segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Eduardo Almeida Reis-O abade está certo‏

O abade está certo 
 
Nos restaurantes, o carro pega na instalação e na reposição de estoque. Você vende bem num fim de semana e cai na real ao fazer a reposição da segunda-feira 
 
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 06/01/2014




O Colégio São Bento, di-lo o Enem, é o melhor do Rio. Dom Felipe da Silva, alagoano, técnico agrícola, é o abade do Mosteiro de São Bento há um ano e exclui a ideia de admitir meninas em seu colégio, informando que os alunos não têm queixas: “Eles são felizes aqui. São muito amigos. Não pensam em meninas”.

Realmente, o mundo caminha no sentido de meninos que não pensam em meninas e de meninas que não pensam em meninos, como previ (tenho testemunhas) há mais de meio século, ao defender a tese de que homem deve casar com homem e mulher com mulher. Baseei esse alto philosophar no seguinte: não há homem que aguente as oito vezes que sua mulher troca de vestidos e sapatos, perguntando se está bem, antes de sair para uma festa. Como também não há mulher que entenda marido que se levanta de madrugada para assistir às corridas de Fórmula 1. São duas situações entre os muitos descompassos dos casamentos à moda antiga, aqueles de homem com mulher.

No casamento unissex, nada impede que alguns homens procurem mulheres fora do matrimônio e que mulheres, felizes na convivência com suas companheiras, procurem homens para curtir as tardes nos motéis.

Volto ao abade Felipe da Silva para constatar que os meninos do São Bento, no tempo de antigamente, pensavam em meninas. Tenho bom e velho amigo, cristão-novo, que foi aluno do São Bento e desde então não pensa em meninas: se alimenta delas, desde que maiores de idade. Não posso entrar em detalhes, porque sei que sua mulher me lê, mas o homem é fera. Não pode ver saia e o que nela se contém, como também não pode ver calça comprida, desde que vestindo senhoras e senhoritas.

Recuerdos


O dia começou com a notícia de que o Sr. Saatchi, 70, foi visto num restaurante de luxo tentando esgoelar sua mulher, Nigella Lawson, 54, a linda inglesa, de inglês perfeito, que dá aulas de culinária na tevê. À noite tive o Boni e o Ricardo Amaral, no Jô, caitituando o guia de restaurantes que acabam de publicar.

Claro que sonhei com restaurantes. Se sonhasse com o meu teria um pesadelo, mas sonhei que estava instalando um estabelecimento dedicado a servir refeições, a inauguração seria naquele mesmo dia e ainda faltava comprar uma porção de coisas.

Aí é que está: nos restaurantes, o carro pega na instalação e na reposição de estoque. Você vende bem num fim de semana, acha que vai ficar rico e cai na real ao fazer a reposição da segunda-feira. Num acesso de loucura, como já lhes contei, comprei churrascaria e posto de gasolina em Itaipava, às margens da BR-3, hoje BR-040.

Posto inviável, porque na saída de uma curva muito perigosa. Churrascaria horrível por culpa do novo dono, que se perguntava: “Como posso ter um restaurante em que não gosto de comer?”. Havia fregueses que gostavam e vinham do Rio para almoçar os meus churrascos. Um deles, diretor de arte do grupo Bloch, trazia sua família todos os sábados.

Ao contrário do que se possa imaginar, restaurante é o tipo do negócio muito complicado. Isso explica o número espantoso de estabelecimentos que abrem e fecham sem deixar saudades ou notícias. O meu foi transformado em funerária. Fazia sentido: a comida era de matar e a curva, perigosíssima.

Trombadas

No programa Linha de chegada, entrevistado pelo jornalista Reginaldo Leme, Nelson Piquet falou da trombada que deu na curva Tamburello, onde mais tarde morreu Ayrton Senna. Em seu acidente, Piquet bateu de lado com a cabeça e contou ao jornalista que nunca mais foi o mesmo, passou a dormir mal, perdeu como piloto uma fração de segundo por volta.

Mal comparando, é o que acontece com um sujeito que passa dois ou três dias numa UTI. Se o piloto, no acidente, talvez não tenha tempo de pensar na morte, o paciente de UTI tem tempo de sobra durante e depois. E a sensação, creia o preclaro leitor, não é tão agradável como pensar em uma semana de férias em Fortaleza almoçando e jantando lagostas.

Mesmo que a lagosta não me ame, como disse o empresário Olacyr Moraes, ex-rei da soja. Idoso, sempre cercado por belas mocinhas, quando um repórter perguntou: “Dr. Olacyr, o senhor acha mesmo que essas garotas gostam do senhor?”, o empresário respondeu: “Meu amigo, eu gosto muito de lagosta, vou a um restaurante e peço um prato dessa iguaria. Eu não pergunto se a lagosta gosta de mim. Simplesmente como e pago”.

O mundo é uma bola

6 de janeiro de 353: último ano em que é celebrado pelos católicos o nascimento de Cristo no dia 6. Os ortodoxos continuam a comemorar nesta data. Em 1502, descoberta a Baía de Angra dos Reis pela expedição de Gonçalo Coelho. Recebe o nome em homenagem à visita dos Três Reis Magos ao menino Jesus, comemorada nesse dia.
Belchior, Melchior ou Melquior, Baltazar e Gaspar não seriam reis necessariamente três, mas sacerdotes da religião zoroástrica da Pérsia, ou conselheiros. Diz-se três pela quantidade de presentes oferecidos. Não há relatos bíblicos sobre o nome dos magos.
Hoje é o Dia de Reis.

Ruminanças


“A filosofia é o exílio voluntário entre montanhas geladas” (Nietzsche, 1844-1900).

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