sábado, 25 de maio de 2013

Coleção de livros traz ao Brasil obras ocultas dos países vizinhos

folha de são paulo
SYLVIA COLOMBO
DE BUENOS AIRES

A coleção Otra Língua, cujo primeiro pacote de títulos chega agora às livrarias, lançado pela editora Rocco, tem como objetivo trazer aos leitores brasileiros obras fora do cânone latino-americano.
Escritores modernistas, jovens e pouco conhecidos convivem com autores mais tradicionais, que comparecem com obras menos famosas.
Editoria de Arte/Folhapress
É o caso, por exemplo, do clássico argentino Roberto Arlt (1900-1942), que surge com suas "Águas-Fortes Cariocas", previsto para outubro deste ano.
O volume é uma compilação dos textos que escreveu no Rio de Janeiro, em 1930, quando viveu na cidade como correspondente de um jornal portenho.
Os textos, que mostram aspectos da vida carioca em um momento de transformação urbana intensa, são um rico retrato sobre o período na cidade brasileira e sobre as diferenças culturais entre Brasil e Argentina.
Na primeira fornada da coleção está "Asco", do salvadorenho Horacio Castellanos Moya. Trata-se de um desabafo literário em que o autor faz duras críticas a seu país a um interlocutor passivo.
A obra, de 1997, causou polêmica em El Salvador e colocou seu nome em evidência internacionalmente. Hoje professor de literatura nos EUA, Moya diz que considera que há um novo momento da prosa latino-americana.
"Antes, na época do boom latino-americano [anos 1960/70], havia a ideia de que o romance era uma espécie de organizador de tudo. Hoje não é assim, há mais diversidade, e a literatura latino-americana opera também em territórios mais íntimos", disse o autor àFolha.
Sáshenka Gutiérrez /Efe
O escritor salvadorenho Horacio Moya, autor de "Asco", lançado pela coleção Otra Língua
O escritor salvadorenho Horacio Moya, autor de "Asco", lançado pela coleção Otra Língua
Moya conta que o fato de ter crescido num país com um conflito interno muito grande impacta diretamente sua literatura. "Imigrei para o México, ali vivi dez anos, vendo de longe El Salvador sofrer as consequências da guerra. Quando voltei, quis atuar mais no jornalismo, sentia urgência em escrever", resume.
ROMPER BARREIRAS
Para o escritor brasileiro Joca Reiners Terron, organizador da coleção, o objetivo do projeto é romper a barreira do desinteresse histórico brasileiro pela cultura dos países do continente.
"E também mostrar que há uma linguagem mais inventiva, fora de esquemas tradicionais da literatura de língua inglesa, que vem sendo explorada justamente por esses escritores", conta.
Além do livro de Moya, sai agora também "Deixa Comigo", do uruguaio Mario Levrero (1940-2004).
Para os próximos meses, a coleção Otra Língua virá ainda com uma edição dupla do argentino César Aira, outra de seu compatriota Fabián Casas e uma da mexicana Guadalupe Nettel.
"Aos poucos se arma uma rede alternativa por meio da qual esses autores podem circular mais do que no passado", resume Terron.
"É uma nova movimentação, que está relacionada à internet, ao circuito de festivais e ao trabalho de pequenas editoras", completa.

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