US$ 130.

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