quinta-feira, 11 de julho de 2013

ARTE SACRA » Escultura para o papa sai das mãos de mineiro Sandra Kiefer‏



Estado de Minas - 11/07/2013

Desde que despontou como o autor da imagem de Nossa Senhora Aparecida que vai presentear o papa Francisco na visita ao Brasil, durante a Jornada Mundial da Juventude, o escultor Paulo Henrique Ferreira Pinto, de 61 anos, o Sôdem, convive com um misto de felicidade e aflição. Natural de Campanha, no Sul de Minas, terra de tradicionais santeiros, Sôdem não entende o porquê de ter sido o escolhido entre tantos colegas. “Acho que fui abençoado por Nossa Senhora Aparecida. Nunca deixei de ter fé e de rezar para ela. Aprendi com minha mãe, que herdou a devoção da minha avó”, diz.

Outra explicação possível pode ser a simplicidade do artista, que há 40 anos fabrica as mesmas imagens no pequeno ateliê, na companhia exclusiva da mulher, Dumara Moreira Prock, de 44. “Penso que a simplicidade está em alta com a eleição do papa Francisco. A humildade dele está cativando o mundo”, reflete ele, que passou a ser assediado por equipes de televisão, rádio e jornais. “Estou passando por este momento bom e meu nome vai andar. Poderia ficar imponente e contratar um tanto de empregados, mas vou apenas continuar na minha lida e atender conforme eu puder. A única diferença é que estou mais feliz”, diz.

Com 38 centímetros, em cedro, a imagem já está nas mãos de dom Darci Nicioli, bispo auxiliar do Santuário de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida, São Paulo. “Convivo com ele desde que ele era padre e as coisas foram acontecendo naturalmente. Eu levava as imagens para ele e de vez em quando ele dava notícia de que havia doado a santa a algum bispo na França ou em Portugal. Agora, me surpreendi quando disse que seria dada ao papa”, conta ele, que leva em média dois dias de trabalho na escultura. Nesta imagem em especial, gastou três. “É a mesma santa, sabe, mas caprichei um pouco mais nos detalhes”, admite.

Sôdem e outros artistas da cidade aprenderam a arte de esculpir imagens com um alemão que vivia na cidade. Uma vez por mês, visita o santuário levando as peças para serem comercializadas nas barracas, de diversos tipos e tamanhos. Não começa o trabalho, porém, sem passar antes aos pés da santa, pedindo proteção. Ainda não tem certeza se vai conseguir ver o papa, pois as encomendas estão acumuladas. Ele e a mulher chegam a virar a noite trabalhando. “Mas, no dia em que a gente está meio sem inspiração, junta as varas e vai pescar”, completa.

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