sábado, 1 de junho de 2013

Twitter não quer competir com a mídia

O presidente do Twitter, Dick Costolo, disse durante conferência na Califórnia que não quer competir com a mídia tradicional, mas sim fazer parcerias. Nessa linha, a empresa lançou o TV Ad Targeting, que permite sincronizar campanhas de TV com tweets promocionais.

folha de são paulo

Twitter deve se posicionar como principal mídia social de divulgação de notícias


 
MICHAEL WOLFF
DO "GUARDIAN"

O Twitter, que começou como uma ferramenta para compartilhar postagens de blogs abreviadas, agora chegou também a grande parte da imprensa. Esse pode ser o avanço mais significativo para a divulgação de informações desde, se não o linotipo e o telégrafo, ao menos, a transmissão de TV via cabo.
A cada nova notícia, a presença e a influência do Twitter avançam. Ele é um "termômetro" em tempo real e, para cada vez mais consumidores, é um local de notícias passivas ou de bastidores, como as rádios locais foram um dia, mas em uma escala internacional.
Isso representa um mar de mudanças para a mídia tradicional, o levante de uma plataforma nova e central, mas talvez não seja essa evolução que o Twitter esperava. entretanto, a imprensa como um todo está analisando o caso.
Os anunciantes se tornam cada vez mais resistentes não só aos jornais, mas também ao mercado de notícias em geral. O Twitter poderia ter uma proposta mais atraente se tivesse se tornado uma ferramenta de microblog para interesses especializados e um setor de nicho para escritores, que chamam mais a atenção de anunciantes devido ao público segmentado.
Mas o Twitter acabou no setor de compartilhamento de conteúdos jornalísticos. E o mercado midiático pode ser muito bom para quem se posiciona como líder, como um canal necessário e confiável --senão o único.
A direção do Twitter está clara: embora ainda incipiente, ele é um ponto focal para a distribuição de notícias. O site vem se tornando o primeiro local em que as pessoas procuram informações.
Quase todos os profissionais de imprensa buscam dados no Twitter --tanto os funcionários, quanto as próprias empresas jornalísticas, percebem a funcionalidade da ferramenta. Agora, o microblog precisa ganhar dinheiro com isso. Entretanto, o caminho não é criar conteúdos próprios. A companhia fará isso aumentando sua dominância e influência como redistribuidor de notícias.
Kimihiro Hoshino -11.mar.11/AFP
Twitter deve exercer uma dominância desproporcional sobre os profissionais de imprensa
Twitter deve exercer uma dominância desproporcional sobre os veículos de comunicação
Aqui encontramos pontos de inflexão entre a antiga e a nova mídia. A imprensa antiga --seja em se tratando de músicas, livros ou programas de TV--, desesperada para seguir sua audiência, se alinha com os novos distribuidores digitais, como iTunes, Amazon e Netflix. Mas a questão é que, diferentemente da mídia de outros tempos, um distribuidor em pouco tempo chega a uma posição singular, sem competidores reais.
Ser um distribuidor primário significa ter um controle extraordinário. Quer dizer que não há opções. Não há outra forma de atingir o mercado.
O futuro financeiro do Twitter não está nos tuítes isolados de internautas, mas no relacionamento com os principais veículos de imprensa e produtores de conteúdo. É dessas organizações que o site quer se tornar uma ligação necessária ou até mesmo um "parceiro".
Na semana passada, o microblog anunciou uma série de acordos com produtores de conteúdos, como Time Inc, Bloomberg, Discovery, Vevo, Vice Media, Condé Nast Entertainment e Warner Music Group, em um programa chamado Twitter Amplify, que, basicamente, junta anunciantes e empresas sobre o guarda-chuva do Twitter.
O Twitter avança em participação, alcance e velocidade de notícias, transformando a forma de divulgação de conteúdos. Mas, nesse cenário, a empresa tentará usar essa nova realidade a seu favor. Esse não é um curso conspiratório ou antinatural: todas as principais plataformas digitais devem exercer uma dominância desproporcional sobre as indústrias que mais necessitam --esse é o objetivo.
Com a web repleta de investidores e membros de conselhos compartilhados (investidores-chave do Facebook são também do Twitter; Jeff Bezos, da loja virtual Amazon, pessoalmente investe no microblog há muito tempo), a indústria da tecnologia em si não é propícia para oferecer um competidor para o Twitter e uma alternativa para o mercado editorial.
O Google Reader, que tem função parecida com a do Twitter atualmente, será descontinuado no dia 1º de julho.
O confundador da rede de microblogs, Ev Willians, deixou a gerência ativa da empresa em 2010 e desde então desenvolve o Medium, uma plataforma com o mesmo estilo do Twitter, mas que oferece postagens mais longas, como um sistema de blogs. Esse é um potencial competidor ao menos para o Twitter, que pode futuramente até mesmo comprá-lo.
Portanto, fica a cargo das companhias de comunicação a produção de uma alternativa para sua própria obsolescência, subordinação e perda de controle da ferramenta de divulgação. O motivo pelo qual grandes veículos de imprensa, como o "New York Times", estariam pensando em algo diferente disso desafia a lógica.
Mas, indubitavelmente, as companhias produtoras de conteúdos não têm nem a vontade, nem a fórmula alternativa para o Twitter.
De certa forma, o microblog lembra muito uma impressora: oferece uma função necessária. Uma impressora cheia de poderes que está unicamente posicionada para influenciar o que você diz, como você dirá e tendo seu próprio nível de participação de lucros. Mas há muitas impressoras e nenhuma delas é superpoderosa. Haverá apenas um Twitter.
Tradução de LUCAS AGRELA

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