sexta-feira, 7 de junho de 2013

Eduardo Almeida Reis-Felicidade‏

Certas palavras e frases, que podem e devem ter curso nos bordéis e nas marchinhas carnavalescas, não congeminam com o jornal impresso


Eduardo Almeida Reis

Estado de Minas: 07/06/2013 

Valadarense como Eike Fuhrken Batista, o cardiologista Cláudio Domênico foi criado em Além Paraíba, estudou medicina em Juiz de Fora e fez residência no Rio, onde tem consultório. Lançou recentemente o livro Te cuida, de muito sucesso, em que ensina como cuidar do coração. Na entrevista que deu ao jornalista Roberto D’Ávila, reprisada noite dessas, cuidou de diversos aspectos de sua especialidade médica e abordou o tema felicidade.

Não dá para resumir neste suelto entrevista de uma hora, mas ao tratar de felicidade o festejado cardiologista esqueceu-se do fator principal: trabalhar naquilo de que se gosta. Considerando que todos precisamos trabalhar, sendo possível fazer aquilo de que se gosta a felicidade é permanente, até porque nunca precisamos trabalhar.

Constatação que não é minha, mas de Confúcio, também conhecido como K’ung Ch’iu ou K’ung Chung-ni, nascido em Tsou, pequena cidade no estado de Lu, hoje Shantung, em 551 ou 552 a.C. Seu pai Shu-Liang He, magistrado e guerreiro de certa fama, tinha 70 anos quando se casou com Yen Cheng Tsai, de 15 aninhos, mãe de K’ung Ch’iu.

Tiveram 11 filhos e Confúcio foi o mais novo, o que me faz supor que seu pai andasse pelos 81 anos quando o filósofo nasceu; defuntou em 479 a.C. E aqui, depois do brilhareco matrimonial do velho Shu-Liang He, retorno ao cardiologista Domênico para falar de sexo, assunto que não abordou em seu livro.

Diz ele que o sexo é muito importante para o coração, tanto pelo exercício como pelo prazer, mas é preciso tomar cuidado. Com o sucesso dos comprimidos azuis, muitos senhores aposentados voltaram à ativa. Antes estavam na situação dos tenistas de 70 anos, que jogam tênis em duplas e em ritmo setentão, como vemos nos muitos grupos de tênis aqui mesmo na cidade de Belo Horizonte, capital de todos os mineiros.

Esporte saudável, que termina em vinho tinto na varanda próxima da quadra ensaibrada. O problema dos comprimidos azuis, diz o cardiologista formado na gloriosa UFJF, é o tenista se entusiasmar e resolver disputar a partida com uma jovem de 20 anos. Não há desfibrilador que dê conta.


Declarações
Leio nos jornais: “Maradona se diz melhor que Messi e Pelé”. Direito dele, Diego Armando Maradona, com o qual ninguém é obrigado a concordar. Aí é que está: o louvor de si mesmo é assegurado a cada um de nós pela Constituição. Concordar ou não também é direito constitucional. Idosa política petista tem dito cada tolice, que vou te contar. Já o seu segundo casamento foi um espanto, se bem que ecológico, ao juntar o parasita com a trepadeira.

Direito dela, velha senhora. Receio que, no seu caso, as tolices sejam consequência da acomia que a acomete de uns tempos a esta parte. Que tal? Gostaram do jogo de palavras? Achei supimpa: acomia que acomete. Verbo acometer, no sentido de “ir na direção de” e acomia, substantivo feminino que entrou em nosso idioma no ano de 1871: “falta ou queda de cabelos”. Foto recente, imensa e em cores, publicada nos jornais, mostrou-nos que a senhora de 68 anos está ficando careca. Não que os cabelos fossem responsáveis pelas ideias que nunca teve, nem tiro de sua acomia ilações precipitadas: pode ter sido simples coincidência. Ou coerência com a sua imbecilidade congênita, isto é, inata, natural, infusa.


Exageros
Sem ser pudico, muito antes pelo contrário, aliás, acho que o pessoal está exagerando. Palavrão não é modernidade. Certas palavras e frases, que podem e devem ter curso nos bordéis e nas marchinhas carnavalescas, não congeminam com o jornal impresso. Digo mais: são desnecessárias. Por que épater le bourgeois com o calão, se o burguês já se espanta com tantas absurdidades que lê nos jornais e vê na telinha? Conhecido jornalista, que tem acesso diário a diversos meios de comunicação, grandes jornais, revistas e televisão, “enriqueceu” o texto de uma crônica com uma frase de chulice inadmissível. Dia desses, já havia perdido suas cadelas com “sinomose”, que deve ser cinomose chinesa, considerando que o antepositivo sino-, do latim medieval Sina “China”, grego Sína, em Ptolomeu (c90-c168), provavelmente do árabe Sin, em compostos do tipo afro-, cuja lógica lhe é totalmente aplicável.

Claro que não sei e nunca soube isso que transcrevo do Houaiss, mas sei que a cinomose é virose de grande letalidade que ataca cães jovens e outros carnívoros, afetando os órgãos respiratórios, com febre e secreções purulentas, e também o sistema nervoso.

Não só ele, jornalista conhecido, como também vários outros profissionais de nomeada devem achar que palavrão é bonito. Errores, tudo bem, são perdoáveis, mas palavrão é dispensável.


O mundo é uma bola
7 de junho de 1494: Portugal e Espanha assinam o Tratado de Tordesilhas, que divide o Novo Mundo entre eles. Em 1904, a Noruega declara sua separação da Suécia. Ambos os países continuam vivendo bem naquele frio dos diabos. Em 1929, com a assinatura do Tratado de Latrão, a Cidade do Vaticano se torna um Estado independente.

Hoje é o Dia Internacional da Liberdade de Imprensa.


Ruminanças
“A imprensa é a artilharia do pensamento.” (Antoine de Rivarol, 1753-1801) 

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