quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Fernando Brant - A grande bolada‏

A grande bolada

Fernando Brant
Estado de Minas: 01/01/2014


A única grande bolada que recebi foi com bola mesmo. Chutada por um profissional amigo, a redonda bateu em cheio em meu rosto e me abalou um dente. A que todos nós gostaríamos de receber nunca vem, mesmo que façamos de vez em quando uma aposta na loteria – que, sendo de empresa governamental, sempre causa certa desconfiança, com prêmios que se acumulam e acabam saindo para alguém de uma pequena cidade que nem existe no mapa. A mão grande dos governantes federais é insaciável, capaz dos mais variados artifícios para esvaziar nossos bolsos do fruto de nosso trabalho suado. Todo o cuidado é pouco e toda suspeita vale.

As boladas não são para nós, cidadãos, mas as porradas sim. Leio as declarações do coronel Sarney sobre os quase 60 assassinatos e os estupros na penitenciária de São Luís: “A violência ficou restrita aos portões da prisão”. Como se a capital do estado que ele e os seus governam há quase 50 anos não fosse exemplo de miséria, insalubridade, falta de educação e crueldade. Este é o aliado maior dos antes puros, dos defensores da justiça e dos pobres até que as portas dos palácios se abriram para eles.

Outro aliado cara de pau viaja de jato para implantar cabelos no Recife. Passeio pago com o que nos tiram diariamente com impostos, taxas e burocracia. Mais porrada, esta atingindo os músicos e compositores brasileiros: o Senado e a Câmara, irresponsavelmente, passando por cima de qualquer discussão, aprovaram em junho uma lei nefasta que a presidente sancionou. No momento, estamos discutindo a questão, democraticamente, no Supremo. O golpe da aprovação da lei foi apenas um capítulo a mais na série de agressões que os autores vêm recebendo desde que o atual partido governista se instalou em Brasília, há quase 12 anos.

Não ouvi nem li nenhuma palavra do Lula, quando candidato, sobre o propósito de nos perseguir. E não acredito que essa tenha sido ideia dele. Desde os primeiros momentos de seu primeiro mandato, porém, dentro do ministério que deveria cuidar da cultura se instalou um pessoal que parece odiar os criadores de canções. Queriam passar os direitos dos músicos para o pessoal do cinema, mas como, ao mesmo tempo, desejavam mesmo é destruir a grande empresa de comunicação do país, tiveram de recuar. Passaram a falar em flexibilizar os nossos direitos, entregá-los para as telefônicas. E por aí seguiram. Como havia alguns antropólogos nesse grupo, cheguei a pensar que o que eles tinham em mente era nos exterminar para nos estudar, conhecer essa nossa gente estranha e rara.

Sei que a briga continua e que este será um ano importante. Não quero bolada e muito menos porrada. Quero ter reconhecidos os meus direitos. Paz e harmonia para continuar criando canções.

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