domingo, 5 de janeiro de 2014

FABRÍCIO CARPINEJAR - Amor-sequestro e amor-remanso

Zero Hora 05/01/2014

Se você se afastou dos amigos, dos filhos, da família, é bem possível que esteja vivendo um amor-sequestro.

Não está numa relação, mas num cativeiro, sem contato com o mundo externo e apartado de uma segunda opinião.

Seu paradeiro é desconhecido, não sai do quartinho escuro, não troca ideias com a roda de colegas, não avalia sua condição, apenas se alimenta das sombras do passado e do pensamento.

Ficará tão sozinho, tão distanciado de sua rotina anterior, que não terá mais uma vivalma para pagar o resgate.

O isolamento é o termômetro da falta de felicidade.

O amor-sequestro consiste em devotar suas energias exclusivamente para sua companhia e esquecer o elo das demais amizades. É criar uma simbiose com o sequestrador (namorada ou namorado), a ponto de discutir por qualquer coisa, por qualquer problema.

Você passará mais tempo tentando salvar o relacionamento do que aproveitando o relacionamento. Enfrentará uma situação de pânico, contando os dias, angustiado com a ausência de perspectiva e de estabilidade. Só falará do mesmo assunto: o tratamento injusto que recebe.

Não há como amadurecer com o amor-sequestro. Ninguém cresce pressionado. Ninguém cresce emparedado. Ninguém cresce cobrado. Ninguém cresce ameaçado do fim.

No amor-sequestro, nada é suficiente. Pode oferecer seu máximo de ternura, que será pouco, o máximo de gentileza e será pouco, o máximo de entrega e intensidade e será pouco.

Quando os pedidos são insaciáveis, você não está sendo amado, demonstra que seu par apenas espera sua falha para humilhar e expor a superioridade.

Tornou-se refém das brigas e da insatisfação do outro. Buscará agradar, e decepcionará com frequência. Buscará reverter a situação, e somente agredirá de volta.

No amor-sequestro, deixa-se de ser inteiro para ser fragmentado, parcial, com dificuldades de resolver o trabalho e dar continuidade para a vida social. Nunca sobra folêgo para novas tarefas e compromissos.

O ideal é o amor-remanso. Ter paz para errar, pensar no erro e retribuir com atitudes afirmativas. Experimentar um relacionamento com a sensação de contar com todo o tempo para alinhar os passos (entender para aprender). Pois a solução dos problemas não acontece com hora marcada.

Os amigos e a familiares se manterão próximos, aconselhando, amparando, valorizando o enlace. Tem chance de sentir saudade, não estará sufocado e asfixiado num mesmo lugar, não se enxergará culpado ou em desvalia. Será admirado pela sua lealdade, por aquilo que você é. Por mais que não esteja certo, sua namorada ou seu namorado estará com você, ao lado, esperando que perceba a verdade, respeitando seu ritmo.

Não há maior liberdade do que a tranquilidade. Desfrutar de calma para se conhecer e assim se doar melhor.

A eternidade está no presente, não no futuro. Que seja eterno porque confiamos.

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