segunda-feira, 17 de junho de 2013

Balas de borracha 'não letais', sim, podem matar

folha de são paulo

Gays, trabalhadores e até mães de manifestantes aderem ao protesto
DE SÃO PAULO
Os protestos contra o aumento das tarifas de transporte público devem ganhar reforço do movimento gay, de trabalhadores e até de mães de manifestantes.
As mães estão se mobilizando para comparecer hoje ao quinto ato que pede revogação do aumento das passagens do transporte público em São Paulo. A concentração será às 16h, em frente ao Instituto Tomie Ohtake.
O evento, criado no Facebook para organizar o encontro, contava com mais de 1.500 confirmações até a tarde de ontem. "Acho importante que não seja um movimento caracterizado como só de jovens", diz Noemi Jaffe, mãe de dois manifestantes.
A ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) também divulgou apoio à manifestação e convocou todos os associados e entidades filiadas a "somarem-se nas ruas nessa luta que também é nossa".
Metalúrgicos de São José dos Campos, trabalhadores rurais do interior paulista, operários da construção civil e funcionários do comércio também integram algumas das categorias que devem engrossar os protestos a partir da semana que vem.
A CUT (Central Única de Trabalhadores) e Força Sindical se posicionaram contra a repressão policial nas manifestações. Mas não está certo a participação de seus sindicatos no protesto de hoje.

Balas de borracha 'não letais', sim, podem matar

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RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO
Artigos em revistas médicas de vários países, baseados em experiências em todo o mundo, deixam claro: as "balas de borracha" são na verdade armas "menos letais", em vez de "não letais".
Elas produziram várias mortes e ferimentos incapacitantes em locais como a Irlanda do Norte, Israel/Palestina, Caxemira (Índia) e mesmo o Brasil. Obviamente, muito menos do que se fosse usada munição letal real.
Os estudos deixam claro duas coisas: os ferimentos ou mortes se devem tanto a um tipo de munição pouco recomendável como à falta de disciplina no uso.
Em vez de atirar no chão ou mirando nas pernas, a distâncias de mais de 40 metros, os policiais dispararam de perto contra o tronco ou a cabeça, contrariando as "regras de engajamento" da polícia.
As tais balas de borracha -que hoje também podem ser de plástico- foram introduzidas pelos britânicos durante o conflito na Irlanda do Norte em 1970. Eram uma espécie de "cassetete disparado", feito de borracha com 15 cm. Depois vieram balas menores, disparáveis de fuzis comuns com carga menor de explosivo propelente.
Os britânicos foram os maiores usuários da história. Entre 1970 e 1975 foram disparados 55 mil dessas balas na Irlanda do Norte.
Uma pessoa morreu a cada 16 mil disparos; um em cada 800 teve ferimentos sérios, e um em cada 1.900 teve lesões incapacitantes.
PERIGO
Os israelenses foram grandes usuários desse arsenal teoricamente "não letal" durante os distúrbios palestinos conhecidos como Intifada.
Mas suas balas, menores, com núcleo de metal, foram mais perigosas. Mataram em média, dez vezes mais pessoas do que as balas de borracha britânicas na Irlanda do Norte. De 1987 a 1993, foram mais de 20 mortos.
De calibre menor, as balas israelenses também eram bem mais perigosas se atingissem o peito, a cabeça e, principalmente, os globos oculares. Cegueira é um risco, mas já houve caso de bala de borracha que atingiu o globo ocular em um ângulo letal, fazendo a bala penetrar o cérebro e matar na hora.
Um estudo feito pela equipe de João Rezende Neto, da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), publicado na revista médica "World Journal of Emergency Surgery", revelou um caso de penetração do peito por bala de borracha que precisou de cirurgia para ser retirada, e tratar dano ao pulmão.

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