quarta-feira, 28 de maio de 2014

FAMÍLIA » Para a mãe, caçula parece menor

Vilhena Soares

Eestado de Minas: 28/05/2014



Um experimento feito na Universidade de Tecnologia de Swinburne, na Austrália, concluiu que as mães tendem a enxergar seus filhos caçulas menores do que realmente são. O pesquisador Jordy Kaufman e colegas pediram para que 474 mães estimassem a altura de seus filhos mais novos e mais velhos (com idade entre 2 e 6 anos), marcando-a em uma parede branca. Em média, as mães disseram que os caçulas eram 7,5cm mais baixos do que realmente eram. Já ao tentar adivinhar a altura dos mais velhos, as voluntárias chegavam muito perto do comprimento real. “Nossa investigação potencialmente explica por que o ‘bebê da família’ nunca supera esse rótulo”, diz Kaufman.

O professor de Swinburne acredita que os resultados podem ser justificados pela maneira como os pais encaram o nascimento dos filhos. “A ilusão provavelmente decorre de um certo tipo de conexão emocional com o filho mais novo, o que leva os pais a ignorarem sinais de que eles estão ficando mais velhos e maiores. Usamos altura como uma medida, porque é fácil de verificar a precisão. Mas é possível que a percepção de outros aspectos também sejam influenciados pela ordem de nascimento”, explica.

Kaufman conta que a ideia do estudo partiu dos comentários de alguns pais que se diziam surpresos com a aparência do filho mais velho, que parecia ter crescido de repente após a chegada de um novo membro à família. “Você pode encontrar pessoas que citam isso em posts na internet, mas não vi nada em uma revista científica sobre o assunto”, destaca.

Evolução Para João Reis, professor de psicologia do Centro Universitário Iesb de Brasília, a percepção distorcida pode ser um traço evolutivo que faz com que os adultos deem mais atenção às crianças pequenas. “Ela aumenta a chance de a mãe oferecer mais cuidado ao filho mais novo”, explica. “Isso também é importante para que o filho mais velho possa ajudar na sobrevivência da família, pois, antigamente, requisitos como força física e altura eram fundamentais na defesa de grupos”, completa.

Na opinião de Diva Maciel, professora colaboradora da Universidade de Brasília (UnB), a pesquisa tem um viés interessante, mas outros pontos devem ser levados em conta. “Temos questões culturais fortes. Sabemos que pessoas do Ocidente têm mais essa característica, e pode ser que isso não ocorra em outros ambientes. Fora que a personalidade da mãe e dos filhos também conta. Há crianças mais precoces que outras”, destaca. A especialista acredita que a continuidade do estudo pode trazer nova compreensão sobre as dinâmicas familiares. “ Sem dúvida, a pesquisa pode ajudar a área de pesquisa comportamental caso se desdobre em outros trabalhos.”

Jordy Kaufman prevê novas etapas para o trabalho. “Uma delas buscará examinar a idade aparente. E outra vai avaliar de que maneira o cérebro das mães responde a imagens de crianças com diferentes tamanhos. Também estou interessado em saber como os pais percebem seus animais de estimação antes e depois que um primeiro filho nasce”, conta. (VS)

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